Ela era também atriz (publicado originalmente em 27/7/2024)
Os poucos a se lembrarem de Midred Harris a apontam somente como ‘a primeira esposa de Charles Chaplin’. É verdade. Conheceram-se quando a artista contava 16 anos, meados de 1918 (nasceu em 29/11/1901 – ele tinha 28). Namoraram, ela pensou estar grávida, se casaram em outubro daquele 1918. A gravidez de verdade veio pouco depois. A relação foi turbulenta, marcada por traumas, tragédias. Chaplin a maltratava, a traía. Tiveram um filho que morreu com 3 dias de vida. Meses depois, se divorciaram. Para tentar abafar o escândalo, o intérprete de Carlitos deu a ela indenização de 100 mil dólares.
Em sua autobiografia, o cineasta a cita pouco e não lhe dá a devida importância. Mildred casou-se outras duas vezes e morreu há exatas 8 décadas, de pneumonia, depois de ficar 3 semanas internada devido a uma operação abdominal malsucedida – 20/7/1944 – tinha apenas 42 anos.
A trajetória profissional, entretando, teve certa relevância. Estreou nas telonas ainda criança, 1912, num faroeste. Seguiu nos sets nas temporadas que se seguiram, em papéis de médio ou pouco valor, com diretores famosos na época, como no filme ‘Intolerância’ (1916), de David Wark Griffith, onde encarnou uma mulher do harém (tinha só 14 anos). Concomitantemente, participava de peças de teatro, shows de vaudeville. Mildred penou para se adaptar ao cinema falado.
A transição não foi nada boa. A partir daí a carreira começou a ruir. Esteve em longas de Frank Capra e até dos Três Patetas, mas sem o brilho da época das películas mudas. Vendo os convites escassearem, contou com o apoio e a gentileza de Cecil B. DeMille, que a escalou a personagens menores em determinadas obras suas – uma delas, ‘Vento Selvagem’ (1942), por coincidência tinha o elenco outra ex-esposa de Chaplin, Paulette Goddard. ‘Um Crime Maravilhoso’, lançado após a morte de Mildred, 1945, foi seu derradeiro trabalho. Teve como marcas registradas a fisionomia depressiva e o olhar triste, melancólico, compenetrado.