ADMIRÁVEL MUNDO LUSÓFONO
“Floresça, fale, cante, ouça-se e viva
a Portuguesa Língua, e já aonde for,
senhora vá de si, soberba e altiva”
Antônio Ferreira, poeta português renascentista
São lusófonos (de luso = lusitano + fono = som, voz) os que se expressam no idioma português.
Os brasileiros via de regra desconhecem ou não atinam para a grande importância que tem a língua portuguesa na atualidade e, por isso, não lhes dão o devido valor. Ignoram ou não se dão conta de que nossa língua é uma das mais faladas no mundo atual e uma das de maior influência e prestígio, hoje guindada à posição de uma pátria imensa do tamanho do Mundo, como a seguir melhor se verá.
Segundo o Summer Institute of Linguistics, da Universidade do Texas, há atualmente por volta de 6.703 línguas e cerca de 7.000 a 8.000 dialetos (dados de 1995, apud Almanaque Abril, 1999). Dentre essa babel de formas de expressão o português protubera como o 5º idioma mais falado, em números absolutos, precedido pelo mandarim (chinês), inglês, espanhol e hindi. Se levarmos em conta que o mandarim só tem livre curso na China (juntamente com outros falares) e o hindi tão-somente é utilizado no território indiano, pulamos para o 3º lugar, inserindo-nos dentre as chamadas línguas universais de cultura (faladas em várias partes do universo), à frente de outros importantes e dominantes idiomas, como: alemão, francês, italiano, russo, árabe, só para pôr alguns exemplos.
Para além disso, o idioma camoniano é, juntamente com o inglês, espanhol e francês, um dos quatro únicos falados nos seis continentes, como oficial. Sim, seis, a contar: Europa, Ásia, África, América, Oceania e Antárctica. No Continente Branco integramos o fechado e seleto grupo de 26 países a disporem de bases instaladas para pesquisas científicas diversas, com a Estação “Comandante Ferraz”, assentada na Ilha Rei George, e outras móveis em pontos diversos do Continente Austral. E lá se fala, raciocina e escreve em português, obviamente.
A língua portuguesa é oficial, desde 20 de maio de 2002, no Timor- Leste que, conquanto faça parte do arquipélago asiático de Sonda, geograficamente pertence à Oceania. Na Ásia está o antigo encrave lusitano de Macau, devolvido à China em 1999, mas que manterá, por força de acordo, o português como língua oficial pelos próximos 50 anos, juntamente com o cantonês (chinês). No Continente Negro o português é oficial em cinco países: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. É cooficial (junto com francês e espanhol) na Guiné Equatorial. Na América, a língua portuguesa tem seu domínio máximo: idioma oficial do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, num universo de 218 países soberanos, afora alguns outros territórios com autonomia relativa. Na Europa Portugal é a expressão maior e o berço do idioma, sendo que lá se processou, também, sua lapidação, elevando-o ao pataréu de língua literária e culta, pelo gênio de iluminada cerebração de Luis de Camões.
Mas as comunidades lusófonas estão presentes em muitos outros pontos distribuídos por todo o globo terrestre, valendo citar, como mais expressivos: nos EUA (a maior), no Japão, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Holanda, Canadá, Venezuela e Argentina. E mais: em Goa/Damão/Diu (Índia) são mais de 250 mil; África do Sul, Austrália, além de muitos focos espalhados mormente pela Ásia, África e Oceania, resquícios da expansão ultramarina que subsistem com maior ou menor grau de pureza (dialetos ou crioulos).
Somamos hoje bem mais de 250 milhões de falantes em todo o orbe terrestre e podemos dizer que a sétima parte da Terra se expressa em português; segundo o filólogo e especialista em linguística, Sílvio Elia, “apesar dos pesares, o português está em franca expansão no mundo” (grifamos). Só no Brasil já somos contados à volta de 185 milhões (segundo estimativa do IBGE). E crescemos à razão de 3.250.000 hab/ano! Vale ressaltar que o Brasil é um dos poucos países monolingues, no mapa geopolítico mundial (em que pese sua grandeza territorial), o que o põe a salvo de conflitos de natureza étnica e xenofóbica.
A língua portuguesa é, também, uma das mais ricas no que tange ao acervo lexical, estimado em derredor de 650 mil palavras (Houaiss). Acervo esse que teve a compô-lo e enriquecê-lo, opulento manancial advindo dos falares indígenas (tupi-guarani, tapuia) e africanos (nagô, quimbundo). Nesse aspecto merece realce a notável contribuição dos regionalismos autóctones, como é o caso dos termos parauaras, com expressões tão nossas e tão significativas como: pai-d’égua, cuia, pitiú, chibé, caribé, çairé, tacacá, cobrinha (fila), pororoca, tucandeira, carapanã e muitos outros.
Em 1996 foi criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, que congrega os Estados de expressão oficial portuguesa, integrada hoje por 8 países: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Timor-Leste. A entidade tem por objetivos principais promover e expandir o idioma pelo mundo, estreitar os laços de fraternidade e facilitar a cooperação política, social, econômica, financeira e cultural entre os membros. Espera-se que com a ansiada adoção – que se impõe premente – pela ONU, da língua portuguesa como uma das oficiais naquele foro supranacional, o português deslanche de vez (atualmente é língua de trabalho). É oficial na União Européia, UNASUL, MERCOSUL e na UNESCO.
É hoje indiscutível e a cada dia maior a importância do português na divulgação do conhecimento, da cultura e das ciências, em todas as áreas, o que se verifica pelos mais diversificados meios disponibilizados pela mídia, contemplando os lusófonos dispersos por todos os recantos do globo.
Por último, uma constatação de magna relevância: lusófonos e hispanófonos (de fala espanhola) juntos ultrapassam, de longe, os 600 milhões, mais de 10%, portanto, dos seis bilhões de viventes do mundo atual. Se levado em conta que os dois idiomas ibéricos são bastante assemelhados, com possibilidade fácil de intercomunicação, o portunhol (ou será espanhês?) passa a ser a “língua” mais falada no mundo contemporâneo, isto é, os que se expressam no linguajar de Camões, somados aos que se comunicam no falar de Cervantes, são mais numerosos que os que têm como língua-mãe o vernáculo anglo-saxão de Shakespeare.
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*Médico e Escritor. SOBRAMES/ABRAMES
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