COM MEUS OLHOS QUE A TERRA HÁ DE COMER!

Hoje a imprensa noticia algo extremamente lamentável , a notícia de que um incêndio em Congonhas do Campo, nas Minas Gerais, felizmente " quase" teria colocado em risco uma igreja que contém obras do grande ALEIJADINHO e do mestre ATAÍDE.

Gelei de susto com a tal da notícia de hoje, aliás só mais um, que a meu ver, foi apenas uma ponta do telejornal, tratada com a mesma negligência com que se trata a nossa memória artística por aqui...

O assunto é oportuno em época de tantos focos de incêndio espalhados pelo nosso território, porém nos traz a tona o quanto de descaso que TAMBÉM temos dispensado à manutenção do nosso patrimônio Histórico construído por tão grandes artistas, reconhecidamente aplaudidos pelo mundo.

Tal afirmação que faço , não levianamente, advém da sensação que trago comigo desde que conheci a referida cidade e as demais cidades históricas do entorno, já há algum tempo, quando observei com "meus olhos que a terra há de comer", a avidez com que os cupins também já devoravam certas madeiras artísticamente esculpidas pelos referidos mestres, inclusive algumas que faziam parte do arcabouço arquitetônico de sustentação de algumas igrejas de Congonhas e de Ouro Preto, essa última, tombada como patrimônio da humanidade.

Era muito triste de se perceber aquela beleza toda, naquele estado de deterioração.

Bem, nem falo em se comparar o cuidado ao nosso patrimônio artístico, com o cuidado que os países de primeiro mundo dispensam ao seu acervo artístico e cultural.

Mas o que vi ali foi demais!

Logo que lá cheguei se notava a triste erosão do tempo nos doze profetas de Aleijadinho, guardiões do intróito da Igreja (Santuário de Bom Jesus de Matosinhos), elevada num terreno alto, de grande aclive, sobre um amplo mirante da bonita cidade..

Esculpidas em pedra sabão se percebia nitidamente o frágil material abandonado às intempéries, com porosidades enormes a distorcer as linhas das belas esculturas dos doze profetas...

É bom que se diga que, para quem ainda não teve a oportunidade grandiosa de conhecer as obras daqueles grandes escultores, é algo imperdível, e corram enquanto existirem.

Espero que a situação de lá apra cá já tenha sido revertida senão corram mesmo, antes que a terra, o fogo, os cupins e toda a inconciência reinante absorvam tamanha grandiosidade.

A primeira vez que olhei de perto as obras de Aleijadinho e as do seu comtemporâneo , o Mestre Ataíde, chorei de emoção, e pensei comigo que "ninguém deveria ter o direito de morrer antes de vê-las, nem que fosse por alguns segundos.

É tudo bonito demais! Incomparável ao tudo de belo que existe em arte barroca!

Pena que nossos governantes, esses que gritam aos quatro ventos que fazem tudo, não tenham sensibilidade suficiente para retomar o mesmo tudo da nossa histórica arte tão esquecida, e guardá-la!-a correr o risco de vê-la perecer nos subterrâneos dos sítios arqueológicos das futuras gerações!

É de doer o coração!

Fico feliz que o fogo tenha poupado as obras dos artistas, embora triste por ver os estragos ecológicos e humanitários dos tantos incêndios ocorridos.

Ainda bem que, mais uma vez, a culpa é só da natureza, ainda que da natureza dos Homens...daqui.

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Nota: fonte google

Sobre o nosso ALEIJADINHO:

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, (Ouro Preto, c. 29 de agosto de 1730 ou, mais provavelmente, 1738 — Ouro Preto, 18 de novembro de 1814) foi um importante escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial.

Toda sua obra, entre talha, projetos arquitetônicos, relevos e estatuária, foi realizada em Minas Gerais, especialmente nas cidades de Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei e Congonhas. Os principais monumentos que contém suas obras são a Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Com um estilo relacionado ao Barroco e ao Rococó, é considerado pela crítica brasileira quase em consenso como o maior expoente da arte colonial no Brasil e, ultrapassando as fronteiras brasileiras, para alguns estudiosos estrangeiros é o maior nome do Barroco americano, merecendo um lugar destacado na história da arte do ocidente.

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Sobre o nosso MESTRE ATAÍDE:

Manuel da Costa Ataíde, mais conhecido como Mestre Ataíde, (Mariana, 18 de outubro de 1762 – idem, 2 de fevereiro de 1830), foi um pintor, dourador, encarnador, entalhador e professor brasileiro.

Foi um importante artista do barroco mineiro e teve uma grande influência sobre os pintores da sua região, através de numerosos alunos e seguidores, os quais, até à metade do século XIX, continuaram a fazer uso de seu método de composição, particularmente em trabalhos de perspectiva no teto de igrejas. Documentos da época fazem freqüentemente referências a ele como professor de pintura. Em 1818, Ataíde tentou, sem sucesso, obter permissão oficial para fundar uma escola de arte em Mariana, sua cidade natal.

No inventário de suas posses relacionam-se manuais técnicos e tratados teóricos como o de Andrea Pozzo - "Perspectivae Pictorum Architectorum" -, nos quais deve ter estudado a sua arte. Uma das características da sua expressão artística era o emprego de cores vivas, principalmente o azul, a sua preferida. Em seus desenhos, os anjos, as madonas e os santos apresentam traços de povos africanos.

Foi contemporâneo e parceiro de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No período de 1781 a 1818, encarnou e dourou as imagens de Aleijadinho para o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo.