Jason Miller, um artista (publicado originalmente em 23/3/2024)
Jason Miller estava absorto no set de filmagem de ‘O Exorcista’ (1973), esperando ser chamado pelo diretor William Friedkin para rodar mais uma cena de seu personagem, o Padre Damien Karras, quando recebeu a notícia de que a sua peça de teatro ‘O Campeão da Temporada’, escrita em 1972, havia acabado de conquistar o maior prêmio das letras dos EUA, o Pulitzer. Dias depois arrebataria outro caneco, o Tony, principal troféu dos palcos.
O sonho de Miller, que fazia bicos antes de estreitar relações com o lápis e o papel, era ser reconhecido como escritor e dramaturgo. Porém, ao ser picado pela mosca das câmeras (‘O Exorcista’ foi sua estreia como ator – recebeu indicação ao Oscar de Coadjuvante) abandonou a ideia e se concentrou nas interpretações e direções voltadas às telonas. Durante as filmagens da história de terror, Martin Scorsese o convidou a protagonizar ‘Taxi Driver’ (1976). Miller recusou e só por isso Robert DeNiro entrou no projeto.
Mais tarde, levou ‘O Campeão da Temporada’ aos cinemas (1982), numa adaptação dirigida e roteirizada por ele, com Bruce Dern e Martin Sheen no elenco. Miller tinha bagagem. Formou-se em Filosofia pela Universidade de Scranton, cidade da Pensilvânia para onde se mudou com os pais ainda criança (nasceu em Nova Iorque). Como ‘Jack’ Miller ensinou teatro na década de 1960. Teve tropeços, claro. Ao topar participar de ‘O Exorcista 3’ (1990), derrapou feio. A fita foi um fracasso retumbante.
Aos 62 anos, em 13/5/2001, sofreu um fulminante infarto enquanto ensaiava a peça ‘O Casal Esquisito’, onde faria Oscar Madison. Semanas antes, terminara o primeiro esboço de outra peça, escrita em parceria com o filho Joshua. O enredo tratava, pasmem, de um pai que era dramaturgo e que, ao morrer, deixava o script para o filho completar. É um dos 8 atores que recebeu indicação ao Oscar por ter dado vida a um padre. Faria 85 anos agora em abril.