Acertos e erros (publicado originalmente em 22/4/2023)
O novo documentário do Brasil Paralelo, a trilogia ‘A Direita no Brasil’, entrevistou mais de 20 personalidades que viveram profundamente o ressurgimento do movimento. Eles tentam responder qual (se há, de fato) o futuro do conservadorismo no país. O período analisado, junho de 2013, quando manifestações populares pediam o combate à corrupção (aumento de 20 centavos na passagem do ônibus, ‘saúde padrão Fifa’ etc), e protestos de 8/1/23, em Brasília, teoricamente, exemplifica a ‘transformação histórica na política’ tupiniquim.
A produção gravou com bolsonaristas-raiz e críticos ao ex-presidente, além de liberais e jornalistas. A teia é composta desde Silvio Grimaldo, um dos mais próximos ao Olavo de Carvalho, até Aldo Rebelo, ex-ministro de Dilma e até pouco tempo filiado ao Partido Comunista do Brasil, passando ainda por Fernão Lara Mesquita, Janaína Paschoal, Leandro Ruschel, Fernando Holiday, Joel Pinheiro da Fonseca, Sergio Moro e Bia Kicis.
Tanto a crise de identidade da direita como o seu ‘boom’ estão divididos em, basicamente: 1) 2013 e a influência de Olavo no ‘renascimento’ dos direitistas, inesperado, que sacudiu alicerces tradicionais, 2) Operação Lava-Jato e vitória de Bolsonaro em 2018, englobado aí confusões que advieram e 3) retorno de Lula à cena e perspectivas à direita. O exame de consciência é válido por uma série de razões, algumas não tão fáceis de explicar. O filme não é amontoado de fatos narrados, mas, sim, chance de reflexão de como tudo resultou no instante atual, onde pairam dúvidas, medos, fraquezas, frustrações, decepções.
Neste mergulho ‘antropofágico’ nas veias abertas do conservadorismo verde-e-amarelo, ‘A Direita no Brasil’ presta papel importantíssimo, até mesmo de ‘cão-guia’, quando a cegueira de parte destas pessoas é a teimosia mais torpe e enviesada. Ficarei longe dos spoilers. Mesmo assim, adianto que há teses interessantes acerca da perda de força do movimento, dos motivos que levaram a isso, seja pela influência do judiciário (o que era legal e ilegal desde a Lava-Jato teve consequências? Moro errou ao aceitar ser ministro?), da imprensa cada vez mais militante, ou da chamada ‘governabilidade do presidencialismo de coalisão’ a que Bolsonaro demorou (?) a incorporar. Cada episódio tem aproximadamente uma hora de duração. Cotação: ótimo.