Roberto Carlos, nosso Rei?
Caetano certa feita disse quando perguntado pela imprensa quem era o rei da música brasileira: "É bom saber quem é o rei." Na ocasião, Caetano defendia a coroa de Roberto Carlos.
Mas ora, o próprio Caetano é mais rei que o rei. Num país com tantos vultos geniais, como Vila Lobos, Noel Rosa, Antônio Carlos Jobim, Cartola, Pixinguinha, Chico Buarque de Holanda - só para citar alguns - como alguém pode ostentar durante tanto tempo o honroso título de Rei da Música Brasileira? Está aí uma coisa que não consigo engolir: a realeza desse artista mediano em meio a artistas tão majestosos. É nessas horas que vem a pergunta: quais seriam possivelmente as razões para esse estranho fenômeno?
Isso tem dedo de grupos que não viam (e não vêem) grandes lucros comerciais em músicas e em letras mais elaboradas. Letras que a indústria fonográfica costuma classificar cinicamente como "letras de baixo apelo comercial". Quando dizem isto estão expondo de maneira crua uma censura, não mais nos moldes antigos da Ditadura, gerida pelo Estado, mas nos moldes de um sistema perverso, que estabelece o que "deve" e o que "não deve" ser ouvido. La poderosa Rede Globo do Sr. Roberto Marinho é belíssimo exemplo. Desde os Anos de Chumbo até hoje, enquanto outros eram censurados, prossegue venerando à Sua Majestade, Roberto Carlos. Todo mês de dezembro, a mesma toada: "Não adianta nem tentar me esquecer..."
Mas como esquece?
Há quanto tempo a mesma Globo não faz um especial pro Chico, pro Pixinguinha? Roberto Carlos pode ser sim, o rei no número de discos vendidos. Mas e a publicidade em torno dele? E o contexto histórico? Foi e continua sendo um fenômeno comercial. Roberto tem seus méritos, não nego, faz parte do imaginário popular, é um mito, um sucesso; mas rei, por favor, nem aqui nem na China!
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