INTERCULTURALIDADE: UM RECORTE PARA A QUESTÃO INDÍGENA
Nadia Quinteiro Ramos e Tatiane Farias Alves
Resumo
Este trabalho tem por finalidade, entender o conceito básico da interculturalidade, entendendo-a como a integração dos grupos sociais dentro de uma sociedade, dando um enfoque maior para a questão indígena, onde se refletirá sobre a importância das escolas indígenas, dentro das aldeias e com Projeto Político Pedagógico próprio, para que o povo indígena possa adquirir os conhecimentos históricamente construído pela sociedade ocidental sem abandonar suas tradições.
Palavras-chave: cultura; educação; interculturalidade.
Resumen
Este trabajo tiene como objetivo, entiender los conceptos básicos de la interculturalidad, entendiéndola como la integración de los grupos sociales dentro de una sociedad, prestando más atención para la pregunta indígena, donde se refletirá sobre la importancia de las escuelas indígenas, dentro de las aldeias y como Proyecto Político Pedagógico próprio, para que el pueblo indígena pueda adquirir los conocimientos historicamente construido por la sociedad ocidental sin abandonar sus tradiciones.
Palavras-chave: cultura; educación; interculturalidad.
Interculturalidade pode ser definida como um conjunto de propostas de convivência democrática entre as diferentes culturas, que visa a integração sem anular a diversidade, dentro desse contexto, este trabalho será focalizado, destacando as mudanças que vêm ocorrendo com relação às sociedades indígenas existentes em nosso país, e a importância da escola na própria aldeia, pois segundo Mendonça (2009), ela estimula as novas gerações a manterem suas tradições e culturas.
Assim como todas as demais, as sociedades indígenas também possuem suas concepções e visões de mundo, seus valores, seus conhecimentos e técnicas de sobrevivência que são passados ao longo do tempo de geração para geração.
Integrar os rituais indígenas à escola é uma forma de interculturalidade, que garante à sociedade indígena a continuidade de sua cultura e a existência de sua própria etnia, pois, segundo Mendonça (2009 p. 23):
A interculturalidade na escola é entendida enquanto diálogo, como uma relação recíproca entre os valores culturais do povo Boe-Bororo e aqueles apropriados pelas demais instituições atualmente existentes na comunidade.
O livro, “A Gestão Escolar Indígena – Interculturalidade e Protagonismo” de Terezinha Furtado de Mendonça, relata depoimentos de alguns indígenas da Aldeia Boe-Bororo, sobre suas experiências nas escolas dos “não índios”, experiências essas que relatam o preconceito dos “brancos” em relação aos “índios”:
Quando estudei fora da Aldeia, senti muitas dificuldades nos estudos, mais o que mais me incomodava eram os preconceitos dos colegas. Eles não me chamavam pelo nome, só falavam, “índio”. (Fernando Kudoro) (Mendonça 2009, p. 22)
Criança estudar na cidade é um risco, eles aprendem os costumes dos não índios, ficam gostando daquelas coisas de la e não retornam para a aldeia. A escola dentro da comunidade, além de formar os jovens com a nossa política, estamos nos fortalecendo. (Ismael Atugoreu) (Mendonça 2009, p. 22)
Segundo Mendonça (2009), a implementação de leis que assegura o sistema educacional apropriado para as escolas indígenas foram inovadoras, pois foram desenvolvidas junto com a própria comunidade, juntamente com professores que demonstraram ousadia ao enfrentar os desafios, tanto nas relações com outras etnias, quanto com a cultura ocidental.
Mendonça (2009) coloca ainda que, entre o final do século XVII e o início do século XVIII, sob a influência do Padre Antônio Vieira, a educação escolar indígena tinha como prática principal o aniquilamento da cultura e da identidade indígena, com o intuito de promover a integração do povo indígena com a sociedade. A partir da década de 80, surgiram as organizações governamentais e não governamentais de apoio aos índios. Com a constituição de 1988, todos os povos indígenas tiveram seus direitos a cultura, língua e terras reconhecidos. Já na década de 1990, foi criado o Comitê Nacional de Educação Escolar Indígena, com o intuito de diferenciar os princípios de educação indígena valorizando seus conhecimentos e saberes milenares, ou seja, a escola além de educar passa a ter uma função social e a formação de professores indígenas foi um fator muito importante para essas conquistas. Inclusive em Mato Grosso a sociedade indígena conta com uma conquista ter o terceiro grau indígena oferecido pelo Estado através da Universidade do Estado de Mato Grosso, que possui alunos tanto deste estado quanto de outros estados do país.
Ao longo do tempo as sociedades indígenas têm sofrido com todos os tipos de preconceitos e discriminações, pois para muitos eles são lentos, preguiçosos e incapazes de se desenvolver socialmente, pois segundo Rezende. (2009,p. 95)
Somente no momento em que se desconstituir a oposição entre diferença e igualdade é que será possível entender que a verdadeira igualdade está no direito à diferença e que todos nascem iguais, porém deferentes. Todo ser humano, todo aluno é único e diferente, pois a diferença é a certeza da individualidade. (2009,p.95)
O fator primordial com a formação das escolas indígenas, é que ela é construída pela própria sociedade indígena, garantindo o interesse e a participação de todos em busca do mesmo ideal, que é a preservação de sua cultura, pois segundo Mendonça:
A educação da nossa escola é diferente da educação do não-índio porque ela acontece na aldeia onde trabalham só professores, alunos e diretor indio. (Juscimar Bororo) (Mendonça 2009, p. 102)
Eu acho o funcionamento da escola muito bom, pois o diretor sabe comandar bem a escola e nós estamos lutando para melhorar ainda mais. (Wilson Aieko) (Mendonça, 2009, p. 102)
Com os depoimentos descritos acima, pode-se notar o interesse existente dos povos indígenas para com as escolas, pois ela os remete a uma compreensão e a avaliação crítica da realidade em que vivem essas comunidades. Isso faz com que eles possam transitar pelas culturas, garantindo o seu direito a liberdade e autonomia, para construir o seu futuro e defende sua cultura e seus territórios.
No livro “Educação Escolar e Protagonísmo Indígena” de Francisca Navantino Pinto de Ângelo (2009, p. 51), “a escola indígena específica, diferenciada e intercultural se estabeleceu como um novo paradigma no âmbito dos direitos humanos, a partir do reconhecimento de direitos coletivos dos integrantes das populações indígenas”, percebe-se que a educação indígena deve ocorrer por meio de pedagogias e mecanismos que esteja de acordo com cada cultura, pois cada comunidade possui suas regras e sendo assim a educação deve ser assumida como uma responsabilidade coletiva.
Conclui-se que, a escola na própria aldeia, como já vem ocorrendo em alguns locais, possibilita as comunidades indígenas que as futuras gerações sigam seus costumes e políticas, fortalecendo a comunidade e garantindo que as comunidades tenham contato com sua própria cultura, mas sem deixar de lado a cultura ocidental. Este protagonismo indígena aliado aos conhecimentos interculturais poderá servir de passagem rumo à construção de uma escola que possa absorver toda e qualquer expectativa das comunidades indígenas, sendo que, é a educação escolar que garante aos índios excluídos historicamente, atributos que são totalmente indispensáveis aos seus desenvolvimentos humanos e assim adquirindo seus direitos e deveres em qualquer sociedade.
REFERÊNCIAS:
MENDONÇA, Terezinha Furtado de. “Gestão Escolar Indígena – Interculturalidade e Protagonismo”. Cuiabá – MT: EdUFMT, 2009.
BOTH, Sérgio José. “A Educação Indígena nas Escolas Públicas do Brasil”. Tangará da Serra – MT: Gráfica e Editora Sanches Ltda, 2008.
REZENDE, Gerson Carlos. “Fronteira Cultural – A relação entre indígenas e não – indígenas em escolas urbanas”. Cuiabá – MT: EdUFMT, 2009.
FERNANDES, Dulcilene Rodrigues. “Formação de Professores Indígenas – Um rito de passagem”. Cuiabá – MT: EdUFMT, 2009.
ÂNGELO, Francisca Navantino Pinto de. “Educação escolar e protagornismo indígena”. Cuiabá – MT: EdUFMT, 2009.