HEI, "PASSAGRANA"😱

Opinião / arte& sociedade

Tenho por hábito, logo pelas manhãs, dar uma olhadinha nas telenotícias.

As telas sangram...e precisamos respirar.

Dentre uma chamada e outra, sob um cafezinho perfumado, hoje me chamou a atenção a notícia sobre cinema, já que o fim de semana se aproxima.

Soube sobre as novas produções nacionais e internacionais. Sempre vastas.

Dentre as nossas, um título do Cinema me chamou demais a atenção, um que fala, por si só, do todo: PASSAGRANA.

Consta ser gênero comédia, mas violência nunca tem graça.

E um pensamento me veio: qual o efeito, o " feedback" da " arte" , no nosso "modus operandi" de violência social naturalizada?

A âncora do Jornal , a elogiar o trailer na tela, fez um comentário, mais ou menos assim: " o filme foi feito lá no centro da cidade e a galera vai se identificar ".

Não sei o que mais me chamou a atenção, se foi o título do filme ou se foi o simplório comentário.

Ato contínuo, os comerciais entraram.

Em meio a eles , a chamada em cenas para a nova novela das nove...na mesma Tv que "bomba" o pensamento.

" Você vai adorar a sua nova novela das nove".

No vídeo, para nos encantar a percepção sobre nós mesmos, a reprodução romanceada em meio às cenas mais hediondas da violência que nos cerca.

Nem vale despertar o âmago da emoção e citar o que vi ali. Inacreditável para o horário, inclusive.

Seria um desrespeito ao meu próprio texto opinativo.

Decerto, não apenas o cinema , mas também a telenovela, ambos irão fazer com que nos identifiquemos visceralmente, na pele de candidatos à cidadãos. Dispenso essas telas, em nome da saúde emocional. Já temos as ruas...

E como!

Quanto à miserável violência da "arte", é a mesma que embasa a perene mesmice das ideias e inspirações monotemáticas há décadas( desde o CINEMA NOVO de Anselmo Duarte), a que inspira nossos artistas e diretores à grandes obras, o que decerto também ilustram o ensinamento de que INVOLUÍMOS drasticamente no IDH, enquanto sociedade civil " organizada".

Merecemos um " award" da violência mundial.

Certa vez , num documentário sobre Anselmo Duarte, ouvi uma artista dizer sobre o Cinema Novo: " o mundo precisa conhecer os horrores que acontecem no Brasil!).😱

Eu me assustei com a fala...

Pois é, talvez o mundo já conheça profundamente e esteja meio entediado.

Dizem que a arte imita a vida, mas é certo que a vida, já sem noção, também imita a violenta arte massiva carente de arte, quando protagonizada por uma sociedade sem direção dos rumos, tanto quanto sem direção de arte , aquela que toca subliminarmente os sentidos, de forma mais delicada e agregadora.

Que pena não conseguirmos sair , através das telas , do nosso lugar... tão comum. Tão triste.

A mesmice enjoa demais...

Eu acredito que, apesar do tudo, temos mais arte para protagonizar o encantamento dos sentidos e aliviar nossas tensões sociais.

Ainda temos coisas boas para revelar nas telas.

Aos artistas é preciso verdadeira RESPONSABILIDADE SOCIAL.

Sim, é preciso falar das telas reais , de tantas dores, mas repintando com arte de qualidade os cenários reivindicados.

É preciso misericórdia... até na arte.

Ainda que nossas telas fumeguem violência, miséria e descaso por todos os lados, temos condições, sim!, de mostrar, a nós e ao mundo, algo melhor do que a ânsia especulativa e apelativa pela audiência de todas as telas.

Talvez o mundo anseie por ver a nossa melhor parte; e já tenha se cansado de assistir o tamanho da nossa perdição social.

Vamos falar das flores, enquanto semeamos no solo fumegante as sementes, quase utópicas, de uma vida mais digna para todos...

Taí , esse seria um bom tema para que a sociedade começasse a se identificar nas telas e, portanto, acreditasse que sonhar é possível, além de preciso.

Sopremos as labaredas e plantemos um jardim nos campos que sobraram, que tal a inspiração?

Por aqui, também é crível tornar os sonhos uma realidade mais viável e palatável.

Por enquanto, seguimos pela vida tal como as chamadas da violência homicídia das telenovelas , a que mata a indignação e os caminhos para qualquer futuro promissor.

E pelas ruas, nem precisamos das novas telas do velho cinema novo.

Somos todos vítimas e protagonistas das hediondas cenas do dia a dia... artistas viscerais no roteiro da sobrevivência social civilizatória.

" - EI, PASSAGRANA!".

De mãos ao alto... peço que, em todas as telas,Deus nos ajude!

Antes que passemos até a alma.