O GROTESCO NO NOSSO DIA-A-DIA
O grotesco pode ser considerado como uma aberração de estrutura ou de contexto. Muniz Sodré, no seu livro A Comunicação do Grotesco diz: “...o fabuloso, o aberrante, o macabro, o demente - enfim, tudo que a primeira vista se localiza numa ordem inacessível à “normalidade”humana - encaixam-se na estrutura do grotesco”.
Os grandes agrupamentos urbanos, convivendo diariamente com a angústia, por um mecanismo de compensação são dotados de grande afinidade com o estranho e o exótico. Assimilam aquilo que lhes agradam e passam a influir, através de pesquisas de opinião pública, na perpetuação da programação oferecida pelos meios de comunicação de massa. O grotesco sempre esteve presente no mundo, quer seja de forma explícita ou fazendo uso de maquiagem. Marcou sua presença nas artes em geral, como na pintura. Na poesia causou espanto em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, um exemplo marcante foi o poeta paraibano Augusto dos Anjos. Na sua obra “Eu” (1912), explora as temática da podridão, da decomposição e dos terrores noturnos. Usando uma forma complexa de escrever, foi considerado pelo público e pela crítica do seu tempo, habituado com a elegância parnasiana, um criador do mau gosto.
O jornalismo impresso, utilizando o sensacionalismo, faz uma abordagem através de ângulos considerados espetaculares de um determinado assunto. O uso da fotografia nas revistas e jornais tem o objetivo de atender as necessidades industriais de convencer e vender. No Brasil a revista O Cruzeiro foi quem primeiro lançou a reportagem denúncia de cunho sensacionalista, com o seu apogeu de 1950 a 1959. Chegou inclusive a atingir uma tiragem de 750 mil exemplares na época. Hoje muitos jornais brasileiros ainda utilizam o velho padrão “se espremer sai sangue” para atrair leitores.
O rádio e a música encontram-se recheadas pelo grotesco. A música catalogada como grotesca, conquista uma importante fatia do mercado. O pernambucano Reginaldo Rossi, considerado “O Rei do Brega”, é figura de destaque no meio artístico. O cearense Falcão, com sua forma exótica de vestir-se, é outro exemplo de irreverência e da presença do grotesco. Ele procura desconectar a realidade do cotidiano através da sátira.
A televisão, utilizando efeitos de montagem e de dramatização, proporciona condições para que a mensagem se torne mais sensacionalista. Um dos primeiros a utilizar esse meio de comunicação para apresentar o grotesco foi Chacrinha, chamado de “O Velho Guerreiro”. No seu programa apresentava cantores com estilo e repertório de péssima qualidade, calouros que provocavam risos por algumas características ( velhice, ausência de dentes, gagueira acentuada, debilidade mental, etc.). Ele era considerado o bobo da corte de consumo, que oferecia um grotesco com função social. Era o palhaço adaptado a eletrônica, mostrando o ridículo da nossa “sociedade de consumo”. Hoje, inúmeros programas como “Domingão do Faustão”, “Pânico na TV” “Programa Silvio Santos” , “Ratinho” e outros usam o grotesco como forma de atrair os telespectadores. Exibem reportagens sensacionalistas de tragédias coletivas ou individuais; brigas de vizinhos ou familiares ou falsa gravidez do sexo masculino. Portadores de deformidades físicas são muitas vezes mostrados como monstros ou fenômenos sobrenaturais e muitas outras aberrações.
A relatividade temporal e cultural são características pertinentes ao grotesco. Um produto pode ser veiculado como grotesco e com o passar dos anos vir a ser considerado como de boa qualidade. Como exemplos poderíamos citar os Beatles, que surgiram como os “cabeludos barulhentos de Liverpool” e depois consagraram-se como um fenômeno da música internacional. No cinema temos o exemplo de Carlitos (Charles Chaplin), que surgiu como o vagabundo solitário, mal vestido, vindo a conquistar o mundo, servindo de modelo para a dramaturgia. A outra característica, a relatividade cultural, refere-se ao fato de um mesmo produto ser catalogado como grotesco numa sociedade e deixar de ser em outra sociedade com diferente cultura. O hábito de arrotar após as refeições, por exemplo, é considerado como grotesco na nossa cultura; entretanto, em algumas tribos africanas é uma maneira de mostrar que gostou da refeição, sendo considerado indelicado quem assim não procede.
Acreditamos ser quase impossível a eliminação do grotesco do nosso dia-a-dia. O IBOPE contribui de forma importante para a sua perpetuação: quanto maior for a aceitação de um produto pelos consumidores da mídia, maior será a oferta desse produto. A melhoria do nível educacional do nosso povo com certeza diminuiria a aceitação do grotesco, principalmente aquele mais aberrante. Poderíamos dizer que existe uma gradação do grotesco, partindo de um tipo menos agressivo até o mais chocante. Todos nós, de uma forma ou de outra, gostamos de algum tipo de grotesco. Acreditamos que ele sempre existirá no mundo, cabendo a nós encontrar uma maneira de eliminar a que há de mais pernicioso e convivermos harmonicamente com o que existe de inofensivo ou agradável.
Bibliografia
SODRÉ, Muniz. A comunicação do Grotesco. Editora Vozes/SP: 1977.
SODRÉ, Muniz e PAIVA, Raquel.O Império do Grotesco.Rio de Janiero, Mauad, 2002.
O grotesco pode ser considerado como uma aberração de estrutura ou de contexto. Muniz Sodré, no seu livro A Comunicação do Grotesco diz: “...o fabuloso, o aberrante, o macabro, o demente - enfim, tudo que a primeira vista se localiza numa ordem inacessível à “normalidade”humana - encaixam-se na estrutura do grotesco”.
Os grandes agrupamentos urbanos, convivendo diariamente com a angústia, por um mecanismo de compensação são dotados de grande afinidade com o estranho e o exótico. Assimilam aquilo que lhes agradam e passam a influir, através de pesquisas de opinião pública, na perpetuação da programação oferecida pelos meios de comunicação de massa. O grotesco sempre esteve presente no mundo, quer seja de forma explícita ou fazendo uso de maquiagem. Marcou sua presença nas artes em geral, como na pintura. Na poesia causou espanto em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, um exemplo marcante foi o poeta paraibano Augusto dos Anjos. Na sua obra “Eu” (1912), explora as temática da podridão, da decomposição e dos terrores noturnos. Usando uma forma complexa de escrever, foi considerado pelo público e pela crítica do seu tempo, habituado com a elegância parnasiana, um criador do mau gosto.
O jornalismo impresso, utilizando o sensacionalismo, faz uma abordagem através de ângulos considerados espetaculares de um determinado assunto. O uso da fotografia nas revistas e jornais tem o objetivo de atender as necessidades industriais de convencer e vender. No Brasil a revista O Cruzeiro foi quem primeiro lançou a reportagem denúncia de cunho sensacionalista, com o seu apogeu de 1950 a 1959. Chegou inclusive a atingir uma tiragem de 750 mil exemplares na época. Hoje muitos jornais brasileiros ainda utilizam o velho padrão “se espremer sai sangue” para atrair leitores.
O rádio e a música encontram-se recheadas pelo grotesco. A música catalogada como grotesca, conquista uma importante fatia do mercado. O pernambucano Reginaldo Rossi, considerado “O Rei do Brega”, é figura de destaque no meio artístico. O cearense Falcão, com sua forma exótica de vestir-se, é outro exemplo de irreverência e da presença do grotesco. Ele procura desconectar a realidade do cotidiano através da sátira.
A televisão, utilizando efeitos de montagem e de dramatização, proporciona condições para que a mensagem se torne mais sensacionalista. Um dos primeiros a utilizar esse meio de comunicação para apresentar o grotesco foi Chacrinha, chamado de “O Velho Guerreiro”. No seu programa apresentava cantores com estilo e repertório de péssima qualidade, calouros que provocavam risos por algumas características ( velhice, ausência de dentes, gagueira acentuada, debilidade mental, etc.). Ele era considerado o bobo da corte de consumo, que oferecia um grotesco com função social. Era o palhaço adaptado a eletrônica, mostrando o ridículo da nossa “sociedade de consumo”. Hoje, inúmeros programas como “Domingão do Faustão”, “Pânico na TV” “Programa Silvio Santos” , “Ratinho” e outros usam o grotesco como forma de atrair os telespectadores. Exibem reportagens sensacionalistas de tragédias coletivas ou individuais; brigas de vizinhos ou familiares ou falsa gravidez do sexo masculino. Portadores de deformidades físicas são muitas vezes mostrados como monstros ou fenômenos sobrenaturais e muitas outras aberrações.
A relatividade temporal e cultural são características pertinentes ao grotesco. Um produto pode ser veiculado como grotesco e com o passar dos anos vir a ser considerado como de boa qualidade. Como exemplos poderíamos citar os Beatles, que surgiram como os “cabeludos barulhentos de Liverpool” e depois consagraram-se como um fenômeno da música internacional. No cinema temos o exemplo de Carlitos (Charles Chaplin), que surgiu como o vagabundo solitário, mal vestido, vindo a conquistar o mundo, servindo de modelo para a dramaturgia. A outra característica, a relatividade cultural, refere-se ao fato de um mesmo produto ser catalogado como grotesco numa sociedade e deixar de ser em outra sociedade com diferente cultura. O hábito de arrotar após as refeições, por exemplo, é considerado como grotesco na nossa cultura; entretanto, em algumas tribos africanas é uma maneira de mostrar que gostou da refeição, sendo considerado indelicado quem assim não procede.
Acreditamos ser quase impossível a eliminação do grotesco do nosso dia-a-dia. O IBOPE contribui de forma importante para a sua perpetuação: quanto maior for a aceitação de um produto pelos consumidores da mídia, maior será a oferta desse produto. A melhoria do nível educacional do nosso povo com certeza diminuiria a aceitação do grotesco, principalmente aquele mais aberrante. Poderíamos dizer que existe uma gradação do grotesco, partindo de um tipo menos agressivo até o mais chocante. Todos nós, de uma forma ou de outra, gostamos de algum tipo de grotesco. Acreditamos que ele sempre existirá no mundo, cabendo a nós encontrar uma maneira de eliminar a que há de mais pernicioso e convivermos harmonicamente com o que existe de inofensivo ou agradável.
Bibliografia
SODRÉ, Muniz. A comunicação do Grotesco. Editora Vozes/SP: 1977.
SODRÉ, Muniz e PAIVA, Raquel.O Império do Grotesco.Rio de Janiero, Mauad, 2002.