A lei estúpida (publicado originalmente em 16/3/2024)
Em janeiro começou a ser aplicada, de novo, lei de cota a filmes brasileiros nos cinemas. Vale até 2033. O documento, extinto em 2021, retornou pelas mãos (sujas e politicamente corretas) do atual governo federal. Detalhes sobre número mínimo de sessões e diversidade de títulos serão fixados anualmente por decreto. O Executivo consultará entidades, distribuidores, exibidores e a Agência Nacional. Haverá pré-requisitos e tratamento diferenciado aos longas-metragens premiados. Descumprimento acarretará multa.
Ou seja: a patota das ‘celebridades’ que apoiou o presidente voltou. Quer que os engulamos. Se você sentiu engulho, parabéns. Também senti. Hoje, praticamente, não existem os chamados ‘cinemas de cidade’. Em Jacareí, por exemplo, eram Rio Branco, Rosário, Avenida. Todos foram substituídos pelas empresas de longo alcance, com determinada quantidade de dependências. Suponhamos que a rede X possua 6 e, a partir de agora, 2 ou 3 precisem, imperativamente, exibir fitas nacionais.
A imposição impactará várias categorias, principalmente lucro e público. Há histórias que as pessoas não se interessam, ainda que sejam ‘premiadas’, como afirma a condição da lei. De que adianta? Salas ficarão às moscas, a empresa perderá dinheiro e o espectador preferirá assistir algum streaming no conforto do lar ou outro filme, talvez qualquer blockbuster dos EUA. Qual será a consequência óbvia, partindo desta ‘classe artística’ que mira no vitimismo abjeto? “Estamos sofrendo boicote”, “a distribuição está injusta”, “a elite não nos valoriza”. Tudo conversa fiada. O que é bom, é bom. Não precisa ser imposto.
Qualquer tipo de cota, seja racial, de sexo, passando pela nacionalista-cinematográfica, é contraproducente, danosa. Roteiros que têm lacração pura e simples, ou que jogam ao vento narrativas mentirosas, como a vergonha alheia de ‘Marighella’ (2019) – e hoje eles abundam –, não atraem gente aos cinemas. Somente rendem notinhas da bolha de críticos que bajulam atores em troca de favores. As fitas ficarão completamente esquecidas assim que saírem de cartaz. Para resumir, a lei de cota é bastante estúpida.