Freud e o Professor (publicado originalmente em 21/9/2024)
Semanas antes de morrer (23/9/1939, aos 83 anos), Sigmund Freud, ‘Pai da Psicanálise’, se encontrou com um professor universitário. Ninguém tem certeza de quem era o professor. Ninguém sabe quais assuntos foram conversados. Ninguém, aliás, está 100% certo de que houve mesmo o tête-à-tête.
O suposto (ou verdadeiro) papo se deu em Londres, para onde Freud se mudou naquela época (havia já parentes dele lá), fugindo da perseguição nazista em Viena, logo após a anexação da Áustria pela Alemanha de Hitler, ocorrida em 1938. Baseado na visita, o dramaturgo americano Mark Germain escreveu em 2009 a peça de teatro ‘A Última Sessão de Freud’, na qual o psicanalista debate com Clive Staples ‘C. S.’ Lewis (autor de ‘As Crônicas de Nárnia’), que seria aquele tal professor universitário. Tema: religiosidade. Lewis havia se recém-convertido ao cristianismo e tenta convencer seu ‘oponente’ da existência de Deus.
Vi a peça ano passado, com Odilon Wagner (Freud) e Cláudio Fontana (Lewis). Muito interessante. Também em 2023, o cineasta Matt Brown dirigiu e roteirizou o filme inspirado na peça (disponível no Prime), com Anthony Hopkins e Matthew Goode nos papéis principais (no longa-metragem há mais personagens, como a filha de Freud, Anna). A fita atinge a densidade da peça, com a tensão que paira no ar o tempo todo.
Os diálogos são recheados de citações de autores, frases, e o duelo entre a dupla é instigante. Em paralelo, vemos Anna (Liv Lisa Fries) num dilema: ajudar o pai, que sofre com um câncer na boca (chegou a fazer mais de 30 cirurgias) ou dar atenção a Dorothy (Jodi Balfour), sua amiga, que algumas pessoas apontam que fosse um caso amoroso da filha de Freud. A dependência emocional entre os 2, Sigmund e Anna, é um dos pontos-chave para se entender a complexidade da obra do psicanalista. Brown explora este aspecto com paixão e demonstra cuidado com o tema. Duração: 108 minutos. Cotação: ótimo.