Façamos como eles
Um dia, assistindo ao BBB10, vi o Serginho, um dos participantes que mais chamaram a atenção, em "performances" memoráveis. O sério rapaz não perdia uma chance de baixar a cueca e ficar nu, mostrando o traseiro. Não me sobrou nenhuma dúvida sobre o que fazer para se dar bem. Se queremos sucesso, temos que ter um comportamento exibicionista, vulgar mesmo. Se formos a um "reality show", teremos mais chances de ser bem-sucedidos e juntar umas boas economias do que se trabalharmos de manhã à noite.
Por que trabalhar duro, desgastar-se tentando pagar nossas contas, estudar queimando neurônios para passar nesses tão concorridos concursos públicos, se o melhor é tentar entrar no BBB e, se conseguir, fazer tudo para aparecer usando pouca roupa, embebedar-se nas festas, falar muito palavrão e, se possível, arrumar um parceiro? O público gosta de ver casais, ainda que seja pouco provável que continuem juntos fora da casa.
Melhor não fazer o tipo quieto ou poderá ser chamado de insosso ou mesmo de falso, que se faz de amigo para ficar no programa até o fim. Quem assiste, quer ver intrigas, fofocas, inimizades. Quando há brigas com palavras impronunciáveis, a audiência é garantida e vira assunto de jornal e revista.
Nós concluímos que não adianta ter um comportamento digno, batalhar, lutar honestamente por uma vida melhor. O certo é não ter senso do ridículo, ser vulgarissímo, expor-se, porque esta é a receita certa de notoriedade. Um participante pode não ganhar o primeiro prêmio, mas há portas abertas, principalmente se for mulher e jovem. Quantas, saindo do programa, não tiraram fotos sensuais ou posaram para revistas masculinas?
Não ser vulgar é ser chato, besta, afinal, tudo vale para ser bem-sucedido. Inclusive se fechar numa casa com outras pessoas, expor nossa intimidade e derrubar nossos valores. Um homem que participar deve aceitar e sorrir se o mandarem usar um traje azul de bailarina com tiaras de pompom e rebolar o quadril como uma dançarina, já que ser ridículo compensa. O que não compensa é ser sério e responsável.
Depois, dizem que só se será alguém se estudar e se esforçar. mas, sejamos práticos, alguém dá valor a quem lê Clarice Lispector ou Machado de Assis? Não, dá-se valor a quem mostra o corpo, fala palavras chulas e assume posturas ridículas.
Então, façamos como eles, os participantes do BBB. Quem sabe, sendo vulgares e obscenos, não realizaremos, em dois ou três meses, o que muitos levam vidas inteiras para conseguir. Se o conseguirem.