Um conceito sobre magia e os tempos modernos.

O mistério da origem da vida e os fenômenos inexplicáveis que cercaram o homem desde o início, mais o medo de algo desconhecido que poderia lhe trazer sofrimento ou morte à qualquer momento, desenvolveram nos homens certos costumes que são chamados de práticas religiosas. Isso é folclore, superstição e alegoria. Num estudo mais adiantado, pode-se perceber que os fenômenos naturais estão rigorosamente alinhados em toda a criação, ou seja a energia é a mesma ou é uma só. E todos os elementos naturais são encontrados na composição quimica de todos os seres, minerais, vegetais e animais. A essa energia invisível, mas que se pode tocar, se deu o nome de Magia.

Dois tipos de magia são discriminados pelos estudiosos de todas as épocas: A Alta Magia e a Baixa Magia. Jamais devem ser confundidas com magia negra ou magia branca, que se tratam de tipos de magia arbitrariamente designados como tal, pela qualidade da moral de quem as trata assim.

A Baixa Magia seria a magia de cunho terrestre, baseada no desregramento dos sentidos, carne, terra, suor e sangue. É o tipo de ritual praticado pelas tribos primitivas.

A Alta Magia seria a magia do controle, um tipo de magia intelectualizada e fria, baseada na separação platônica da carne e do espírito. A missa é um ritual de Alta Magia, no sentido em que o padre prega, amedronta e domina os outros participantes. Eles simbolicamente comem a carne e bebem o sangue do Cristo, uma comunhão ou pacto, e simbolicamente tambem recebem o Espírito Santo. Tudo muito frio e ordenado, baseado no dogma de um livro. Na verdade a maioria dos magos cerimoniais eram padres ou abades, Eliphas Levi é o maior exemplo.

Existe um sistema entre ocultistas modernos, que prega a sucessão éonica. Éons seriam períodos de tempo regidos por uma divindade. Assim, períodos de tempo recebem um rótulo, uma divindade, um Avatar, um signo zodiacal, uma característica política, social e uma característica religiosa dominante.

O primeiro eon da época histórica seria o da Deusa, então se atribuia uma organização social matriarcal a este período, mas a organização era tribal ou em clãs, em geral patriarcais mesmo. Na verdade o Egito e o Oriente Médio nos deram a religião e a organização social. Os homens que viviam em meio a natureza abundante ainda não tinham desenvolvido uma agricultura organizada, entendendo simplesmente que colhiam as dádivas da Deusa.

O segundo éon se atribuiu ao deus Osíris. E é basicamente o que conhecemos por cristianismo, feudalismo, patriarcado, exploração indômita da terra, organização rígida, medo como método de coerção social, "progresso" científico, absolutismo, etc.

Neste século ocorreu uma mudança mais brusca do que nos outros. O mundo está unificado e age em conjunto, apesar das diferenças. Atualmente as crianças só conhecem leite em pó ou de caixinha, e só vêem vacas pela TV. A família se dissolveu, os núcleos familiares são cada vez menores. As pessoas jovens não são essencialmente religiosas, e isso é visto como catástrofe por muitos. Na verdade qualquer transformação é dolorosa, mas não podemos ser pupas para sempre.

Não tem mais cabimento rituais sazonais de colheita. O homem moderno não depende mais da capina e do plantio, ele compra tudo pronto pra consumo no supermercado. Ele precisaria fazer rituais somente quando os preços subissem, e não quando a estiagem chegasse. O movimento neopagão cresce por puro modismo, mas está fadado ao anacronismo, pois nós perdemos o contato com a terra. É mais divertido ir a um shopping do que girar em volta de uma fogueira pedindo para não faltar milho.

O individualismo não permite mais religiões de massa. A religião do futuro, se houver, será a ausência de religião ou a religião individualizada. As pessoas não precisam mais serem aceitas em seu grupo social para sobreviverem, como antigamente. As pessoas não dependem mais dos filhos para comerem, portanto não precisam mais de filhos. Controlamos nossa fertilidade e isso é um marco pouco percebido. A TV foi a grandiosa manifestação de uma nova era. Em pouco tempo, via Internet, ninguém vai ter os mesmos amigos que o vizinho. Enquanto a Baixa Magia ressurge em alguns momentos, como um canto do cisne, a Alta Magia morre. Ninguém mais agüenta uma ladainha fora da realidade como a que acontece nas Igrejas, ninguém agüenta aprender hebraico e grego para chamar espíritos, estudar cabala, e ficar fazendo pose de sério dentro de um círculo. As pessoas estão cínicas e irreverentes demais para isto, e se sentiriam ridículas.

A presença da magia está na física quântica e na realidade virtual, mas a catarse das raves prova que o homem não deixou o corpo para trás, como se esperava no passado. Informação é o poder do Mago moderno, que não trabalha mais com pergaminhos e tampouco com a espada, trabalha com o teclado e programas, manipulando chips e gigabytes à velocidade da luz.

Alberto Santos
Enviado por Alberto Santos em 27/06/2010
Reeditado em 09/12/2010
Código do texto: T2344051
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