Mentes Maravilhosas (Celismando Sodré - Mandinho)
MENTES MARAVILHOSAS
(Celismando Sodré - Mandinho)
Segundo Aristóteles, em sua obra METAFÍSICA – I , o iniciador do pensamento filosófico-científico foi um sujeito de mente poderosa e que estava além do seu tempo chamado Tales de Mileto ( século VI a.c), que buscou romper com o pensamento baseado no mistério e no sobrenatural para uma explicação mais natural e concreta que fosse fundamentada na razão e entendimento dos fenômenos físicos que elucidasse o que existe de real.
A filosofia. portanto, se fundamenta no questionamento e na busca da verdade de uma forma coerente e lógica, fornecendo respostas satisfatórias ao espanto e admiração daqueles homens brilhantes das colônias gregas da Ásia Menor, em especial da Jônia e de Atenas, que já não se contentavam com o pensamento tradicional da época, cuja as respostas não satisfaziam mais suas brilhantes e inquietantes indagações sobre a natureza, o cosmo, o homem e suas relações e complexidades.
Esses primeiros filósofos, também chamados PHISÍOLOGOS – estudiosos da natureza- buscavam explicações naturais para causas naturais, foram influenciados pelo intercambio cultural e comercial das primeiras viagens pelo mediterrâneo e outros mares da época, realizadas pelos povos que formavam a civilização grega antiga, eles descobriram não haver os monstros,os deuses e as histórias fantásticas descritos com assombro pelos navegantes e poetas errantes e que eram narradas nas antigas lendas. Foram também impulsionados pela invenção e expansão da escrita alfabética, pelo uso do calendário, surgimento dos debates sobre o governo e a política, começaram a desconfiar da mitologia contadas de forma extraordinária e incrivelmente imaginativa, principalmente por HOMERO e HESÍODO, autores das obras clássicas: A ILÍADA E A ODISSÉIA e a TEOGONIA e O TRABALHO E OS DIAS
Os filósofos da natureza, começam a perceber as leis incontestáveis da casualidade, relacionando causa e efeito, observando que um fenômeno era simplesmente o efeito de uma causa. Surge daí a necessidade da busca de um ELEMENTO PRIMORDIAL- ARGUÈ- que desse origem a tudo que existe. Para Tales de Mileto era a água (Hydor) por estar presente em todas as coisas e por ser a fonte da vida. Os sucessores de Tales, Anaximandro e Anaxímenes propuseram o Ar (Apeíron) como um elemento ilimitado e indefinido e não palpável, mais de existência inegável sendo também essencial para a vida. Heráclito dizia ser o Fogo, como algo poderoso e que a tudo consome e origina, Empédocles, numa visão de conjunto dizia que na verdade existiam quatro elementos primordiais: o fogo, a terra, a água e o ar, contribuindo com os avanços na química.
Porém, o mais surpreendente foi Demócrito que há mais de 2.500 anos atrás, intuiu ser o Átomo, que pensava ser a parte indivisível de tudo e pelo qual todas as coisas eram formadas, chegou a esta conclusão sem auxílio de microscópio ou qualquer tecnologia, a não ser o seu pensamento racional e seu senso de observação. Hipótese confirmada mais de vinte e quatro séculos depois. Hoje, existe a tese científica de que o Hidrogênio é encontrado em todo o universo e está em tudo que existe.
Quando Max Planck, revirou os princípios da Física Clássica e contribuiu com o surgimento da Mecânica Quântica, passando a aprofundar seus estudos sobre o que acontece nas camadas subatômicas, entre as moléculas, átomos, elétrons, prótons, pósitrons e outras partículas; fenômeno que ocorrem em níveis abaixo da escala atômica; ele revigorou as discussões das ciências exatas e fez surgir postulados filosóficos, psicológicos e até espirituais. Mais recentemente a Física Quântica abriu a possibilidade para um mundo ainda mais microscópico, infinitamente minúsculo e ainda incompreensível. As andas eletromagnéticas são as provas de que o impalpável existe.
De certa forma, essas mentes brilhantes fizeram surgir as ciências- Física, Astronomia, Quimica, Matemática, Biologia etc) divididas em áreas de estudos específicos, como conhecemos agora, porém com uma grande interconexão entre todas elas. Além disso eles criaram termos interessantes e presentes até hoje nos debates filosóficos como o Cosmo (Kosmo) em contra ponto a Caos, ligando o Cosmo a idéias de ordem, harmonia, beleza, (por isso o termo cosmético) sendo o mundo natural ordenado como a natureza e o espaço celeste e o Caos como sendo a desordem, a confusão e a própria falta de ordenamento, cabendo ao filósofo buscar o cosmo no caos, a ordem na desordem. Entre os Hindus, existe a idéia de que o universo representa uma sucessão entre o caos e o cosmo, a ordem e a desordem.
Outra idéia original dos primeiros filósofos, foi a utilização do LOGOS (Lógica) como conceito que representava etimologicamente, discurso racional, o que diferenciava do MYTHOS, Já que era preciso a argumentação racional, justificada e que tivesse correspondência entre a razão e a realidade natural. Outro fundamento básico era que as conclusões não podiam ser definitivas e sim sujeitas ao próprio questionamento, não representavam verdades absolutas e sim conclusões passíveis de discordâncias, desde que ao discordar se colocasse propostas que as substituíssem de forma coerente e fundamentada no logos.
Para esses pensadores gregos era natural que os discípulos divergissem dos mestres, indo além de suas conclusões na reformulação de suas idéias e no surgimento de outras mais consistentes, nada disso era desrespeitoso porque o que importava era a descoberta da verdade.
O pensamento filosófico-científico não foi uma exclusividade grega, outros povos buscaram, mesmo que de uma forma mais difusa, uma forma de raciocínio quando tentaram entender os fenômenos da natureza e os comportamentos humanos e quando usaram sua inventividade para transformar e controlar o meio em que viviam, como os Chineses, os Babilônios, os Egípcios, os Indianos, os Romanos e outros. O que diferenciava os filósofos gregos destes povos era o método muito mais rigoroso e científico, rompendo com as amarras do dogmatismo.