Filme “A Pequena Sereia” e a transformação humana

Filme que recentemente anda rendendo polêmica, haja vista a protagonista ser negra, é A Pequena Sereia, que mostra a beleza e simpatia, bem como o talento musical como focos de um conto de fadas clássico. Anda se criticando muito a história e os temas do filme, mas nada mais que equívoco há nessas críticas. O filme se manteve em muito fiel ao conto original, de Hans Christian Andersen, onde uma moça, sereia, se apaixona por um moço, humano e príncipe.

 

Nada mais difícil que as transformações do corpo e do amor, para a juventude. O silêncio de Ariel, a pequena sereia, se faz presente quando esta tenta se adaptar a ser humana, aprendendo a nadar, andar de salto e dançar com as pernas, membros não antes presentes em sua estrutura, antes de calda de peixe. Os dois mundos também se chocam, assim como quando o rei filósofo de Platão sai da caverna, encontrando um outro mundo. Em A pequena sereia, esta encontra um mundo encantados, de aves que voam, flores que perfumam e pessoas que têm pernas. No original suas irmãs também conhecem o mundo fora do mar, e relatam experiências com o luar, perfume de flores, pássaros e outras situações não vistas no fundo do mar.

 

O desenvolvimento corporal e psicológico da jovem faz esta sair de um mundo de flores, encantado como o canto de sereia, para um mundo humano, de uma realidade que encontra o mal, revestido na vilã, Úrsula, que faz um pacto com a sereia, cobrando a sua alma, simbolizada no ato de cantar. O pacto espiritual coloca problema para os deuses, e Tritão perde seu poder por um momento, ameaçando os mares e os marujos, mas superada com os animais que o filme ajudam a Ariel. O príncipe é alguém igualmente sonhador, que deseja ouvir o canto da sereia que lhe salvou a vida, e ao mesmo tempo procura um amor verdadeiro, que de início conhece a beleza muda da sereia, mas que depois ouve a voz e canto da sua alma.

 

O filme A Pequena Sereia tem bela trilha sonora, bons efeitos visuais do fundo do mar, demonstrando um universo de seres incríveis e curiosos que vivem nos oceanos. Ariel é bela e mantém certa inocência, mas que não ocultam sua força e destreza, quando foge e luta com tubarões, peixes, bruxa e outros desafios. A inclusão étnica também mostra que uma protagonista negra é fundamental para se quebrar paradigmas e superar o racismo estrutural.

 

Mariano Soltys, pensador e advogado