Minha viagem a Dubai 04/08 à 14/08/2010

Antes de mais nada, ressalto que não gosto de ser turista por alguns dias no país alheio para questionar aspectos que não domino, (igual escuto de vez em quando por aí, bobagens acerca de outros povos e suas tradições, não raro, asneiras sobre meu próprio país, de gente que acha que sabe sem saber), como se poucos dias fossem o bastante para conhecer determinadas características de uma cultura estranha.

Então, vou começar esse texto com minhas observações dessa curta estada e da experiencia vivida nesses poucos dias

Para quem não sabe, (assim como eu, que tive que pesquisar), Dubai é um dos sete emirados e a cidade mais populosa dos Emirados Árabes Unidos (EAU) com aproximadamente 2.262.000 habitantes (sendo que aprox. 80% são estrangeiros), louco, né? Está localizado ao longo da costa sul do Golfo Pérsico na Península Arábica na África. Dubai é conhecida mundialmente por ser extremamente moderna, "futurista" e com enormes arranha-céus e largas avenidas. Os edifícios são tao longos que nos causa certa vertigem ao olhá-los de baixo (como seres ínfimos, quase ridículos), arrisco dizer que são joias, modelos exclusivos de uma arquitetura única e extraordinária. Dentre elas, podemos destacar as Palm Islands, o arquipélago The World, o hotel Burj Al Arab (um dos hotéis mais luxuosos de Dubai, que foi construído sobre uma ilha artificial, com 321 metros de altura, sendo a 2ª estrutura mais alta usada como hotel, após perder o título para a Rose Tower, edificada também em Dubai. O edifício imita a vela de um barco, e hoje é um dos principais cartões postais da cidade e do país.).

Os arábicos adotaram o inglês como segunda língua, do homem que “vende” passeios com camelos na praia, ao pessoal dos hotéis 5 estrelas. O lugar está tão internacionalizado que os supermercados foram invadidos por produtos tipo Nestlé e as avenidas pelos fast food americanos. Queríamos azeitonas arábicas e só encontramos espanholas. Absolutamente tudo traduzido do arábico ao inglês, qualquer cardápio ou placa de transito encontramos nos dois idiomas.

Partimos de Leipzig, Alemanha, e fizemos conexão em Paris, num voo de 6 horas, 5241 Km , de França até Dubai, sobrevoando Bagdá, com 2 horas de diferença no fuso e 25 de temperatura. Saímos do climatizado ambiente do avião, (depois de comprovarmos através de visto e fotografia ocular que não eramos terroristas), para impactar com uma temperatura noturna de quase 50 graus, uma verdadeira sauna gratuita! Já no caminho do aeroporto ao hotel, vislumbramos as imensas construções, a cidade iluminada, os carros de ultima geração, as mesquitas, a grandiosidade e a riqueza quase ofensiva do lugar. Realmente inacreditável! Foi rápido constatar a mistura de culturas sob ruas e avenidas andando lado a lado, mescladas!

Em Dubai, todos os dias são dias de sol, sem exceção! Disseram que pode chegar a chover uma vez por ano... O céu está sempre azul e o sol rasga a cidade às 6:30 imponente, sem nuvens, num calor quase irrespirável. A água do mar é quente qualquer hora do dia, e a da piscina, resfriada.

Idiomas irreconhecíveis circulantes ao seu lado, mulheres arábicas dirigindo luxuosas caminhonetes, limusines com dimensões de casas, restaurantes de todos os lugares do mundo. No centro, centenas de joalherias, (mas nada de mirrados cordoes de ouros), refiro-me a correntes cravejadas de pedras que caberiam no pescoço de um rottweiler, braceletes para os braços do Conan e anéis para dedos de King-Kong. No mesmo contraste das grandes lojas, falsificadores com trejeitos mafiosos falando aos ouvidos, discretamente, sobre imitações de rolex, como um magnífico negócio da China... (eles ficariam loucos se vissem nossos camelôs legalizados no Brasil).

Acho que é de conhecimento comum que o idioma arábico se escreve da direita para esquerda, em poucas palavras, soam como assinaturas ininteligíveis (duvido que faça algum sentido aquele garrancho bem escrito, rsrsr). Nos restaurantes nativos, nos entregam o cardápio de trás para frente (e não, a sobremesa não está na ultima página, ou isso quer dizer a primeira???)

Apreciadores de bebidas alcoólicas devem se precaver, pois fora dos lugares convencionais, é impossível encontrá-las, ou, nos hotéis e bares apropriados, uma mísera cerveja de 330 ml custa cerca de 40 dirham, mais ou menos 8 euros, ou, 21 reais (o preço é uma boa forma de evitarmos a ebriedade), 1 cerveja rela e pé na estrada, de volta ao hotel a dormir!!!!!!!

A Burca

As primeiras burcas e vestidos masculinos, já no aeroporto, chamaram-me a atenção, mas como bom ser humano que sou, depois de algum tempo, perdi o interesse e as mulheres vendadas já eram comuns aos meus olhos. Confesso que sentia certo horror pela burca antes dessa viagem, mas vi mulheres tão elegantes com esse traje distinto, diferenciado por bordados nas mangas, aplicações de brilhos, enfeites glamourosos (lembrei do ultimo Sex and the City, ao ver muitas delas, com o rosto coberto, enquanto empunhavam uma bolsa Louis Vuitton, sem sombra de duvidas legitimas), e seus adereços de ouro e brilhantes cravados nos relógios, anéis e pulseiras. Mulheres executivas, profissionais, estudantes, com a beleza resguardada pelo véu negro.

Acredito que esta indumentária é opcional para as cidadãs de Dubai, pois vi muitas arábicas em roupas ocidentais pelas ruas. Na piscina, algumas em roupa de banho (como nos anos 50 ou 60, sei lá), outras, refrescavam-se com calças e camisetas, enquanto as mais resistentes (ou fieis a tradição), mantiveram-se embaixo do guarda-sol, apenas com os olhos expostos por debaixo da burca). Se fosse meu caso e tivesse mesmo que usar esta vestimenta, (sem querer ofender, pois achei realmente bonita a cultura), acoplaria uma garrafa de uísque por debaixo do traje e daria umas boas risadas, às escondidas, daqueles homens machistas.

Ramadan

No hotel, quase desfilamos pelados, porém, no centro, as mulheres devem vestir calças compridas, blusas sem decotes, não transparentes, “sem pele” à vista (isso inclui a mim e a você que está lendo esse texto!). Pegamos a época do Ramadan, nono mês do calendário islâmico, durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual.

O jejum é obrigatório a todos os muçulmanos que chegam à puberdade. A primeira vez em que um jovem é autorizado a jejuar pelos pais, significa a marca de entrada na vida adulta.

O jejum é observado durante todo o mês, da alvorada ao por-do-sol, também aplica-se às relações sexuais. O crente deve não só abster-se dessas práticas como também não pensar nelas e manter-se concentrado em suas orações e recordações de Deus, sendo neste mês a frequência mais assídua à mesquita (que tortura)!!! Além das cinco orações diárias, recita-se uma oração especial chamada Taraweeh (oração noturna). Não contei a periodicidade, mas a cada tanto, um canto em forma de oração inundava audivelmente e com explendor, os ouvidos de cada transeunte que passeava pela cidade, talvez fosse um chamado para a mesquita, ou, um lembrete que era hora de rezar).

Neste período, pede-se ao crente maior proximidade dos valores sagrados, leitura mais assídua do Alcorão, correção pessoal e autodomínio, (ainda que não pudemos deixar de perceber uma certa analogia como o nosso “Natal”, pelos excessos de comida nos carrinhos dos supermercados, o consumismo dos circulantes com centenas de sacolas em punho, propagandas de presentes para o Ramadan em Outdoors gigantescos...), bem, mas nesse período, está criteriosamente proibido comer, fumar ou beber em público, sob pena de pagar 2.000 dirham (isso se aplica aos turistas também!). Nos shoppings, os poucos restaurantes abertos, estavam completamente revestidos por uma cortina gigante. No mesmo shopping, um lugar para esquiar coberto de neve e friorento. É impressionante o que o dinheiro pode fazer, não há limites! Construir uma especie de “alpes suíços nevados” no deserto?? Foge do meu poder de credibilidade.

No mercado Arábico

Primeira parte da experiencia

Já escutei o mito de que se não barganhamos no mercado, os arábicos se ofendem! Como não gosto de insultar ninguém e também acredito não ser boa negociadora, convenci meu marido a fazer o “trabalho sujo” para mim. Já na primeira tenda, fomos abduzidos para seu interior enquanto um dos mercadores nos seduzia com ervas e temperos, cada qual era explicado criteriosamente, cheirávamos tudo, certas coisinhas (que não poderia citar nomes), o mercador nos fazia comer também. Como nos pareceu tudo muito simples, de gente humilde tentando ganhar a vida, anunciamos sem perguntar o preço (tipica atitude de turista babaca), o que levaríamos. O simpático homem anunciou o assalto e pagamos sem pestanejar. Esperei uma reação do meu marido que jurou ser um negociador nato, mas nada aconteceu. Eu, que sou covarde, assustei-me, calei-me e agradeci sem nada dizer.

Obs: Desmistificando o mito: Se você não barganha, não ofende ninguém, apenas, paga mais caro!

Segunda tentativa: Todo malandro tem sorte!

Segunda tenda e avisto uma blusa maravilhosa, meus olhos brilham, meu corpo estremece (maldita consumista)! Nem a provo, pergunto o preço, parece acessível, continuo buscando no lugar de tecidos deslumbrantes (tive que pedir ao meu marido um olho emprestado, meus dois não bastavam). Vejo tudo com minhas mãos inquietantes, o bom vendedor mostra xales de cashimira, , mais tecidos, centenas de preciosidades ao meu alcance, e de repente, um acesso de realidade. Digo: “Ah, é lindo, mas não, obrigada!” não estava barganhando, pensei apenas que tinha ainda muito por comprar e deveria equilibrar o orçamento. Sem querer, comecei a negociar e não sabia. O homem baixa 20% do valor e eu repenso, mais uma vez nego a proposta. Ele torna a rebaixar por quase metade do primeiro valor, meus olhos retomam a vivacidade e numa repentina ousadia (ainda tímida de minha parte), lanço um valor mais baixo que a oferta, temerosa de perder o negócio. Para minha surpresa, ele aceita (agora, sem o mesmo sorriso inicial, e todos ficamos felizes (o “todos” é por minha conta)!

Penúltimo dia antes de voltarmos: O retorno! Dessa vez, Expert na barganha

Algo que não sabia em relação aos sapatos arábicos é que ambos servem para o mesmo pé, não há isso de esquerdo ou direito, eles tem a mesma forma. Dessa vez, no mercado, vimos também presentes para família, para a casa... Até chegar o dono do lugar que nos mostra a bandeira do Brasil pendurada na parte interior da loja, conta-nos que tem muitos clientes brasileiros (desacredito ao princípio), então, fala números e palavras como “bonito” e “barato” em português. Momento de negociação: ele digita um número (grande) na calculadora e me mostra, eu coloco as mãos para cima e digo que é um assalto! Tomo a calculadora das mãos do negociante, redigito a metade do valor e devolvo a calculadora para que ele possa ver. O homem fala em seu idioma com o ajudante, coloca as mãos na cabeça, diz que é impossível e redigita uma nova cifra, dessa vez, apenas com um desconto de míseros 10 dirham, eu continuo a brincadeira subindo meu valor ofertado na mesma medida de 10, assim seguimos por 50 minutos até chegar ao valor que agradou ambos. Enquanto meu marido, arroxava de vergonha em um canto, reduzido a migalhas, eu sorria triunfante! Antes de pagar, ainda peço um brinde, a essa altura o homem já estava chorando. Final de negociação, ele fala qualquer coisa que não entendo em português, repete uma vez mais e parece que desmembro o acento arábico e entendo: “Tati Quebra barraco”! What????? O homem ri, tira o celular do bolso e aperta o play numa música que inicia assim: “Sou cachorra, sou gatinha... Boladona, boladona...” Estava petrificada! Dessa vez, comprovo finalmente que ele dizia a verdade sobre seus clientes brasileiros. Imaginei o provável carioca que passou a música ao arábico, dizendo ser um clássico brasileiro. Achei o máximo! Pela primeira, não escuto gente no exterior fascinada com Tom Jobin ou familiares. Meu marido que fala ótimo português, frustrou-se porque não entendeu a letra da “Tati”, enquanto eu, não encontrei forma de explicar ou traduzir (mesmo agora, que a tenho por escrito, na minha frente)!

Turista babaca da vez: Geyme Lechner Mannes

Dubai

Em mais uma viagem inesquecível...

Para ver algumas fotos desse lugar maravilhoso, acessem meu blog: geyme.blogspot.com