TIMOR LOROSAE. Dez anos de independência
Sérgio Martins Pandolfo*
Sérgio Martins Pandolfo*
“Queimado, queinado, mas agora nosso". Bordão repetido pelo povo timorense
A mais jovem nação do mundo celebrou neste domingo (30/08/2009), em Díli, o décimo aniversário do referendo que levou esse pequeno país à independência, depois de uma sofrida e ingente resistência à ocupação indonésia. Há exatos dez anos, i.é, 30/08/1999, por meio de eleição plebiscitária organizada pela ONU, mais de 78% dos eleitores timorenses pronunciavam-se pela independência da Indonésia, que militarmente ocupara o pequeno país e o incorporara como a 27ª província dessa potência asiática dominadora. A 20 de maio de 2002 foi oficialmente proclamada a independência de Timor-Leste, em meio a festiva e muito colorida cerimônia, também marcada pela emoção, pondo fim a 450 anos de dominação estrangeira de seu território. Pouco depois da meia-noite a bandeira do primeiro país livre deste século, preta, amarela e encarnada com estrela branca, passou a flamejar, sobranceira, em alto mastaréu, assistida por representantes de mais de 90 países, incluindo a presidente da Indonésia, o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton e o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Nascia ali a República Democrática do Timor Lorosae, em tétum (idioma nativo cooficial) Timor do Sol Nascente.
Ex-colônia portuguesa por mais de quatro séculos, depois anexado pela Indonésia, em 1975, esse pequeno grande país escreveu uma das páginas mais plangentes e heroicas de determinação e resistência obstinada ao domínio de Jacarta, até finalmente alcançar a liberdade e soberania. Foram 24 anos terríveis, durante os quais a todo-poderosa nação Indonésia, país militarmente agressivo e armipotente, se dispôs a apagar, definitivamente, todos os resquícios da prolongada e bem assentada cultura lusitana, incorporada durante a fase colonial.
O 218º Estado soberano do mundo atual é um país minúsculo, de tão-somente 33.917 Km² e cerca de um milhão e cem mil habitantes (remanescentes da mortandade perpetrada pelas milícias obedientes a Jacarta e da maciça evasão), e iniciou sua trajetória autônoma totalmente empobrecido e carente de tudo, com altíssimos índices de analfabetismo e desemprego, resultado do regime de terra arassada, impingido pelas forças invasoras, culminado com sangrenta carnificina, pilhagem generalizada e incêndio, à Nero, das cidades timorenses, em 1999, logo após a opção pela independência, manifestada, como já se disse, em plebiscito levado a cabo pela ONU, legitimando a autodeterminação do valente povo maubere, que necessitava, agora, de todo o estoicismo e denodo para iniciar a construção de uma pátria em que possa viver em paz, harmonia e liberdade.
Durante a cerimônia festiva, animada por artistas locais e prestigiada maciçamente pelo altivo povo maubere, de maioria católica, o Primeiro Ministro Xanana Gusmão e altos dignitários internacionais, o presidente Ramos Horta prestou significativa homenagem aos milhares de mortos que tombaram durante a “luta épica” pela liberdade, mas rejeitou, uma vez mais, a criação de um tribunal internacional para julgar os militares indonésios e as “milícias pró-Indonésia” que tomaram parte nos ignominiosos atos de violência e vandalismo perpetrados contra o povo e o estado timorense, ele que fora uma das vítimas do massacre. "Vamos celebrar o 30 de Agosto numa economia florescente. Díli e o resto do país estão em paz, a polícia e o exército reconciliados, vamos celebrar a data numa altura em que a cooperação entre Timor-Leste e a Indonésia está no seu melhor", falou.
A criação desse tribunal fora novamente reclamada durante a semana pela Anistia Internacional, que reclama e lamente a “impunidade” de que se “beneficiam” os responsáveis pela escalada de violência. Ramos Horta segura, mas serenamente, argumentou que: “Os que cometeram esses crimes vão ser perseguidos, pelo resto de suas vidas, pela lembrança de suas vítimas”. O presidente, que há pouco fora vítima de um atentado brutal e covarde, que quase lhe ceifara a existência, optou pela paz, pela não violência, pela anistia em vigor.
Apesar de empobrecido e devastado, o diminuto país insular é potencialmente rico, o que inclui imensa reserva petrolífera na plataforma submarina do Mar de Timor que o circunda – costumamos dizer que o Mar de Timor sobrenada um mar de petróleo -, a qual vinha sendo explorada por consórcio indonésio-australiano. A exploração desse “ouro negro” será, certamente, em anos próximos, o sustentáculo da economia do jovem Estado, o que nos deixa a certeza de sua viabilidade e rápido desenvolvimento e faz antever “brilhante futuro”, para a pequena nação, “capaz de inspirar o mundo”, a redizer Kofi Annan. O café, de superior qualidade, é a principal riqueza agrícola do país e seu primeiro produto de exportação.
Por soberana deliberação de seu povo, Timor-Leste decidiu pela adoção da Língua Portuguesa como idioma oficial, recusando, inclusive, para tal, vantagens de ajuda financeira e tecnológica imediata oferecida pela Austrália, país do qual é vizinho, para que elegesse o inglês como língua pátria, passando a ser, assim, a 8ª nação a integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, composta atualmente, além da jovem nação timorense (Ásia/Oceania), por Brasil (América), Portugal (Europa), Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe (África), ampliando, um pouco mais, o majestoso caudal da lusofonia que se esparrama, soberbo, pelos seis Continentes. O português é idioma cooficial em Macau (China), Guiné Equatorial (África) e Ilhas Maurício (Oc. Índico)
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(*) Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES
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