Sabedoria Popular

Pensamentos de grandes filósofos permeiam o inconsciente popular e o dia a dia da nossa sociedade e nem nós damos conta. Quer ver? Vivemos num contexto em que a beleza é cultuada e endeusada. O pensador Immanuel Kant quando dissertava sobre o Juízo Estético, na obra, Crítica da Faculdade do Juízo, começava a forjar novos conceitos sobre o belo e a beleza. Neste panorama, Kant chega à conclusão que detendo-nos na análise dos comentários favoráveis, notaremos que o belo não está arraigado em nenhum conceito. Ou seja, “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Ou ainda, “a beleza está nos olhos de quem vê”. Frases que mostram assim como as teorias de Kant a subjetividade da beleza e do belo.

Mas as filosofias clássicas estão mais enraizadas em nosso cotidiano do que você imagina. Quando falamos pra alguém “Cresça e apareça” estamos simplesmente parafraseando Friedrich Nietzsche, em uma de suas inúmeras frases famosas, “Torna-te quem tu és”. Podemos ir além, o mesmo Nietzsche cunha a seguinte frase, “O que não me mata me fortalece”, nada mais é que nosso popular “O que não mata engorda”.

Entretanto nem tudo são flores na sabedoria popular. Muitas vezes com o passar de gerações um provérbio ou uma estória tinha um significado X e por ter seu sentido mudado no passar dos anos acabam com significado Y. É ai que todo cuidado é pouco. Não podemos nem levar todos os saberes populares a veracidade bruta e nem devemos ignorá-los por completo.

Vejamos quando um dito popular perde seu significado real. Muita gente já ouviu ou falou – quando viu um filho parecido com seu pai – a frase “Essa criança é a cara do pai, é o pai escarrado e cuspido”. Uma frase de gosto duvidoso. Agora sinta quão sublime é a versão original deste provérbio, “Essa criança é a cara do pai, é o pai Carrara esculpido”. Carrara é o mármore mais famoso desde Roma antiga, só é encontrada na Itália, especialmente na região da Toscana, província de Massa-Carrara, Davi de Miguelangelo é esculpido neste mármore. Por tanto um dito popular que exalta a beleza da criança (o filho é o pai melhorado), terminou com o sentido pejorativo.

Outros exemplos mais prosaicos mostram como não é raro este fenômeno. No dito “Batatinha quando nasce esparrama pelo chão”, assemelha-se, mas não é, “Batatinha quando nasce espalha as ramas pelo chão” e ainda em, “Quem não tem cão, caça com gato”, o erro é claro, “Quem não tem cão, caça como gato”. Pois o gato por instintos felinos caça solitariamente, ou seja, a pessoa que não possui um cão tem de caçar sozinho como os gatos. Entenderam?

Podemos obter muitas lições dos saberes populares, porém cuidado para não levar tudo ao pé da letra, a estória que te contaram pode não ser verdadeira.

T F Baracho.