18 DE OUTUBRO – DIA DO MÉDICO

Sérgio Martins Pandolfo*

Ainda ressoam, em todo o País, as homenagens levadas a efeito pelo transcurso, no dia 18 de outubro, do Dia do Médico, honrada e laboriosa categoria profissional à qual me orgulho de pertencer, que tantos e tamanhos serviços tem assinalados em favor da melhoria das condições sanitárias, assistenciais e mesmo sociais da população deste nosso grandioso, mas ainda carente Brasil.

Essas demonstrações espontâneas – pois que não pedidas – de apreço e distinção vêm, em parte, pôr de manifesto o reconhecimento e a gratidão do povo brasileiro por aqueles que, quase sempre de maneira anônima e incompreendida, pugnam pela preservação de sua saúde e revigorar a disposição e o empenho de quantos nesse setor labutam, em especial aqueles que se iniciam na difícil e extenuante profissão, tantas vezes injustiçada, bem como dos futuros médicos, que nos bancos universitários e nos hospitais, diuturnamente, junto aos que anseiam por um lenitivo aos seus sofrimentos, acumulam os indispensáveis conhecimentos que haverão de distribuir posteriormente multiplicados, na humanitária missão de mitigar a dor e as angústias dos que deles se socorrerem.

Quando contemplamos o Brasil em sua vastidão territorial, quando sentimos que o desenvolvimento brasileiro desafortunadamente ainda não atingiu a assistência médica naquilo que ela pode e naquilo que se deve fazer em benefício do homem brasileiro, sobretudo em benefício da mulher brasileira e, mais ainda, em benefício da criança brasileira, nós compreendemos o papel preponderante que desempenha a classe médica para que possamos, em futuro próximo, atingir esses objetivos.

Grandes vultos da medicina nacional e, também assim, da medicina paraense se têm destacado nos diversos setores da área médica e isso não é, por certo, de todo desconhecido. Trabalhar e batalhar no terreno científico nos dias que vivemos é uma contribuição ímpar, dentro das ambições humanas, porque se cada homem, se cada estado, se cada país tem pontos de vista diferentes e muitas vezes opostos diante dos problemas do bem- estar e da paz do mundo, a ciência é sempre a mesma, qualquer que seja a sua nacionalidade, trilha sempre o mesmo terreno, traz os mesmos ideais, reunindo sempre os homens em torno de um princípio, trabalhando em uníssono para maior benefício da humanidade.

A ciência e a tecnologia devem se tornar elementos básicos de cultura para todas as idades. Sem ciência, sem cultura, mas sobretudo sem saúde, agravadas da falta do imprescindível apoio econômico, dificilmente se conseguiria um evolver útil e proveitoso a qualquer país que anseie sair de um estágio de subdesenvolvimento.

A formação do medido moderno, na realidade complexa, longa e difícil, nunca se faz completamente. O grande mestre Berardinelli costumava dizer: “Médicos nunca se formam”. E, em verdade, não há dia nem hora na sua vida em que não acrescente ao seu patrimônio intelectual, moral e de capacitação funcional um fato novo, uma nova experiência, qualquer que ela seja: aquisições científicas conseguidas na literatura, tão vasta e tão esparsa, nos cursos, conferências, aulas, reuniões científicas, conversas profissionais, assistindo a operações de outros mais graduados e, sobretudo, meditando e revivendo seus próprios casos, seus êxitos e, principalmente, seus desacertos. Daí nossa convicção pessoal de que não há médico completamente feito: existem os mais ou menos famosos, mais ou menos compreensivos e humanos, mais ou menos apaixonados pela profissão, mas nunca atingindo a experiência, o saber total.

Contam-nos (e nos oferece a História), exemplos edificantes de homens que deram suas vidas em favor das pesquisas que redundaram em melhoria das condições de saúde do povo. Poderíamos, neste ensejo, citar numerosos exemplos. A campanha contra a febre amarela, nos primórdios do século passado, os estudos sobre o beribéri, sobre a filariose, sobre a malária, sobre a poliomielite, a abreugrafia, restariam, dentre tantos outros, para fazer ressaltar nomes como os de Osvaldo Cruz, Carlos Pinto Seidl – paraense de nascimento e grande higienista nacional -, Gaspar Vianna, igualmente nascido em solo parauara, Evandro Chagas (deu seu nome a famoso instituto de pesquisas em Belém), Clementino Fraga, Manoel de Abreu, Alexandre Fleming, Sabin e, entre nós, Orlando Rodrigues da Costa, Paulo Azevedo, Jayme Aben-Athar, Domingos Silva, Monteiro Leite.

Nas artes cirúrgicas, igualmente, a medicina nacional se tem destacado no cenário mundial, com nomes que honram e glorificam a cirurgia pátria como Maurício Gudin, o cirurgião brasileiro que granjeou renome internacional por suas contribuições originais para o aperfeiçoamento dos métodos modernos de assepsia, cuja obra científica foi consagrada em Paris, àquela altura berço da ciência mundial. Maurity Santos, que no velho Hospital da Gamboa, no Rio de Janeiro, fez escola das mais famosas e conhecidas, que atraía a atenção de estudiosos de outros centros, inclusive da Europa e foi, no dizer de Clovis Salgado, um cirurgião completo. O Prof. Alfredo Monteiro, no Rio de Janeiro, mestre de várias gerações, com obras pioneiras e ainda atuais de cirurgia, alcançou renome internacional. Montenegro, em São Paulo, até não faz tanto contemplava – por certo orgulhoso, mas acima de tudo gratificado – os frutos opimos de sua frondosa árvore de saber, por todo este País espalhados: seus discípulos e seguidores.

Contemporaneamente poderíamos citar o Prof. Zerbini, pioneiro dos transplantes na América Latina, técnica cirúrgica revolucionária que trouxe a lume um nome que, sem ponta de dúvida, passou para a História como seu idealizador e primeiro executor, o Prof. Christian Barnard. O Prof. Ivo Pitangui, expoente da cirurgia plástica, com técnicas pessoais adotadas em todo o mundo, mestre Adib Jatene, grande executor da cirurgia cardíaca, ambos, para fortuna nossa, em franca atividade laboral.

No Pará igualmente tivemos vultos que se destacaram nas lides cirúrgicas, como Camilo Salgado, de saudosa memória e até hoje pranteado e até mesmo venerado pelo povo desta cidade. Lauro Magalhães, Ápio Medrado, Cruz Moreira, e muitos outros que até ainda há poucos anos entre nós labutavam, apesar da idade provecta, como Prisco dos Santos, Adriano Guimarães, Clóvis Meira, Clodoaldo Beckmann.

A profissão de médico impõe ao profissional humildade, sensibilidade ao sofrimento alheio e respeito pela vida humana. A par disso, uma sólida cultura, alicerçada na vivencia da clínica diária, fazem com que o exercício da medicina se torne, mais que uma profissão, realmente um verdadeiro sacerdócio e ele se imponha no conceito da comunidade, de seus concidadãos. E, por muito que se tenha feito nesse sentido, de maneira quase sempre dissimulada e desprendida, muito mais há que fazer ainda em benefício daqueles que, por contingências várias, hão perdido a riqueza maior desta vida, aquilo que de mais precioso ela nos oferece – a saúde, assim compreendida como o estado de perfeita higidez corporal e bem-estar psicológico. Que oxalá o consigamos, é o que nos haverá sempre de animar.

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(*) Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES

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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 03/11/2009
Reeditado em 06/11/2009
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