Cinema e ópera juntos (publicado originalmente em 25/11/2023)
Quase 2 séculos separam a peça ‘A Flauta Mágica’ (1791), de Wolfgang Amadeus Mozart, da adaptação ao cinema (1975, na íntegra no youtube), dirigida por Ingmar Bergman. Vários assuntos compõem a obra por meio de simbolismos: teorias iluministas (que tanto prejudicaram o mundo), ritos da maçonaria, sentimentos da Revolução Francesa (os jacobinos, aqueles trastes enganadores e assassinos), citações da Idade Média, críticas veladas ao regime monarquista etc. Emanuel Schikaneder, maçom como Mozart, foi o responsável pelo livreto da história.
Na telona, Bergman escreveu o roteiro, que começa com espantosos 10 minutos de closes de rostos da plateia assistindo ao espetáculo, enquanto a música toca. A partir daí o cineasta nos mostra que a imaginação pode valer 1 milhão, mas só quando tem a simplicidade como aliada. Ele não usa recursos no set: figurino é precário, cenários, burlescos e o elenco passa a imagem de inexperiência.
Porém, não se engane. Tudo é proposital. Os personagens centrais – Rainha da Noite, Sarastro, Pamina, Tamino e o mais carismático de todos, Papageno – são alegorias de conto de fadas acessível, dividido em 2 atos. No 1º, Tamino, fugindo do dragão, é salvo pelas auxiliares da Rainha da Noite. Esta oferece a ele a filha, Pamina, mas em troca terá de sacar o rei Sarastro, impiedoso, do trono.
O galã será ajudado por Papageno, espécie de bobo da corte. Bergman deixa claro desde o começo que aborda a trama de forma folclórica, sem brilharecos, com pouca ‘seriedade’, digamos assim. Isto fica explícito logo quando o dragão surge em cena: trata-se de fantasia mal-ajambrada, cujo intérprete deve ter sido um faz-tudo qualquer do teatro. Assim, qual é a virilidade que o mocinho passa ao público? Praticamente zero (afinal, desmaiou ao ver um monstrinho mequetrefe daqueles!). Se você, leitor, adora filme musical e sobretudo ópera, tem aí um prato cheio para desfrutar e se deleitar. Se não, passe longe. Bem longe. Duração: 130 minutos. Cotação: bom.