A Neurose do Tempo na Sociedade Moderna

Desde que o patriarca da administração F. Taylor resolveu adotar as horas como meio para medir a produtividade, parece que o relógio de ponto saiu dos limites das empresas e passou a dominar o nosso cotidiano, pequenas miniaturas invadiram os nossos braços e como que robóticos somos constantemente acionados pelo girar impessoal dos seus ponteiros, numa inversão de criador e criatura, é assim que sem percebermos vivemos sob esta autoridade silenciosa, trabalhamos, e trabalhamos, e nunca estamos saciados de tanto trabalhar, não temos tempo para nada, a não ser trabalhar, foi-se o tempo onde a indolência permitia pensar, hoje só trabalho, e não adianta fugir, esta lá no fundo da nossa consciência a nos cobrar, a ponto de nos sentirmos culpados quando descansamos. Foi neste sentido a construção do texto "O Império das Horas" uma crítica a esta nossa mecanização. Sim, viva o trabalho, mas é necessário aprender se recuperar, refletir e viver, para quando aposentados não concluirmos que há um vazio que prenuncia que a vida acabou....


O Império das Horas


Marcha! Um, dois...um dois...
Pés pisoteando com fúria o chão do caminho.
Olha o tempo! ... Olha o tempo!
Acelerado! Acelerado! Marche!
Corre! Corra! Corram!
Os corações parecem se dobrar em cãimbras,
Os músculos se descoordenam-em movimentos epilépticos,
A suprema obrigação. A ordem a ser cumprida.
Não pense. Não se questione.
Respostas e verdades podem ser heresias.
Tome cuidado com as palavras ditas,
Podem ser a sua confissão de culpa.
Mãos de aço podem lhe adornar a garganta.
Vamos! Andem! Vamos, molengas!
Estão todos atrasados. São todos uns perdedores.
Temos que vencer, mas estamos atrasados.
Temos que chegar no horário, mas somos perdedores.
Aqueçam os músculos, esfriem a alma.
Sonhos são inúteis, sejam práticos,
Sejam heroicamente tolos.
Finjam-se de ingênuos como estratégia de esperteza.
Transforme em dinheiro a sua criatividade.
Enredem-se no novelo de comprar e vender.
Todo o saber por uns míseros trocados.
Entretanto, por um instante, parem!
Segurem esses malditos segundos,
Esmurrem essa boca que não para de emitir ordens,
Depois caia de joelhos e peça clemência.
Com lágrimas nos olhos, engula alimentos e líquidos,
Fique muito feliz por tê-los, pois a miséria é terrível,
Tema a falta de recursos, não reclame ao desprezo,
Agradeça a tudo, agradeça a todos,
Se não quiser agradecer, ao menos finja.
Premia com sua hipocrisia o orgulho alheio,
Para depois receber em troca toda merecida indiferença.
Não se esqueça de bater continência às estátuas das praças.
Plante um sorriso imbecil na sua face, seja aceitável.
Seja tolerável, tente agradar, não julgue  nada.
Esqueça as suas inquietantes dúvidas.
E por fim, nada de lágrimas,
Escancare os dentes e sorria.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 10/04/2009
Reeditado em 14/06/2009
Código do texto: T1532178
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