As memórias de Chaplin (publicado originalmente em 23/9/2023)
Terminei semanas atrás a leitura de ‘Minha Vida’ (1965), as memórias de Chaplin, maior nome do cinema no século XX. Há preciosidades como os inúmeros encontros com personalidades do calibre de Pablo Picasso, o bailarino Vaslav Nijinski, o Primeiro-Ministro da Inglaterra durante a 2ª Guerra, Winston Churchill. O cineasta narra detalhes e analisa comportamentos de todos.
Expõe também seus relacionamentos amorosos, menos o com Lita Grey, a segunda das 4 esposas, onde dedica menos de meia página (em 1924, aos 16, ela engravidou de Chaplin, que poderia ser preso por ter relações com a menor – se casaram em segredo no México para evitar escândalo, e tiveram mais 1 filho). A extrema miséria da infância, os problemas mentais da mãe por conta da fome, os primeiros empregos, os bastidores das filmagens, o sucesso logo no primeiro curta-metragem, o enriquecimento quase que instantâneo, enfim, está tudo lá. Todavia, o que me chamou a atenção foi, no fim do livro, da nublada ‘confissão’ pela simpatia aos comunistas.
Na II Guerra, Chaplin substituiu um orador que discursaria nos EUA sobre a importância da ajuda soviética para derrotar os alemães. A partir daí ele elogia, por exemplo, o sistema de governo, as ideias, os líderes vermelhos. Quando o confronto acaba, o Departamento de Investigação americano começa a investigá-lo e seus filmes, não estranhamente, se tornam incômodos ao país, além de o ator-diretor ser interpelado de forma rude pelos jornalistas a cada entrevista.
Quando, em meados da década de 1950, revê Churchill, este o olha torto e ambos conversam com mútua desconfiança. A perseguição leva Chaplin a se exilar, mas não em Cuba ou URSS, claro: ele leva a família à Suíça, onde desfruta dos milhões (ganhos por mérito) sossegadamente até a sua morte, na noite de Natal de 1977, aos 88 anos, sem o risco de os socialistas tomarem o dinheiro. O tamanho dele à Sétima Arte permanece o mesmo, ainda assim.