Do incoveniente da história para a arquitetura

Segundo Nietzsche, a história pode ser estudada sob três pontos de vista, o antiquado, o monumental e o crítico, sendo o crítico o considerado superior do ponto racional. Entretanto, o que se vê sendo praticado dentro dos currículos das matérias de história é a supervalorização dos pontos de vista antiquado e monumental. O ponto de antiquado é aquele conhecido por estar ligado aos membros mais velhos das famílias. A história antiquada venera qualquer detalhe que pertença ao passado. Sempre o passado é considerado melhor que o presente. A vida no presente perdeu seu glamour. O que se tem é que "a história antiquada...sempre faz pouco caso daquilo que está em seu devir, porque lhe falta o instinto divinatório." ( p.44) - Esse instinto divinatório é o instinto relativo a uma visão crítica da história.

Já para história monumental o passado só tem como motivo a inspiração para a criação do grande, do eterno. Para alguns isso pode parecer uma valorização do passado, porém "quando a consideração monumental do passado domina as outras maneiras de considerar as coisas, o próprio passado padece com isso" (p.36), o passado passa a ser visto somente como inspiração para novos feitos e construções.

Com isso em mente, descobre-se que essas visões errôneas do passado trouxeram diversos danos a história da arquitetura brasileira, como é visto no período da Ditadura militar, quando foi constituída uma arquitetura considerada megalomaníaca. Isto se deve a uma visão monumental de um passado, antes recente, onde a arquitetura dos modernistas eram consideradas os maiores feitos da arquitetura brasileira. Todavia esses grandes arquitetos estavam residindo fora do país. Assim, os arquitetos do período militar "imitaram" construções modernistas sem terem contato com o conceito dado a esse estilo.

Apesar de ser um período muito criticado da produção brasileira, essas visões, antiquada e monumental, que atrapalham a evolução dessa arte continuam a ser observadas no plano acadêmico. As conhecidas matérias de Teoria e história da arquitetura conservam esses pontos de vista na mente dos futuros arquitetos. Nelas são jogadas aos alunos um grande número de obras arquitetônicas, que são destrinchadas dos pontos de vistas volumétrico, estrutural e funcional, mas ficando a dever a Teoria da arquitetura, o conceito da produção. Porém, "O verdadeiro historiador deve ter a força de transformar as coisas mais notórias em coisas inauditas e proclamar as ideias gerais com... Simplicidade e profundidade." (p. 77) e não vomitar diversas construções achando que o prezado aluno vai decorar as informações pertinentes a todas as obras de todos os estilos.

Terminando com as idéias de Nietzsche, a história não deve ser totalmente abandonada, mas sim ser vista com o mesmo valor que a visão não-histórica e a visão supra histórica, onde " com o termos "não-histórico" designo a arte e a força de poder esquecer e se encerrar num horizonte limitado. Chamo "supra históricos" os poderes que desviam o olhar do devir para o que confere à existência o caráter do eterno e do idêntico, para a arte e a religião." (p. 121).

Bibliografia

Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Vom nutzen und nachtheil der historie für das leben. (trad. pt. por Antônio Braga e Ciro Mioranda, Da utilidade e do incoveniente da história para a vida, 1ª ed, editora Escala, São Paulo, 2008.).

Felipe Bosi
Enviado por Felipe Bosi em 06/08/2010
Código do texto: T2422234
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.