POR MAIS BIBLIOTECAS
Não me canso de citar o Oscar Wilde: “O que é da minha conta me aborrece mortalmente; prefiro meter-me no que é da conta alheia.” Hoje, em nome da conta de todos, re-refaço a surrada citação do insigne britânico em defesa de que haja sempre, e cada vez mais, bibliotecas no Ceará, no Brasil e no mundo.
O Ministério da Cultura (Minc) acabou de divulgar, ontem, uma pesquisa na qual revela que em 420 cidades brasileiras não existem bibliotecas municipais. E a notícia do jornal acrescenta, em termos numéricos: “O índice representa 7,5% dos 5.565 municípios em todo o país. O estado com o maior número de cidades sem esses espaços para leitura é o Maranhão, com 61 municípios” (O POVO, Fortaleza, Cad. Política, 1º/05/2010, p. 28).
Coitado do Ceará, ainda acompanhando a leitura do conceituado matutino: “... é 19º lugar no ‘ranking’ de bibliotecas municipais em relação ao número de habitantes. Existem 11 cidades no Estado sem biblioteca municipal: Acarape, Araripe, Carnaubal, Chorozinho, Forquilha, Ibicuitinga, Icapuí, Itatira, Jaguaribara, Morrinhos e Tauá.” Lamentável, sob todos os pontos de vista.
O senso responsável pela pesquisa – 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais –, sob os auspícios do Ministério, foi realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ou seja, uma entidade séria, que desceu às minudências do problema ausência de bibliotecas no Brasil.
Para que se tenha o exato resumo gris do levantamento, eis em cifras alguns resultados obtidos: 1- 420 municípios brasileiros não possuem bibliotecas municipais; 2- apenas 147 bibliotecas municipais existem atualmente no Ceará; 3- 19ª colocação é a posição do Ceará no ‘ranking’ de bibliotecas por habitantes.
A quem possa mais interessar o resultado do Censo, por sinal, bom que se comente, e sem favor algum, uma pesquisa bastante bem feita e minuciosa, que navegue em www.cultura.gov.br/site/2010/04/30/primeiro-censo-nacional-das-bibliotecas-publicas-nacionais/
É uma vergonha o número de espaços para leitura em nossas escolas públicas e privadas, de ponta a ponta do território nacional. Sempre impliquei que a sala de visitas das escolas não devia ser a quadra esportiva, embora nada tenha eu contra os esportes. Ao contrário, penso que eles devem ser incentivados e praticados com muita fartura.
Mas, ao meu modesto entendimento, em qualquer casa de educação, a sala de estar, e com todos os implementos necessários e com primoroso visual, inclusive com o uso da Informática, deve ser sua excelência, a biblioteca. Algumas escolas particulares priorizam é as salas de jogos e, por um nadinha, o menino sai da sala de aula para permanecer lá no bem-bom desses aprazíveis e enganadores recintos.
As livrarias, no mesmo infeliz ritmo das bibliotecas, também são muito parcas. Alguns ‘shoppings’ têm de tudo, jogos eletrônicos, por exemplo, menos uma livraria. Somente num certo populoso bairro de Fortaleza, ao lado do Atlântico, temos mais motéis que livrarias em todo o Estado, incluindo aí Capital e interior. Isto é franciscanamente verdadeiro, e não que eu seja contra a existência dos motéis. Ao contrário, acho-os úteis e necessários.
POR MAIS BIBLIOTECAS, portanto, esta é a nossa palavra de ordem, válida para todos os níveis de escolas e de vilarejos, cidades e capitais brasileiras, em todos os quadrantes do mapa. A propósito, estamos num sábado, 1º de Maio, Dia do Trabalhador, e que tal empunharmos a pacífica, utilitária e pragmática arma de um bom livro?
Gente que não lê estará fadada a virar uma lesma. E vai sempre embarcar na canoa sem fundo dos papos furados. O mercado da politiquice aproveita-se do ingênuo, o “analfabeto político”, do Brecht, e que não lê patavina. Assim, o maria vai com as outras que não questiona e nem se questiona a si mesmo, por carência de boas ideias, ideias conscientes, através de bons livros, revistas e jornais, vai mesmo é cair como um patinho bobo na esparrela das más eleições.
Fort., 1º/05/2010.