VIAJANDO PELO CANADÁ
Viajar pelo Canadá não é a mesma coisa que visitar algum outro país em qualquer outra parte do mundo. As diferenças são notáveis: a pontualidade e regularidade dos transportes públicos, a organização esmeradas das principais cidades, a limpeza das ruas e a civilidade das pessoas chegam a causar inveja.
Não que inexistam problemas. Isso é impossível. Seria chato demais. Mas, os problemas recorrentes dos países com baixo índice de desenvolvimento humano estão longe daqui.
Toronto, a grande metrópole canadense.
Toronto assusta, à primeira vista, por seu gigantismo. Parece uma São Paulo ou uma Nova Iorque melhorada. Ruas apinhadas, metrô superlotado na hora do rush, o centro da cidade com ruas descuidadas, poucas lixeiras e pedintes de primeiro mundo. Não insistem, mas incomodam com seus chapéus estendidos na direção de quem passa. Pouco falam. Em geral, viciados para os quais nem a ajuda do governo é suficiente. Um problema que afeta um percentual considerável entre os mais jovens no Canadá e tem tirado o sono do primeiro-ministro e das autoridades da saúde e educação. Apesar disso, Toronto foi escolhida pelo governo canadense como uma das capitais culturais do Canadá. É uma das cidades mais seguras do continente americano - sua taxa de criminalidade é menor do que a de qualquer grande cidade americana e uma das menores do Canadá. Por outro lado, a cidade impõe respeito por sua arquitetura arrojada e sua torre, a segunda mais alta do mundo, com seus 550 metros apontados para o céu e seus elevadores mais rápidos do mundo. O Harbour Front é uma área de lazer e restaurantes, comparada a Puerto Madero, em Buenos Aires, ou à Darling Harbour, em Sydney. Um local agradável para desfrutar do por do sol e olhar os barcos que navegam pelas águas mansas do Lago Ontário, que mais parece um mar de tão grande e azul. O centro comercial subterrâneo de Toronto chama-se PATH e tem quase 30 kms de ruas, mais de 1.200 lojas, hotéis e restaurantes. Durante o inverno rigoroso, com temperaturas que podem chegar facilmente aos 25 graus abaixo de zero, as pessoas trafegam de um lado para outro no centro da cidade pelas ruas subterrâneas, a mais de 30 metros de profundidade. As letras PATH (que significa em inglês "CAMINHO") são sinalizadas em quatro cores diferentes, cada uma indicando um dos sentidos a serem seguidos: P é vermelha e indica o Sul. A letra A, na cor laranja, indica o Oeste, o T, de cor azul, indica o Norte e o H, de cor amarela, indica a direção Leste. Dentro do PATH, existem mapas para que o pedestre não se perca no verdadeiro labirinto de lojas. Um guia de turismo contou-me que mesmo tendo nascido em Toronto, ele sempre se perde quando caminha no PATH. Nesse comércio subterrâneo, não trafegam carros só pessoas e fica aberto 24 horas, embora muitas lojas apenas funcionem no horário comercial. O destaque da cidade encontra-se na CN Tower, de onde se pode apreciar a imensidão do Lago Ontário e os modernos arranha-céus da cidade. No espaço cultural da Torre, pode-se assistir a filme em quatro dimensões e sentir na pele e no corpo as sensações produzidas pelo espetáculo. Adultos e crianças se divertem como nunca nas apresentações. Outro destaque são as Ilhas de Toronto. Uma gigantesca área de lazer situada a poucos quilômetros do centro da cidade ao qual as pessoas têm acesso apenas de bicicleta ou a pé. Carros não transitam no local. Lá, além de quadras poliesportivas, áreas de pic-nic, jardins e fontes naturais, o visitante pode caminhar entre as ilhas, e desfrutar da orla lacustre do fascinante Rio Ontário com suas ondas que o faz parecer um imenso mar.
Cataratas do Niágara, mais um espetáculo da Natureza!
As Cataratas do Niágara são um agrupamento de massivas quedas d' águas, localizadas no rio Niágara, ao leste da América do Norte, entre os lagos Erie e Ontário, na fronteira entre o estado americano de Nova Iorque e a província canadense de Ontário. O nome "Niágara" vêm de uma palavra iroquesa, que significa "trovoada de águas". Os habitantes originais da região eram os Ongiara, uma tribo iroquesa chamada de "Os Neutros" por assentadores franceses. A força magnífica das águas despencando das rochas criam no Rio Niágara as mais velozes corredeiras do planeta, podendo chegar a mais de 40 quilômetros por hora. A maneira mais excitante para se chegar perto da principal cascata e ouvir seu estrondoso jorro d´água é fazer um tour em um barco chamado "The Maid of the Mist" – a "Donzela da Névoa". Poderosos barcos que levam os visitantes através das águas agitadas ao redor da Queda Canadense ou Americana até a base da Queda Horseshoe (ferradura), onde milhões de toneladas de água caem dentro de uma turbulenta e espumante piscina. Os organizadores do tour oferecem uma capa de proteção contra chuva, mas é impossível não molhar os pés e as pernas durante o passeio. Ao se aproximar da principal cascata, o rio explode à sua frente após uma queda livre de uma altura correspondente a um edifício de mais de 13 andares. O som do choque da água é ensurdecedor. Ainda do lado canadense, pode-se visitar o deque de observação da Journey Behind the Falls (Jornada Atrás das Cataratas). Uma capa amarela também não impedirá o visitante de se molhar, mas a visão de um arco-íris, formando-se no meio do rio, compensa o banho involuntário. Parece uma pintura de Da Vinci com todas as suas cores. Milhares de turistas do mundo inteiro podem ser encontrados no lugar, que esbanja organização e eficiência.
Ottawa, a nobre capital do Canadá
Ottawa tornou-se capital do Canadá, em 1857, depois que a Rainha Victória da Inglaterra decidiu elegê-la como sede do governo, em vez de Montreal ou Toronto que disputavam o título. Ottawa é uma cidade limpa, austera, impoluta e cheia de castelos do período pós-medieval. O Canal Rideau, com suas comportas que fazem os barcos subirem 20 metros até alcançarem outro ponto mais alto, é uma atração a parte e merece ser apreciada sem pressa. No inverno, o canal se transforma na maior pista de patinação do mundo, cuja espessura do gelo chega a 7 metros de espessura. Ottawa é a cidade das tulipas, que apesar de não serem vistas nesta época do ano, foram substituídas por outras variedades de flores igualmente belas. A cidade é repleta de parques e jardins, rodeada de muito verde. Mas o destaque de Ottawa fica por conta do Parlamento, cuja torre é nitidamente uma inspiração do Big Ben de Londres. Em estilo neo-gótico, foi construído entre 1859 e 1866. Na frente do palácio, há um monumento que mistura água e fogo e é perene e se tornou atração diuturna na cidade. Esculturas e pinturas especiais estão por toda parte, tornando a cidade um museu a céu aberto.
Montreal, a princesa francesa do Canadá
Impossível não gostar da cidade que exala ar moderno mas que conserva a beleza e espontaneidade do clássico, misturando cores, flores e sabores na arquitetura rebuscada, nos detalhes da decoração primorosa de suas ruas varridas pelo capricho. Ninguém ficará impune de emudecer-se diante da surpresa causada pela Basílica de Notre Dame, que esconde, por trás de sua modesta fachada em estilo neo-gótico, o esplendor de esculturas greco-romanas tridimensionais e rebuscadas de pintura renascentista, que o faz perder o fôlego diante de tamanha beleza. Quem conhece as majestosas catedrais de São Pedro em Roma, a Notre Dame de Paris e a Sagrada Família de Barcelona ainda ficará extasiado com a riqueza de detalhes e perfeição da Basílica de Notre Dame. Nada com que se possa comparar. Construída em 1829, o interior da igreja é luxuoso, composto de janelas com vitrais, um elaborado ornamento de altar, um órgão Casavant e possui o maior sino do continente, o Gros Bourdon.
Andando pelas ruas, com pavimentação de pedra, pode-se apreciar uma coleção de prédios históricos como o Montreal City Hall, o Chateau Ramezay, construído na década de 1700 para o governador e que hoje é um museu, localizado na rua Notre-Dame, a rua mais antiga da cidade. Dali, pode-se caminhar até o Bonsecours Market (Marche Bonsecours), onde se pode encontrar artesanatos de toda variedade. Logo abaixo do Mercado, chega-se à uma imensa praça às margens do rio Saint Laurent, a Place Jacques-Cartier, localizada no coração do Vieux-Port (porto antigo). Um passeio por entre lojas pitorescas e finos restaurantes, dão acesso à praça Place D'Armes que, apesar de estar em reforma no presente momento (julho de 2010), denota ser um local onde os moradores podem encontrar sombra e um local de descanso. Por outro lado, quem desejar agitação e mais modernidade pode caminhar pela Rue Ste. Catharine, considerada a rua mais movimentada da cidade, com uma variedade enorme de cinemas, restaurantes, hotéis, shoppings e populares bares noturnos. Mas existe um outro lugar que não se pode deixar de visitar e que não recebe destaque nos guias de turismo. É o majestoso Oratório de São José do Monte Royal, (Oratoire Saint-Joseph du Mont-Royal). Seu domo, ou cúpula, é o segundo maior desse tipo no mundo, ficando atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Roma, e é a maior igreja de todo o Canadá.
Quebec, a mais francesa das cidades do Canadá.
Não fossem as construções menos imponentes, as ruas menos largas e a falta da torre Eiffel, ao ouvir o povo nas ruas de Quebec você juraria que estava em plena Champs Elisée, em Paris. Em Quebec, o inglês é uma segunda língua, porque oficialmente a província de Quebec fala apenas francês. Nessa cidade, a decoração das lojas e avenidas parece uma permanente competição de jardinagem, onde misturam-se tomates, pimentas, salsa e pimentões com orquídeas, narcisos e violetas. As fotos em detalhes mostram essa profusão de beleza e criatividade dos Quebequianos. Eles cumprimentam sempre com um "bon jour" e, ao primeiro sinal de uma palavra não francesa, franzem o cenho e descascam um inglês, esnobando a poliglofonia. Mas quem pensa que os quebequianos apenas falam francês e inglês, se engana. Não raro, podemos encontrar pessoas falando espanhol, italiano e até português. Inclusive ex-residentes no Brasil, como foi o caso do simpático dono do Hotel Manoir de La Tour, que morou por 16 anos em cidades brasileiras, trabalhando como professor na Aliança Francesa. Hoje, ele pensa em comprar um sítio no Brasil e "morrar pour lá por mais um temp... porquoi gosta muito de Brazil..." Merci, monsieur Denny – os brasileiros agradecem. A cidade de Quebec é a única cidade entre o Canadá e os Estados Unidos da América cujos muros das fortificações ainda estão de pé. O nome da cidade, bem como o da província, vêm de uma palavra de origem algonquina, que significa "passagem estreita". Isso porque a largura do Rio São Lourenço na região da cidade de Quebec é de apenas 800 metros.
Como Salvador na Bahia, a cidade de Québec antiga é dividida em Cidade Alta e Cidade Baixa. As duas seções são conectadas por uma linha de bonde, ou funicular, que viaja entre elas. Outra maneira de ir da Cidade Baixa para a Cidade Alta é usar a antiga rota e escalar a íngreme escadaria "Breakneck" ou a Escalier Casse-Cou, em francês, também conhecida como "quebra-pescoço". Nenhum perigo. Apenas uns 400 degraus largos e seguros que podem ser facilmente percorridos em 20 minutos.
A Cidade Baixa é um labirinto cativante de ruas sinuosas, muitas das quais foram restauradas e recuperaram sua aparência do século 17. A Rue du Petit-Champlain, exclusiva para pedestres, é repleta de lojas pitorescas, de cafés e de restaurantes. Na Place Royale, a praça principal restaurada, artistas de ruas entretêm as multidões, fazendo mágica e shows de humor.
Dentro dos espessos muros da Cidade Alta, estão antigas casas de pedra, igrejas famosas e prédios históricos majestosos. Cada estrutura é feita de pedra cinza, um material de construção usado amplamente por toda a cidade antiga. Acima da Québec Antiga, ergue-se o distinto Château Frontenac, o hotel com telhados em forma de torres, um dos prédios que caracteriza a silhueta da cidade. Do alto do Frontenac, no 17º. andar, pode-se avistar o caudaloso Rio São Lourenço e a Le Citadelle, uma fortaleza construída pelos franceses no final do Século 18, para proteger a cidade de ataque das frotas inglesas. Atualmente, o local continua a ser um quartel militar ativo, onde os visitantes podem observar os soldados canadenses em suas tarefas cotidianas. A Citadelle foi nomeada, em 1985, como Patrimônio Histórico Mundial.
Para fechar com chave de ouro a viagem pelas principais cidades da costa leste do Canadá, fui assistir o show do famoso Cirque Du Soleil, a invenção das invenções canadenses estava fenomenal com a apresentação de TOTEM. Cerca de 50 rapazes e moças fizeram a platéia delirar de rir e se emocionar com as duas horas de espetáculo, onde o impossível acontece. Quase 100% de acerto. Mesmo quando ocorre uma infinitesimal falha, ninguém nota ou faz de conta que não aconteceu e ainda aplaude efusivamente, para recompensar o esforço dos artistas. O show supera as expectativas e nos faz ver que nada parece ser absolutamente impossível ao ser humano concentrado, trabalhando em equipe, sem a necessidade de competição, como é o caso de espetáculos esportivos, onde sempre haverá um perdedor. No Cirque Du Soleil, todos ganham e a diversão é garantida. Chorar só pela força do espetáculo e deslumbramento da capacidade humana de criar beleza e perfeição.
Vancouver, a mais encantadora das cidades canadenses
Apesar de ainda não conhecer Calgary, Halifax e Wininpeg, outras importantes cidades canadenses, é possível assegurar, sem qualquer receio de cometer injustiça, que Vancouver é a mais encantadora cidade do Canadá. Sendo a terceira maior cidade do páis, Vancouver é o centro urbano da Columbia Britânica e o portal da nação para a Costa do Pacífico. A cidade resplandece onde as montanhas parecem desaparecer no litoral e depois surgir novamente, formando um conglomerado de ilhas que se estendem de North de Vancouver pela Baía Inglesa. À distância, a cidade pode parecer um agrupamento de diamantes, que surge do Estreito da Geórgia em direção às ondulantes Montanhas Costeiras salpicadas de neve, parecendo cobertura de chantilly.
Situada na costa oeste do Canadá, Vancouver é uma explosão urbana, que procura se manter ambientalmente responsável. Há lixeiras por toda parte. A coleta seletiva é regra de ouro. A área metropolitana tem quase três milhões de habitantes, sendo 40% formada por imigrantes de 180 nações do mundo, o que faz da cidade um caldeirão de culturas, estilos de vida alternativos e um permanente desfile de indumentárias das mais variadas.
As exuberantes florestas de pinheiros que circundam Vancouver levam a saídas que desembocam em fiordes e rios propícios a aventuras. O Rio Fraser corta inúmeros bairros e oferece incontáveis áreas de lazer propícias para caminhadas, que vão desde os Bairros de New Westminster até o exuberante False Creek. Do outro lado da English Bay, encontram-se a Montanha Grouse e Montanha Cypress, serpenteadas pelo rio Capilano. No inverno, o ponto alto é a famosa estação de esqui Wistler, que pode ser alcançada em menos de duas horas de viagem de carro ou trem a partir de Vancouver.
O que faz Vancouver receber o título da mais encantadora cidade do Canadá, na minha opinião e na dos próprios canadenses de outras províncias? Muitas coisas. Mas isso é assunto para outra crônica. Aguarde!
Conclusões sobre os canadenses das várias cidades visitadas:
Em Toronto, as pessoas são amáveis mas também são apressadas, como em toda grande cidade. Para tirar uma foto, chegam arrancar a câmera da sua mão. Têm alguma paciência com os turistas e parecem mais preocupados com as pessoas que as rodeiam.
Em Ottawa, percebe-se que as pessoas ficam "na delas". Se perguntarmos alguma coisa, respondem polidamente. Fazem o tipo funcionário público empolado... afinal, moram na capital federal.
Os moradores de Montreal são cordatos e educados. Gostam de se oferecer para tirar foto dos turistas e são solícitos. Olham de soslaio e sorri discretamente.
Os quebequianos, bem, onde eles estão? Se falar em francês, tudo bem pois os deixam mais à vontade. Se falar em inglês, respondem o necessário. Parecem não gostar muito de anglo-falantes mas tratam com polidez a todos.
Os moradores de Vancouver, são ímpares nas relações. Sorriem muito facilmente, cumprimentam desconhecidos, puxam assunto por qualquer coisa, oferecem-se para ajudar em qualquer lugar, amam, adoram, são loucos para tirarem fotos dos turistas. Descem da bicicleta, amarram o cão no poste, param de comer, param de correr... e se oferecem para tirar uma foto. Mexem no zoom da máquina, mudam de posição, de foco... são maníacos por fotografia... de turistas principalmente. Provavelmente, sabem que Vancouver é de longe a mais linda cidade do Canadá e querem que todos registrem isso. Aos que desejarem visitar meu álbum de imagens de boa parte do mundo eis o link:
http://picasaweb.google.com/MathiasGonzalez2009/