Sobre a perversidade de sempre mentir para não "ofender' e suas consequências

O que é ser realmente bom??

Tem um filme, "Florence: Quem é Essa Mulher?", de 2016, que eu nunca vi e parece muito interessante. Protagonizado pela lendária atriz Meryl Streep, conta a história real de uma granfina americana de nome Florence Foster Jenkins que, apesar de não ter talento algum para o canto lírico, acreditava no oposto e, justamente por isso, chegou a investir em uma carreira artística e se apresentar publicamente. Ela, inclusive, fez "sucesso" em suas apresentações ou... humilhações gratuitas, já que havia muita gente disposta a pagar para vê-la desafinando ao vivo. Pois essa história pode nos dar uma lição sobre bondade e verdade, se se trata de uma mulher que tinha uma grande ilusão sobre si mesma e cuja crença ainda foi reforçada por outros, não apenas por aqueles que queriam vê-la se humilhando e, talvez, sem qualquer consciência do papel que estava se prestando, mas também pelos que, sentindo pena de sua aparente inocência, apoiaram o seu sonho (e sem deixar de falar sobre a possibilidade de pode ter "molhado a mão" de alguns para ajudá-la em sua empreitada).

Percebam que, mesmo essa ideia moderna e popular de que a "empatia", como sinônimo de bondade, se expressa particularmente pelo ato de mentir para não ofender ou para agradar, tem os seus limites. Vejam o caso da Florence em que, aqueles que mentiram para ela, apoiando sua carreira, não eram melhores ou mais bondosos que aqueles que sentiam prazer em vê-la se humilhando, se o mais certo é dizer a verdade, principalmente se for necessário, porque existem situações em que a franqueza pode ser facultativa. Mas, se tratando de inteligência, talento ou competência, o melhor é sempre dizer a verdade, por mais dura que possa ser. Aqui, ainda é preciso diferenciar a verdade subjetiva ou o que se pensa e se sente e a verdade objetiva ou o que se percebe objetivamente.

Para piorar, esse hábito de sempre mentir para não ofender definitivamente deixou de se limitar à esfera pessoal, adentrando no mundo da política, por ter sido adotado por partidos ditos "progressistas" ou "de esquerda" e em relação aos seus grupos "politicamente protegidos" ou, "relevantes" aos seus projetos de poder: grupos histórica ou socialmente 'marginalizados". Então, a partir da ditadura do politicamente correto nas principais instituições da maioria dos países ocidentais, com base em um alinhamento de ideologias aparentadas: do igualitarismo ao relativismo cultural, passou-se a condenar qualquer ideia ou pensamento que confirme diferenças potencialmente inatas de desempenho cognitivo e de comportamento entre indivíduos e grupos, ainda mais se for sobre esses grupos "protegidos".. Como resultado, temos vivido em um cenário similar ao da história da Florence, em que a maioria das pessoas tem sido emocionalmente coagidas a acreditar que, por exemplo, as diferenças cognitivas entre homens e mulheres ou entre grupos raciais se deve exclusivamente a fatores culturais e sociais, e não porque, talvez, sejam reflexos das próprias diferenças intrínsecas entre eles: mentir para não "ofender', se parece mais fofo "culpar" o meio do que endossar um pensamento mais determinista e que justifica ao invés de problematizar certas diferenças de representatividade, por exemplo, a desproporção de homens trabalhando no mundo da ciência e da tecnologia. E, além da imposição discursiva, esses grupos ou partidos políticos também têm criado leis baseadas nessas crenças, tal como o estabelecimento de sistemas de cotas para os seus grupos "politicamente relevantes". Mas, se suas diferenças são mais profundas, se não são apenas produtos de privilégios de um outro grupo sobre outro, então, indivíduos aquém da competência exigida estão sendo contratados, principalmente por serem da raça ou etnia contemplada (ou outra categoria). Portanto, temos uma situação definitivamente anti-meritocrática ou injusta e que ainda pode trazer graves consequências a médio e longo prazo, exatamente por estar atribuindo funções importantes à pessoas menos capazes ou ideais ao cargo...

A empatia, o ato de se colocar no lugar do outro, é uma qualidade indiscutível. No entanto, ou parece que tem sido excessivamente valorizada e/ou superficialmente compreendida, tal como eu comentei nesse outro texto: "Altruísmo patológico ou empatia subdesenvolvida??". Porque, mesmo que seja respeitoso evitar dizer certas verdades ou, evitar o sincericídio, não é toda situação em que esse hábito será o mais correto, tal como parece ser o caso da capacidade ou inteligência, já que uma sociedade complexa depende desses filtros de competência profissional para funcionar de maneira minimamente adequada.