Imitação sem engano (publicado originalmente em 15/4/2023)
À primeira vista, ‘A Mulher na Janela’ (2020, Netflix) passa a impressão de ser cópia sem-vergonha de ‘Janela Indiscreta’ (1954), clássico de Alfred Hitchcock. Nos primeiros minutos, pensei até em ‘A Garota do Trem’ (2016) e ‘Os Outros’ (2001). Mas estava enganado. O filme dirigido por Joe Wright me pegou pelas reviravoltas, malucas ou não, que dão giros de 180, 360 e 720 graus, do tanto que muda no terço final.
Nada é o que parece. Na história, Anna (Amy Adams) é psicóloga há 15 anos e é agorafóbica, ou seja, tem medo de sair de casa. No caso dela, casarão de 3 andares (claro, a imagem da escada em funil, usada a esmo desde ‘Um Corpo de Cai’, 1958, também do Mestre do Suspense, está presente), cujo porão é alugado a David (Wyatt Russell), sujeito esquisito. Anna, que toma remédios tarja-preta e os engole com bebida alcoólica, está ‘separada’ do marido, que ficou com a filha pequena deles. A moça passa o tempo vendo fitas antigas, dormindo (tem, de vez em quando, pesadelos, alucinações), conversando com amigos virtuais e espionando vizinhos (como o fotógrafo L. B. Jefferies, personagem de James Stewart com a perna quebrada em ‘Janela Indiscreta’).
Quando a família Russell se muda bem em frente à sua casa, a rotina de Anna é abalada quando testemunha o assassinato de Jane (Julianne Moore), talvez pelo marido, o agressivo Alistair (Gary Oldman)? O filho deles, Ethan (Fred Hechinger), adolescente, se torna amigo da protagonista, busca refúgio. O jogo proposto pelo roteiro de Tracy Letts é saber o que é verdade e o que é delírio de Anna.
Sim, sei que você já assistiu a longas-metragens com este teor, mas é sempre interessante investigar quem são os culpados dos crimes, mesmo que o desfecho soe como números de circo: um malabarismo atrás do outro para encaixar o quebra-cabeça. Para tanto, as peças precisam colaborar. Neste caso, por conta do elenco forte, dão conta do recado. Adams está irreconhecível na pele da mulher ‘largada’ com roupas largas e cabelos amassados, e Moore e Oldman entregam bom trabalho ao público, sem comprometer. Duração: 101 minutos. Cotação: regular.