Jornal do Brasil: uma bomba de efeito retardado

O jornalismo brasileiro mais uma vez se vestiu de luto. Não bastasse no ano de 2009 o STF dar um veredicto totalmente fora do bom senso comum em que negara a obrigatoriedade do diploma acadêmico de jornalismo para a militância da profissão, coisa que a Constituição em seu texto exige, no dia 1 de setembro de 2010, depois de 119 anos de existência o Jornal do Brasil deixa de circular para sempre.

A morte do JB é fruto de uma incompetência administrativa, com certeza cheias de erros, não é possível que uma empresa jornalística de tamanha envergadura pudesse causar prejuízos a seus proprietários. Se assim fosse, os demais veículos de comunicação do país, também entrariam em estado de insolvência.

Tudo isso tem um processo histórico, é um conjunto de fatores que não é difícil apontar os réus que culminou com a enfermidade do jornal, internando-o em um CTI e por último atestando o seu óbito.

O Jornal do Brasil teve uma grandeza histórica muito grande para o povo brasileiro, pois foi fundado por Rodolfo Dantas, tendo como colaboradores nomes ilustres da nossa literatura e intelectualidade como; o escritor e um dos idealizadores da Academia Brasileira de Letras José Veríssimo, o político e abolicionista Aristides Spínola, o jornalista Ulisses Viana, o Barão do Rio Branco, o escritor Eça de Queiroz, o advogado Rui Barbosa, tudo esses intelectuais trabalharam no inicio da formação do JB, imaginem dentro desses 119 anos quantas personalidades escreveram para o impresso?

Por toda essa importância, o jornal deveria ter um tratamento diferente, embora sendo uma empresa privada, ele representou muito na informação do nosso povo, passou por vários regimes despóticos mas nunca deixou de ter o seu editorial independente. Por esse comportamento foi perseguido pelo regime militar de 1964.

Uma das razões que resultou na falência do jornal foi a retirada de toda a publicidade do governo militar, que não estava conformado com as críticas que o JB publicava em suas páginas, não satisfeito a ditadura em vigor fez ameaças a empresa privadas, caso elas continuassem a publicar campanhas no Jornal do Brasil.

Um impresso ele vive dos comerciais em suas páginas, isso é o que sustenta uma empresa de comunicação, no momento que faltar anunciantes, ele conseqüentemente vai quebrar e foi o que acontecei com o a empresa.

Associado a isso, veio a incompetência administrativa, a inaptidão de gerenciar uma empresa que já não tinha mais um caixa ativo, acumulando várias crises financeiras, a ponto de sair de sua sede na Avenida Brasil, uma via de grande importância no Rio de Janeiro.

O Jornal do Brasil ficou em uma condição tão ruim que se instalou em um edifício na Av. Rio Branco nos últimos quatro andares e lá faltava de tudo, até um simples grampeador.

O Jornal foi comprado pelo empresário baiano Nelson Tanure, que comprou a Gazeta Mercantil e como o JB também foi a falência.

Sua proprietária a condessa Maurina Pereira Carneiro, foi o eixo de toda a revolução editorial do jornal, cujo design gráfico foi exemplo de diagramação em todas as escolas de comunicação do país.

Muito se debateu sobre uma formula para salvar o periódico, com jornalistas, intelectuais, políticos mas infelizmente não teve nenhum remédio que pudesse dar vida ao mesmo. Falou-se até na compra por um dos maiores empresário do mundo e bem sucedido financeiramente, mas ele logo se negou, dizendo que o seu ramo não é comunicação, mas que tinha uma grande simpatia pela empresa em questão.

Uma dessas formulas, saiu a idéia de o governo federal tombar o jornal pelo seu conteúdo histórico, mas o governo não se manifestou. O que seria mais provável seria a compra por um empresário do ramo, fazendo parcerias com bancos privados. Segundo Tanure, a dívida do jornal está na ordem de cem milhões de reais e as vendas subtraindo. Fruto de uma má gestão por parte do empresário.

Segundo entrevistas, Tanure tentou vender o jornal mas não encontrou compradores e partiu para a morte do periódico e incorporá-lo cem por cento digital, baseado em uma pesquisa com os leitores.

Com a má administração, segundo gestores da área, o JB digital não durará com saúde por muito tempo, pois, seus dias respirando web estariam contados para serem publicados nas páginas de um livro de história recente, que teve um berço no outono de 1891 e um caixão no inverno de 2010.

Les oiseaux
Enviado por Les oiseaux em 09/09/2010
Reeditado em 10/09/2010
Código do texto: T2488184
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