Dolorosamente ligados (publicado originalmente em 21/10/2023)
“Esta é a história de 5 décadas e de 2 amigos: a lendária atriz e o maior cineasta” – a frase inicia o belíssimo documentário ‘Liv & Ingmar’ (2012, íntegra no youtube), dirigido por Dheeraj Akolkar. Liv Ullmann, que completará 85 anos em dezembro (é, até hoje, uma das mulheres mais belas do cinema), depõe sobre sua convivência com Ingmar Bergman (1918-2007), com quem permaneceu 5 anos casada (1966-1971) e teve a filha Linn.
Dividida em 6 capítulos (Amor, Solidão, Raiva, Dor, Saudade e Amizade), a obra mescla cenas de filmes que estão no panteão dos melhores da Sétima Arte, como ‘Persona’ (1966, primeira parceria Liv-Ingmar), com reflexões da artista em sua casa em Oslo (Noruega). Trechos de cartas íntimas são lidos enquanto vemos fotos. “Lembro-me de que, todo dia, quando ele chegava ao set, eu chorava. Estava aflita. Depois, não mais. Apaixonei-me”, revela Liv. Ao se conhecerem, ambos eram casados. Romperam respectivas relações e ficaram juntos quando ‘a lendária atriz’ descobriu estar grávida do ‘maior cineasta’.
Aos poucos tudo mudou. Bergman se tornou ciumento, possessivo. Prendia Liv em casa – que rodeou de muros – sem permitir visitas. “Nas filmagens, minhas folgas eram às quartas-feiras. Eu saía, bebia. Minha segurança era viver do jeito que ele queria”. Quando fez ‘Vergonha’ (1968), num frio de 30 graus negativos, Ingmar estava com raiva dela e a fez ficar horas num barco, ao mar, apenas com casaco leve.
Na década de 1970, ‘livre’ do marido, seguiu carreira em Hollywood. “Meu agente dizia ‘sim’ a tudo. Cheguei a fazer, em 1 ano, 4 filmes”. O laço que uniu Liv-Ingmar é eterno. Ela ‘sentiu’ que o amigo morreria. “Às vezes temos saudade, mas não sabemos o quanto”. O momento mais lacrimejante é o que ela lê um bilhete que escreveu a Ingmar, guardado há anos num pequeno urso de pelúcia, que termina com a ‘condenação’ certeira: “Estamos dolorosamente ligados”. Duração: 80 minutos. Cotação: ótimo.