Não saberia dizer qual delas é a preferida. Apenas sei que para cada momento, existe uma palavra, pensamento ou inspiração. Sinto que toca minha alma e redescubro referências daquilo que sou e penso. Tradução perfeita da paixão: Incertezas, beleza, ironia e medos.

''Estas mulheres ousadas, fizeram do tempo um aliado, traduzindo o desejo em versos e prosa.''

Elas falam de mulher pra mulher sem pudor, sabem tanto da essência feminina... São amadas, aliadas e companheiras de todas as idades e fases. Minhas queridas e muito admiradas: Poetisas, contistas, musas...Especiais.

Giselle Sato



Hilda não hesitava em dizer ao excitado marido: “Vai foder com a empregada! Me deixe escrever!” E ri quando me diz que homem que gosta de mulher por cima é afrescalhado.

Para horror das feministas, Hilda acha que o homem deve dominar a relação, deve – e cita Simone de Beauvoir – ser, de alguma forma, superior à mulher. Afirma que sempre buscou homens que possuíssem um destes atributos da divindade: poder ou beleza. Poder financeiro, poder intelectual, e até força bruta, a faziam sentir-se mais mulher. Beleza porque – como dizia Vinícius, aliás, ex-namorado de Hilda – é fundamental.

Hilda Hilst, uma das mais importantes escritoras brasileiras, queria ser popular. Resolveu, aos 60 anos de idade, publicar livros eróticos – ela prefere “obscenos” -, como O Caderno Rosa de Lori Lamby, no qual uma menina de 8 anos narra, completamente à vontade, uma série de aventuras sexuais lambuzadas, que não passam, na verdade, de pura imaginação. O escritor Yuri V. Santos, que morou com a escritora, fala sobre a visão dela em relação ao erotismo. “Conversar sobre sexo com Hilda Hilst é experiência reveladora.”

Apesar de sua antipatia pelo rótulo de "escritora erótica", conversar sobre sexo com Hilda Hilst é experiência reveladora. Pra ela, sexo é bom humor, brincadeira, jogo, sem qualquer fim em si mesmo. E o mundo dos desejos – o KamaLoka (do sânscrito Kama=desejo e Loka=mundo) – pode sim ser um terror.

Que o digam seus personagens, que o diga, por exemplo, o narrador da tragédia homoerótica Rútilo Nada, para quem, como Hilda lembra, "sua paixão é uma doença mesmo, uma doença total". Porque Hilda, seja em seus amantes, seja em sua literatura, sempre buscou não o apego mas o amor, ou, em suas próprias palavras, Deus. O orgasmo, essa pequena morte, sempre mostrou ou seu vazio, se não havia amor, ou seu distanciamento em relação ao amante, se só havia busca.

Boris Vian fez uma conferência chamada "A utilidade de uma literatura erótica", que diz o seguinte: “Ler livros eróticos, difundi-los ou escrevê-los são uma maneira de preparar o mundo de amanhã e de abrir caminho para uma verdadeira revolução”. Esta também é sua visão?

Hilda Hilst: Ele diz "verdadeira revolução"? Não, não acho assim. O erótico não é a “verdadeira revolução”. O erótico, pra mim, é quase uma santidade. A verdadeira revolução é a santidade.

- Poesias de Hilda- 


Ama-me. É tempo ainda- Hilda Hilst

Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora. 
Esplêndida avidez,vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me.
 
Embora eu te pareça
Demasiado intensa.
E de aspereza.
E transitóriase
Se tu me repensas.
 

Poeta e Amante - Hilda Hilst
 
“Poeta e amante é o que sou
 
E só quem ama é que sabe
Dizer além da verdade
E dar vida à fantasia”.

 
 
 

 
 
Aquele outro não via- Hilda Hilst
 
Aquele outro não via minha muita amplidão
Nada lhe bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
 
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Ah, por que me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma fome irada e obsessiva?

 
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.


 
Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?


Do desejo - 
 
 
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
 

II

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.


III

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?
 
 
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''Eu sempre me fascinei com o matemático indiano Srinivasa Ramanujan. Ele dizia que para resolver seus intricados teoremas era movido apenas pela beleza das equações.
Na poesia também é assim. É uma espécie de exercício do não-dizer, mas que nos dilata de beleza quando acabamos de ler um poema." (Hilda Hilst)          
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 15/03/2009
Reeditado em 27/07/2018
Código do texto: T1487905
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