O Oscar perdido (publicado originalmente em 22/7/2023)
Agora em junho houve o 130º aniversário de Hattie McDaniel, primeira atriz negra a ganhar um Oscar – por ‘... E o Vento Levou’ (1939), onde interpretou Mammy, a empregada doméstica desbocada da família O’Hara. Há celebração em torno de seu nome, pois os fatos que a cercam contribuem a isso.
Por exemplo: para ir, em 1940, à festa da Academia, os organizadores tiveram de pedir documento assinado do governo local autorizando-a a adentrar no recinto – o edifício não permitia negros (ela não compareceu à estreia da fita, pelo mesmo motivo). Hattie foi também a primeira negra a ir ao Oscar como convidada, e não como servente, garçonete. Era poetisa. Fez bastante sucesso como cantora.
Este preâmbulo tem a missão de destacar que os EUA, sim, eram uma nação racista. Existem sucessivos exemplos, desde banheiros separados pela cor, até bebedouros, lugares de ônibus, faculdades, bairros etc. ‘... E o Vento Levou’ foi seu trabalho mais conhecido e os mistérios que envolvem sua trajetória cobrem da mesma maneira a estatueta que conquistou aos 47 anos.
Com apenas 1.57 metro, povoou o mundo da Sétima Arte e da música com talento visto de longe. Morreu em 1952, de câncer de mama. Casou-se 4 vezes, sem filhos. Deixou herança de menos de US$ 10 mil, quantia irrisória se pensarmos que Chaplin, na década de 1920, já arrecadava milhões. E não é que Hattie administrava mal a grana – é que ela recebia cachês baixos.
O desejo dela era ser enterrada no Cemitério de Hollywood. Jules Roth, dono do local, se recusou: negros não eram bem-vindos ali. Hattie, então, foi sepultada no Cemitério de Los Angeles. A atriz pediu que seu Oscar fosse doado à Universidade de Howard. Porém, desde a década de 1960 ninguém sabe o paradeiro do objeto. Há teorias. Uma delas é que, num protesto de estudantes, estes jogaram a peça no rio Potomac, em Washington. Só faltava essa...