Sexta Feira Santa - A Morte da Verdade

Aqui não se pretende uma discussão teológica, mas antes reflexiva. Neste sentido, ao ler aquilo que está exposto no texto bíblico nos parece ficar claro que Jesus assumiu claramente que era responsável por trazer a "boa nova", o que tem ligação com boa notícia, com novidade. Não qualquer notícia, mas atuava ele no papel de mensagereiro mais qualificado do Deus Único revelado anteriormente por Moisés aos judeus, e que como tal constituiu uma imagem para o Jeová. Cristo afirma que não veio para desmentir a Lei tal como era conhecida a revelação, mas pelo contrário, fazê-la ser cumprida. Ou seja, ele não se dispôs a produzir uma revelação à parte, mas sim dar continuidade a algo que o havia precedido há mais de 1000 anos. Chama para si a responsabildade de ser o Prometido, nas escrituras de lei que mantiveram-se vivas na consolidação da nação Israelita. O problema é que o Deus Único, antes nacional, na boca de Cristo ganhava tom de deus universal, de criador de todos. Assim, era como que tomar o deus de uma nação e entregá-lo às demais. Pior do que isto, Israel por esta época estava dominada pelo poderoso Império Romano e assim, se houvesse um Messias, o que os israelistas desejavamm era alguém de têmpera belicosa, capaz de confrontar os romanos dominadores, e não um pacifista dono de uma doutrina supra-humana, que implica antes a renúncia do que o confronto. Foi isento pela lei romana, mas condenado pelo Sinédrio, tribunal religioso dos judeus, por blasfemia, já que insistia em se dizer filho de Deus e sua vida ser o cumprimento da promessa. Jesus efetivamente era um guia para um conhecimento maior, acima daquele que se tinha até então. Seu objetivo era um viver coletivo via conscientização, algo que ainda hoje parece ser mera utopía. Não visou a conquista do Reino físico, e afirmou, entretanto, ser rei de um reino espiritual. Mas o ser humano não estava, e parece continuar não estar, preparado para isso. O sacrifício de Jesus não é entendido como algo para manter sua mensagem viva, mas antes é entendido dentro dos preceitos de uma espécie de oferta para acalmar a ira da divindade, tão comum nos cultos da antiguidade. Hoje, converter-se acaba por ser um mero ato de adoração, que muitas vezes não implica novo procedimento, não implica transformação. Enfim, crucificar Jesus é algo que pode ser abordado como a recusa da "boa nova", matar a nova revelação, e que poderia de fato ter ocorrido, não fosse o evento transcedental de sua ressurreição. O fato é que nesta altura vemos que cada um faz o que quer com Jesus, inclusive sendo ele o guia supremo das consquistas materiais, retomado como divindidade particular. Mas isso tudo diante da anestesia reflexiva de uns, do desânimo que transforma muitos em ateus, acaba por ser o combustivel para criações estranhas. Mas enfim, Deus é liberdade, inclusive para a ignorância que crucificou a verdade, que transcedeu o corpo morto por ser espírito. Pode-se discutir, ou abordar os acontecimentos segundo visões diferenciadas, entretanto, a efetiva verdade será sempre uma só, não se trata de dogma, mas de verdade da qual a razão não consegue estabelecer certeza, enquanto que a fé parace escolher caminhos distintos. O texto "Moinhos de Vento" é uma busca de traduzir esta percepção em símbolos, que haverão de ser lidos pelo coração de cada um.

Moinhos de Vento


Uma folha em branco, desnuda de qualquer sinal gráfico.
Várias folhas virgens e o vento do tempo a atiçar as fraternas folhas.
Acusando a sua existência um velho moinho com cara de helicóptero.
As páginas dos dias da existência
escrevendo diariamente a história de cada um.
E deixando o pensamento criar asas,
vendo os dias correndo à mercê dos ventos.
Esperança de liberdade para os que entendem o tempo,
desespero aos que não o compreendem.
Trazendo-lhes o terror da chegada das primeiras rugas do corpo
que há de cair ante a velhice.
Fazendo-os ver o destino como um terrível carrasco
com o seu poderoso chicote inevitável.
Descobrindo com amargura o quão efêmero
é o suposto controle que exercem sobre a vida.
Pondo à prova a própria arrogância, tão ínfima ante a força da morte.
Tudo dizimado a nada.
Então ironia, um certo riso piedoso,
para depois render-se à toda acidez do sarcasmo.
E então rir penalizado de si,
rir-se vingativamente dos outros,
para depois chorar copiosamente.
Vendo pelas frestas do pensamento
sermos vítimas e algozes fraternais uns dos outros.
Meros viajantes, intempestivos aventureiros a vagar pelas trilhas desenhadas pelo destino.
Cheios de orgulho e vaidade,
enceguecidos pela auto-estima superlativa;
crianças travessas.
Grandes em curiosidade,
perdidos por entre as imensas dúvidas pelas páginas ainda vazias.
Propensos ao comodismo das verdades impostas,
fugitivos das dores, amantes dos prazeres.
No ponto limite entre a razão e a ignorância,
na fronteira entre a civilização e a brutalidade.
E o vento acusando a sua chegada,
o movimento assustador daquele maldito moinho do tempo
com suas engrenagens girando sem piedade,
seguindo a mecanicidade da lei estabelecida.
Sendo assim tão implacável
como condicionado aos ventos,
e talvez nisto tendo algo de bendito.
Um porto seguro em meio à grande tempestade.
Um ponto de referência em meio ao caos.
Uma inflexível imagem que não se sabe bem
se é uma promessa de dádiva ou sentença
mas, ainda assim, sendo algo constante
em meio ao confronto de muitas forças desordenadas.
Uma sutil fonte de água pura
em meio à intensa aridez de um imenso deserto
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 11/04/2009
Reeditado em 26/04/2009
Código do texto: T1533088
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