TRASTES GAÚCHOS: A MALA DE GARUPA

Estas peças da indumentária campeira se chamam "mala de garupa", porque originalmente eram colocadas sobre o lombo do cavalo. Eram feitas em couro e o seu nome era “peçuelos”. Segundo o Aurelião, é “uma espécie de alforje, repartido ao meio, que se põe à garupa e serve para o transporte de roupas e doutros objetos”. Ressalte-se que o material usado para a confecção era o couro cru, com pelo ou raspado por fora, tudo muito rudimentar, como ocorre com todos os utensílios e indumentárias campeiras daquele remoto tempo. A notícia que se tem, é que somente no início do século XIX, no RS, havia um francês que curtia o couro, morador lá pelas bandas de Viamão, antes da chegada do imigrante alemão à região do Rio dos Sinos, em 1824. A mala, propriamente dita, era confeccionada em pano grosso tecido pelas índias das reduções guaraníticas, desde a segunda década do século XVII. Na mala ancestral ficavam os avios de fumar (palha, canivete, rolos de fumo) e de matear: bomba, um punhado de erva mate e a cuia pequena de matear solito. Para os aficionados, o gengibre e o rapé. Também um naco de charque e algo de sal de cozinha, que era precioso pros assados e ferimentos. O gaudério mestiço que vagueava pelas planícies adotou-a, e, apeado do cavalo, andava a pé com o utensílio à espalda, deitada sobre o ombro, na lida primitiva e nos bolichos de campanha (pulperias), canchas de carreira, bailes de ramada, fandangos, etc. O "gautchê" – nome dado ao andarilho que vagueava pelos campos à busca de caça para comer e que ia de estância em estância procurando algo pra fazer (changa) e ganhar uns trocos e se alimentar e vestir – guardava os seus pertences de uso diário naqueles peçuelos de pano. Posteriormente, o colonizador proletário, português e espanhol, por sua praticidade, também a adotou. O tal traste campeiro é feito de um tecido resistente, escuro, normalmente de brim riscado. Também pode ser do tecido com listras usado para colchões. As chinas donas de casa não gostam de malas crioulas em cores claras, porque, com o uso, se tornam peças graxentas, encardidas, difíceis de lavar, mesmo que se as leve ao quaradouro. O tamanho usual é de 1,00m x 0,40m, dupla metragem, formando um saco, costurada nas extremidades, dupla costura, com um rasgo de 0,30m no meio, no sentido do lado maior do formato retangular, de maneira a permitir a entrada de objetos, de modo que não caiam quando do uso e transporte. As malas são usadas sobre o ombro esquerdo, normalmente. No ombro direito do campeiro vai o pala: de lã, no inverno; de lãzinha, no outono, e de seda, no verão. A não ser que o vivente seja canhoto. Hoje em dia, são de uso muito difundido nos rodeios e nas diversas atividades campeiras. Muito práticas e úteis, e de fácil confecção, compõem curiosa peça de vestuário da lida crioula. A mala de garupa, atualmente, é de uso disseminado entre os campeiros interioranos, no sul do país, especialmente no RS, SC e PR. Também no MS, MT, RO, AC, na rota de migração rural do povo gaúcho. A peça é também usada em outros Estados-membros da federação brasileira, pelos cultores do tradicionalismo gaúcho, no entorno cultural dos Centros de Tradições Gaúchas – CTGs.

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2008/16.

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