Malhação de Judas – Crime e Castigo
Sábado de Aleluia. E por aqui e por ali, vamos ter cenas lamentáveis, que sob a justificativa de evento cultural haverão de produzir um boneco para ser apedrejado, massacrado, explodido ou implodido, sei lá. O fato é que o ritual de justiça com as próprias mãos será praticado com sua didática perversa, com alguns marmanjos ou marmanjas conduzindo crianças para a festa onde se poderá exercer a violência dos instintos de forma lúdica. Apenas uma brincadeirinha.
Olhando de modo analítico a situação, este chato metido a analista percebe que talvez isto esteja associado à falta de justiça de nosso país. É claro que culturalmente é um evento tolo, mas segundo os seus praticantes, muito divertido. Sim, a justiça brasileira, ao punir os crimes, mesmo os hediondos, nos dá a sensação de que é algo impotente, e cada vez se expande a idéia de que o crime compensa.
Antes era apenas para os altos escalões, ficavam imunes apenas os grandes calhordas, mas o crime organizado aprendeu a acumular capital, e este serve tanto para corromper, como para comprar os serviços de doutores, advogados formados nas melhores faculdades. Com isso se democratizou a impunidade, de bandidão até bandidinho, são todos tratados como se fossem umaespécie de idealistas políticos perseguidos por um estado ditatorial.
Aliás, é estranho que neste clima de impunidade o infeliz do Judas, a apóstolo que imaginou que Jesus deveria ser provocado para se defender e ocupar assim o lugar do messias guerreiro, tão esperado pelos judeus dominados naquele momento pelos romanos, justamente Judas, o tesoureiro dentre os apóstolos, o indivíduo que cumpriu o papel de ser o mediador entre Jesus e a cruz, que enforcou-se por conta do seu feito, sem aproveitar a sua tosca premiação, enfim neste país de impunes, somente o Judas não escape da sua pena que já dura pelo menos dois milênios, um eterno condenado, não apenas em vida, mas também em memória.
O fato é que seja o cidadão ilustre, seja o cidadão marginal, ambos almejam justiça; às vezes mais para os outros do que para si, aliás se ao invés de ficar dando porrada em um boneco eles lessem o Evangelho da vítima do tal Judas, verificariam que este aconselhou que se amassem aos outros como a si mesmo. Se isto ocorresse, conseguiríamos transcender nosso próprio egoísmo, e a polícia teria muito menos trabalho. Aliás, se acharmos Jesus demais, basta fazermos uma visita aos Dez Mandamentos revelados a Moisés e poderemos observar que a justiça também teria menos trabalho. Mas, imagina fazer isto! Dá muito trabalho. No mais, se expande cada vez mais a idéia que Deus adora os dizimistas, e que esta fé operativa tem sua simpatia. Dia haverá que as instituições religiosas disputarão os criminosos para fazerem a sua conversão.
Creio que o tal Judas paga pela impunidade, em algum sentido este personagem acabou por fazer o papel de saco de pancadas bíblico. E aí, o mais estranho é que espancam simbolicamente o tal sujeito, contrariando justamente o preceito de sua vítima que se sacrificou para provar a necessidade do perdão. Pobre do crucificado, deu a vida por sua missão e ideal, e seus supostos defensores praticam em sua defesa exatamente o que ele se mostrou contrário. Cristo é um enigma a ser decifrado; não é fácil entender Cristo. Assim, parece que ao invés de se adaptar às suas difíceis diretrizes, o ser humano o recriou, como espécie de Super Deus, de Super Homem, de Super Mágico, de oferenda sanguinária para aplacar Deus, e os demais ficarem livre dos pecados sem nada fazer. Enfim, sei lá. Sei que a malhação do Judas não tem afinidade com o Evangelho, aliás o que é que ultimamente tem afinidade com o Evangelho? Para falar verdade a coisa está tão estranha que conheço ateus que têm atitudes efetivamente cristãs, e também cristãos que efetivamente nada têm a ver em relação a Cristo. Houve arenas, feras e perseguição, de fato o número dos prosélitos diminuiria bastante. Talvez tudo isto seja apenas a construção de um quadro apocalíptico em que o homem ainda não percebeu que não se trata de castigo divino, mas efeitos da sua própria ação. Afinal, para infelicidade dos espertos a natureza não é hipócrita, segue através dos séculos as mesmas leis.
Pensando bem, é melhor deixarem de malhar o boneco; a psicologia explica: é um substitutivo, possivelmente muitos que malham o traidor seja até pior que ele. Por fim, o Judas acaba se unindo a Jesus em missão de aplacar a fúria da turba. A diferença é que Jesus renunciou à vida pelos pecadores, já Judas, mesmo suicida, foi julgado pelos seus iguais. Ambos morreram e deixaram a memória, que dia será também a nossa herança definitiva.
Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.
http://www.administradores.com.br/home/tarkus/blog/
Sábado de Aleluia. E por aqui e por ali, vamos ter cenas lamentáveis, que sob a justificativa de evento cultural haverão de produzir um boneco para ser apedrejado, massacrado, explodido ou implodido, sei lá. O fato é que o ritual de justiça com as próprias mãos será praticado com sua didática perversa, com alguns marmanjos ou marmanjas conduzindo crianças para a festa onde se poderá exercer a violência dos instintos de forma lúdica. Apenas uma brincadeirinha.
Olhando de modo analítico a situação, este chato metido a analista percebe que talvez isto esteja associado à falta de justiça de nosso país. É claro que culturalmente é um evento tolo, mas segundo os seus praticantes, muito divertido. Sim, a justiça brasileira, ao punir os crimes, mesmo os hediondos, nos dá a sensação de que é algo impotente, e cada vez se expande a idéia de que o crime compensa.
Antes era apenas para os altos escalões, ficavam imunes apenas os grandes calhordas, mas o crime organizado aprendeu a acumular capital, e este serve tanto para corromper, como para comprar os serviços de doutores, advogados formados nas melhores faculdades. Com isso se democratizou a impunidade, de bandidão até bandidinho, são todos tratados como se fossem umaespécie de idealistas políticos perseguidos por um estado ditatorial.
Aliás, é estranho que neste clima de impunidade o infeliz do Judas, a apóstolo que imaginou que Jesus deveria ser provocado para se defender e ocupar assim o lugar do messias guerreiro, tão esperado pelos judeus dominados naquele momento pelos romanos, justamente Judas, o tesoureiro dentre os apóstolos, o indivíduo que cumpriu o papel de ser o mediador entre Jesus e a cruz, que enforcou-se por conta do seu feito, sem aproveitar a sua tosca premiação, enfim neste país de impunes, somente o Judas não escape da sua pena que já dura pelo menos dois milênios, um eterno condenado, não apenas em vida, mas também em memória.
O fato é que seja o cidadão ilustre, seja o cidadão marginal, ambos almejam justiça; às vezes mais para os outros do que para si, aliás se ao invés de ficar dando porrada em um boneco eles lessem o Evangelho da vítima do tal Judas, verificariam que este aconselhou que se amassem aos outros como a si mesmo. Se isto ocorresse, conseguiríamos transcender nosso próprio egoísmo, e a polícia teria muito menos trabalho. Aliás, se acharmos Jesus demais, basta fazermos uma visita aos Dez Mandamentos revelados a Moisés e poderemos observar que a justiça também teria menos trabalho. Mas, imagina fazer isto! Dá muito trabalho. No mais, se expande cada vez mais a idéia que Deus adora os dizimistas, e que esta fé operativa tem sua simpatia. Dia haverá que as instituições religiosas disputarão os criminosos para fazerem a sua conversão.
Creio que o tal Judas paga pela impunidade, em algum sentido este personagem acabou por fazer o papel de saco de pancadas bíblico. E aí, o mais estranho é que espancam simbolicamente o tal sujeito, contrariando justamente o preceito de sua vítima que se sacrificou para provar a necessidade do perdão. Pobre do crucificado, deu a vida por sua missão e ideal, e seus supostos defensores praticam em sua defesa exatamente o que ele se mostrou contrário. Cristo é um enigma a ser decifrado; não é fácil entender Cristo. Assim, parece que ao invés de se adaptar às suas difíceis diretrizes, o ser humano o recriou, como espécie de Super Deus, de Super Homem, de Super Mágico, de oferenda sanguinária para aplacar Deus, e os demais ficarem livre dos pecados sem nada fazer. Enfim, sei lá. Sei que a malhação do Judas não tem afinidade com o Evangelho, aliás o que é que ultimamente tem afinidade com o Evangelho? Para falar verdade a coisa está tão estranha que conheço ateus que têm atitudes efetivamente cristãs, e também cristãos que efetivamente nada têm a ver em relação a Cristo. Houve arenas, feras e perseguição, de fato o número dos prosélitos diminuiria bastante. Talvez tudo isto seja apenas a construção de um quadro apocalíptico em que o homem ainda não percebeu que não se trata de castigo divino, mas efeitos da sua própria ação. Afinal, para infelicidade dos espertos a natureza não é hipócrita, segue através dos séculos as mesmas leis.
Pensando bem, é melhor deixarem de malhar o boneco; a psicologia explica: é um substitutivo, possivelmente muitos que malham o traidor seja até pior que ele. Por fim, o Judas acaba se unindo a Jesus em missão de aplacar a fúria da turba. A diferença é que Jesus renunciou à vida pelos pecadores, já Judas, mesmo suicida, foi julgado pelos seus iguais. Ambos morreram e deixaram a memória, que dia será também a nossa herança definitiva.
Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.
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