Faltou uma boa gordura (publicado originalmente em 12/10/2024)
Há uma lista de acontecimentos relevantes que ficou fora da série documental ‘Um Beijo do Gordo’ (Globoplay), no streaming desde 28 de julho, sobre a trajetória do multiartista Jô Soares (1938-2022). Os 4 capítulos mostram: 1) infância e começo da carreira, e namoros (um deles com Cláudia Raia); 2) ida ao SBT em 1988 e a realização do programa de entrevistas, sob a ira de Boni, todo-poderoso da Globo; 3) retorno à Globo em 2000 e comediantes-fãs e 4) a relação com Flávia e momentos finais da vida.
Senti falta de saber mais acerca dos pais, da paixão dele pelas motos (teve 2 acidentes no começo dos anos 90), como se deu a negociação com o SBT, em 1987 (Silvio Santos desejava contratar alguém ‘grande’ da concorrente – as tentativas, além de Jô, foram Chico Anysio e Xuxa), o temperamento complicado do artista em relação a determinados colegas (quem não se lembra das pequenas rusgas com Anysio e da turma do ‘Pânico’ perseguindo-o para fazê-lo calçar as sandálias da humildade?) e a participação política (discursou em comícios das Diretas Já, 1984, e na década de 2010 demonstrou simpatia em relação ao governo Dilma).
Em contrapartida, a produção foi feliz ao conseguir extrair da ex-esposa Flávia, com quem ficou casado de 1986 a 1998, fotos e declarações inéditas e íntimas, a revelação, para ele, do namoro de Flávia com a cantora Zélia Duncan, o baque significativo com a morte do filho, Rafael, 2014 (‘Morreu junto um pedaço do Jô’, disse Adriane Galisteu – ‘Para piorar, depois veio o término do programa e a pandemia’, concluiu ela), e o fim do ‘Programa do Jô’, 2016, e as derradeiras conversas com o amigo Dráusio Varella (‘Em tantos anos de carreira na medicina, nunca vi alguém ir embora de uma maneira tão correta, sabendo o que queria’). Faltou boa dose daquela gordura boa, digamos assim. Duração dos 4 episódios: 225 minutos. Cotação: regular.