Genismo

O Genismo é uma filosofia materialista, baseada no neodarwinismo, que tem como finalidade maximizar a felicidade humana.

Por ser materialista o Genismo não assume nenhum tipo de entidade metafísica para construir seu arcabouço teórico, e por ser neodarwinista entende os seres vivos como "máquinas perpetuadoras de genes": Todo organismo vivo é resultado de um processo de bilhões de anos de evolução por seleção natural, e existem hoje apenas os descendentes dos que conseguiram perpetuar seus genes, e que, portanto, devem também possuir esta característica.

O Genismo toma essa característica biológica intrínseca dos organismos também como uma meta cultural. Isso evita que memes maléficos possam reprimir nosso intento biológico básico e gerar infelicidade.

O Genismo, entretanto, estende o sentido da "máquina de sobrevivência", conceito biológico no qual os seres vivos foram programados para sobreviverem e perpetuarem seus genes, para tomar nossa essência como sendo os próprios genes. Dessa forma nossa consciência não é mais o nosso "eu", ela é apenas mais um apêndice dos nossos genes - da mesma forma que o estomago ou as unhas o são - e existe apenas 'para' auxiliar os genes (nós) no seu 'ímpeto' de imortalidade.

É muito importante termos em mente que nossos genes não estão apenas em nossos corpos, mas também compartilhados, em maior ou menor proporção, entre todos os seres vivos do planeta. Assim, preservar a vida é preservar nossa própria imortalidade, auxiliar o próximo é ajudar também a nós mesmos.

O Genismo é, portanto, um novo modo de ver o homem que, sem apelar para o místico, para o religioso ou Deus, propõe, via genes, uma integração existencial de todos os seres vivos - eu existo em você e você existe em mim – e uma forma não ilusória de imortalidade.

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As Bases

Os Pilares do Genismo

Filosofia Genética

As raízes do genismo datam de aproximadamente 20 anos atrás, pelos idos da década de 1980. Naquela época, eu havia criado o que eu chamei de "Filosofia Genética" [1]. A Filosofia Genética era uma doutrina simples, baseada na constatação de que não podíamos mudar nossos instintos, já que são geneticamente codificados, mas poderíamos fazer isso com nossa cultura, nossas crenças, que são produtos culturais, e portanto, podem ser substituídos. Para mim, era claro na época, que muito de nosso sofrimento residia na dicotomia entre nossos valores, como a religiosidade, ética e moral, por um lado, e do outro nossos instintos, vontades e desejos. Então, a melhor coisa que poderíamos fazer seria adequar, o máximo que fosse possível, nossa cultura à nossa biologia, e não o contrário. O oposto seria biologicamente impossível. Colocar nossas crenças e cultura contra nosso imperativo biológico só poderia produzir mais sofrimento e infelicidade.

Diga-se de passagem, a teoria da sexualidade freudiana pode ser vista como uma das facetas dessa minha antiga “filosofia genética”, pois a sexualidade desempenha um importante papel instintivo e, era de se esperar que, por exemplo, uma violenta repressão nestes instintos pudessem provocar sofrimentos ou distúrbios variados.

Posteriormente, por volta de 1990, ainda intrigado com a natureza biológica do homem, li o fantástico livro O Gene Egoísta, de Richard Dawkins. O livro mostrava claramente que todos os seres vivos, sem exceção, evoluíram por seleção natural "para" perpetuarem seus genes. O "para" está entre aspas porque se trata de uma notação metafórica: os organismos não têm, na verdade, um objetivo consciente de perpetuarem seus genes. Eles agem desta maneira, instintivamente, por impulsos ou reações pré-codificadas em seu sistema nervoso, que podem ser até bastante complexas, porque apenas os organismos (tomados como um conjunto de genes) que conseguem transmitir seus genes às gerações futuras permanecem no pool genético da população. Os que não o fazem, ou não conseguem fazê-lo por algum motivo, não têm estes genes preservados, e portanto suas características são também eliminadas. Então, tudo se passa como se houvesse uma intenção dos organismos vivos em agirem em conformidade com a sua perpetuação genética.

Devemos notar que o valor instintivo à vida, isto é, a própria sobrevivência, nada mais é do que um dos muitos fatores da preservação genética. Antes que o leitor pense, como muitos que tomam contato com a doutrina pela primeira vez, que o genismo se resume a filhos, devo dizer que isso é uma simplificação grosseira. Lembrar que nossos genes não estão apenas em nossos corpos, como veremos, fará toda a diferença do mundo.

"Os Genes nos criaram e a eles deveremos servir"

Pois bem, o Gene Egoísta de Dawkins, mostrava claramente, com inúmeros exemplos do mundo natural, que os seres vivos tinham sido programados por seleção natural “para” perpetuarem seus genes. Perpetuar genes significa fazer com que eles sobrevivam ao máximo através das gerações. Na verdade, os organismos podiam ser vistos como carcaças, dispositivos biológicos ou "Máquinas de sobrevivência", como era chamado pelos biólogos evolucionistas da época, “para” sobreviverem e passarem seus genes às próximas gerações.

No livro, talvez por prudência, Dawkins não utilizava exemplos humanos para demonstrar este ponto de vista e, na verdade, para minha própria sorte, ele declarava justamente que deveríamos ir contra nossos genes! Em suas palavras:

"... Compreendamos o que pretendem os nossos próprios genes egoístas, para que possamos ter a oportunidade de frustrar as suas intenções, uma coisa que nenhuma outra espécie alguma vez aspirou a fazer...".

Para o leitor começar a entender este paradigma gene-perpetuativo, é interessante notar que os animais ditos irracionais não empreendem batalhas e guerras sanguinárias e mortais contra seres de sua própria espécie e, até de forma surpreendente, raramente ocorre morte entre eles em lutas individuais, como pela disputa de território ou de fêmeas no cio. Mesmo na busca por alimento, e em situações de muita fome, dificilmente uma espécie se alimenta de seres de sua própria espécie. Por que isso é assim? A sobrevivência não seria o imperativo biológico maior?

Isso acontece porque, como já dissemos, a natureza biológica dos seres vivos está centrada na perpetuação dos genes do organismo compartilhados, e não da sobrevivência de seus organismos individuais. Se o paradigma biológico fosse apenas a sobrevivência, pura e simples, nenhuma fêmea arriscaria sua vida para salvar seus filhotes do perigo, os animais, em momentos de fome, caçariam e comeriam os de sua espécie e até mesmo suas próprias crias. Mas isso raramente acontece. O que ocorre é que os animais ditos “selvagens”, seguem seus genes mais de perto do que nós humanos. Nós humanos possuímos a consciência e um poderoso cérebro capaz de, inclusive e infelizmente, trair nossos genes. E isso ocorre não apenas através de guerras contra nossos semelhantes, utilizando-se das famosas "armas de destruição em massa", mas também contra nós mesmos e, como conseqüência, com o comprometimento de nossa própria felicidade.

"A felicidade é trilhar o caminho da perpetuação genética"

Assim, a minha antiga "filosofia genética" evoluiu para o genismo algum tempo depois de eu ter lido O Gene Egoísta e percebido que deveríamos evitar agir contra nossos genes, mas agir a favor deles. Claro que deveríamos estar restritos a algum domínio ético, mas, ainda assim, teríamos um amplo campo de ação que minimizaria nossos sofrimentos, dar-nos-ia um sentido à vida, e uma nova forma de imortalidade, não mais baseada em ilusões, mas em entidades reais: os genes.

O genismo nesta fase que, posso dizer, durou de 1990 a abril de 2003, estabelecia que deveríamos assumir culturalmente nossa condição biológica de "Máquinas Perpetuadoras de Genes" e agir no sentido de perpetuá-los. Como resultado de tais ações, que chamei de ações gene-perpetuativas, maximizaríamos nossa felicidade, pois reduziríamos ao mínimo os conflitos cultura x instinto e integraríamos nossa cultura com nossa essência biológica mais profunda.

"Nossos genes são nossos bens mais preciosos"

É claro que a aceitação de nossa condição intrínseca de "máquinas perpetuadoras de genes" não é algo trivial: ela impõe mudanças em nossos antigos valores, alguns talvez baseados em religiões, e mudar valores e crenças arraigadas é, por certo, a tarefa mais difícil do mundo. Mas a doutrina estabelece, claramente, que nosso maior valor são nossos genes, e se nós quisermos maximizar a felicidade sem corromper a verdade, teremos de aceitá-la.

É muito importante frisar, novamente, que nossos genes não estão apenas em nossos corpos individuais, mas espalhados pela humanidade, assim como entre outras espécies. Partilhamos a maior parte de nossos genes com nossos descendentes e parentes, mas a diferença com outros membros da mesma espécie não é tão grande assim. Compartilhamos cerca de 86% de genes idênticos (não de cromossomos) com nossos filhos, e cerca de 68% de genes, também idênticos, com outra pessoa qualquer da mesma espécie.

Este compartilhamento genético deveria proporcionar, no nível de valor cultural, um reconhecimento e uma aceitação do outro ser como parte de nós mesmos. Dessa forma, a aceitação do genismo pode (e deve) patrocinar um maior altruísmo em relação à nossas escolhas e ações. O que causa um aumento do egoísmo humano é pensar que a nossa consciência somos nós, a nossa essência. Esse egoísmo ocorre porque a consciência é normalmente entendida, e também aceita, como algo individual, e diferentemente dos genes, algo que não pode ser compartilhado. Devemos lembrar ainda que egoísmo dos genes não implica, necessariamente, em egoísmo comportamental, muitas vezes ocorre o oposto: considere, por exemplo, uma mãe, não necessariamente humana, que arrisca a sua vida para salvar a de seus filhos. Este comportamento altruísta por parte da mãe em relação a seus filhos foi produzido por um “egoísmo” de seus genes que "querem" sobreviver e perpetuar-se, e isto induziu a um altruísmo comportamental da mãe em relação a seus filhos. Existem diversas formas de altruísmo genético (instintivo) também com seres da mesma espécie, mas não diretamente aparentado.

"Deus não existe, e o único modo de transcender à morte é através dos genes".

O genismo é um ramo do ateísmo e está compromissado com a ciência e a verdade, por isso, de modo geral, não são consideradas como benéficas crenças desvinculadas da realidade tais como religiões, misticismos, esoterismos e outras formas religiosas ou pseudo-científicas desprovidas de evidências factuais. Religiões deístas, principalmente, são vistas pelo genismo como memes alienantes e perigosos, pois seus seguidores têm, em geral, uma forma deturpada de ver o mundo que, por vezes, pode levar a contradições, a injustiças e à infelicidade.

Os genistas –seguidores do genismo- devem ser tolerantes aos infectados (crentes) pelos memes religiosos, pois sabem que estes crentes tiveram seus cérebros contaminados em geral em tenra idade, com poderosos, e às vezes irresistíveis, vírus meméticos, e como estes memes, através da fé, levam o indivíduo a uma contínua e persistente aceitação das contradições (implícitas nestas religiões) com os fatos, fica extremamente difícil fazê-los perceber que estas contradições deveriam implicar a falsidade do seu conjunto de premissas (crenças).

A imortalidade através dos genes faz reforçar nossas ações gene-perpetuativas, e é também uma forma de felicidade que o genismo fornece. Contudo, genes são entidades reais, almas não são, portanto, o sentimento de imortalidade via genes é uma crença com respaldo factual. Assim, podemos ver o genismo como gerador de duas fontes distintas de felicidade: A primeira, a mais pragmática, traz a felicidade reduzindo os conflitos culturais (memes x genes), quebrando a dicotomia entre a cultura e a biologia, portanto, levando o indivíduo a uma maior integração corpo-mente. A segunda fonte de felicidade genista é de um nível mais "elevado", ideológico talvez, provém do sentimento de imortalidade via genes, e com isso fornece um sentido transcendente à vida sem recorrer às falsas ilusões.

"A Ética genista é a ‘Meta-Ética-Científica’"

O genismo leva o indivíduo a valorizar os seus genes e faze-lo agir de forma a querer, conscientemente, a perpetuá-los. É "para isso" que fomos evoluídos, e o genismo reforça dizendo que é para isso também que devemos viver. O genismo transforma, assim, uma meta biológica numa meta cultural. Unifica cultura e biologia. Esta nova forma de vermos a nós mesmos faz com que nos integremos à nossa essência imutável que é a nossa programação genética.

Contudo, podem existir possibilidades gene-perpetuativas que, embora possam trazer felicidade ou prazer ao seu executor, podem provocar mais sofrimento e infelicidade a outros indivíduos, diminuindo a felicidade total do grupo, o que vai contra os princípios da MEC. Neste caso, estas possíveis ações devem ser evitadas, uma vez que o genismo está, por construção, restrito ao domínio da MEC. Devemos, portanto, sempre estarmos atentos, e não perder de vista, o objetivo do genismo: a felicidade. Embora o genismo ainda não possua um código de ética explícito e detalhado, as restrições éticas às nossas ações devem, necessariamente, ser baseada na “meta-ética-científica”: a felicidade de cada um está limitada à felicidade do grupo, isto é, um indivíduo do grupo não deve aumentar sua própria felicidade à custa da felicidade total do grupo. A felicidade total tem prevalência sobre a felicidade individual.

"Nós somos nossos genes"

Em abril de 2003, o genismo deu mais um passo evolutivo: vinha se tornando cada vez mais claro para mim que a nossa consciência não era a nossa essência, e sim nossos genes. Antes, o genismo fazia um tratamento por demais diferenciado entre o ‘nós’ e ‘nossos genes’. Tratávamos nossos genes como "eles". Deveríamos servi-los, e viver em função deles. Implicitamente estávamos privilegiando a nossa consciência como nosso verdadeiro "eu". A partir desta data, não mais. A nossa consciência, assim como nossos braços, estômagos, olhos e unhas devem ser vistos como apêndices de nosso verdadeiro eu: nossos genes.

Embora nossa consciência tenha, aparentemente [2], o controle de nossas ações, ela é resultado de uma pequena parte do processamento cerebral. Talvez, quem sabe, até de uma diminuta área de nossos cérebros. Assim, até fisicamente é mais razoável pensarmos que somos nossos genes, já que, diferentemente da consciência, eles permeiam praticamente todas as células de nosso corpo: dos dedos dos pés ao núcleo de cada um de nossos neurônios.

Entretanto, a ditadura da consciência fez suas raízes bastante profundas. Ainda vai levar tempo para que este novo paradigma se reflita em nossa linguagem coloquial, e por isso deveremos ser compreensivos quando ainda tratarmos os genes como "eles" e nossa consciência como "nós", mesmo porque também não seríamos entendidos por quem não conhece o genismo. Mas o genista saberá que quando falarmos que estamos batalhando para perpetuar nossos genes, devemos entender que estamos trabalhando para a nossa própria imortalidade.

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Existe mais de uma maneira de se chegar ao genismo. Uma delas é através da Meta-Ética-Científica (MEC): a felicidade é maximizada nos centros de prazeres do cérebro que a produzem quando o organismo age de acordo com sua programação evolutiva, isto é, age no sentido de perpetuar seus genes. Outra maneira é através do estudo da evolução da vida. O texto a seguir, um dos primeiros que fiz a respeito deste novo paradigma, mostra como o genismo pode ser entendido através do estudo neodarwiniano da evolução da vida.

Mais sobre Genismo:

http://www.genismo.com/genismo2.htm