O bullying não é coisa nova
O BULLYING NÃO É COISA NOVA
Bullying é uma expressão nova para um fato velho. O termo inglês é utilizado para descrever a violência física praticada por um indivíduo ou grupo. Brasileiro gosta muito de palavras estrangeiras para nominar fatos que poderiam ser descritos no português, como marketing, pay-per-view, etc. Existe a palavra em nossa língua, mas usam o estrangeirismo porque é chique. Bully (deriva de bull, touro) designa um indivíduo brigão.
O bullying sempre existiu, sem a repercussão midiática e psicossocial que tem hoje. Eu vivi minha adolescência em Porto Alegre, e posso testemunhar a existência de bullying naquela época. Na década de 50 eu estudei em dois colégios de primeira, Dores e Anchieta, e não havia dia em que não brigávamos na saída (e às vezes no recreio) com colegas. As escolas designavam pessoas para vigiar as saídas, mas mesmo assim, muitas vezes a “pauleira” era inevitável. A gente batia e apanhava, como consequência das brigas. Cansei de chegar em casa de rosto amassado, olho roxo e não me lembro de meu pai ir fazer queixa a alguém. O mais que acontecia era a colocação de gelo ou mercúrio cromo. E estava resolvido o problema. Com as nossas “vítimas” ocorria o mesmo. Ninguém apareceu lá em casa para reclamar. Hoje as famílias são super-protetoras, contra os professores e o mundo.
Havia as “quadrilhas”, que hoje chamam de “bonde”. O grupo da “Fernando Machado” brigava com o da “Demétrio Ribeiro”: os confrontos eram sérios, só não havia drogas. Mas no domingo, jogávamos futebol juntos e íamos namorar as garotas no cinema Marabá. Hoje, quando nos encontramos damos boas risadas das tropelias que embranqueceram os cabelos de pais e professores.
Acho que o fato hoje é fruto de um zeitgeist, levado demais a sério pela mídia, que na falta de coisa mais consistente se envolve nas brigas de adolescentes. A violência é institucionalizada na sociedade e boa parte da mídia dá publicidade por que violência vende e dá audiência. As brigas dos garotos do meu tempo não tinham publicidade nem providências paternas ou das escolas. Nem os pais acusavam a escola e vice-versa. E tudo se aquietava.
Meu pai nunca andou armado. Hoje, o motorista interpela, no trânsito, um desafeto, de arma na mão; o vizinho discute com o outro com o dedo no gatilho, e as mortes acontecem de forma banal e alarmante. É essa violência, junto com a notoriedade, que exacerba o comportamento violento dos jovens. Ouvi um jovem dizer que iam fazer uma pancadaria para ver se viravam notícia, com textos e fotos. A juventude é a caixa de ressonância de uma sociedade desestruturada. Não adianta fazer leis; o aprendizado para a paz começa na família.
Professor, Escritor e Doutor em Teologia Moral