A espiritualidade de Sailor Moon

 

A ESPIRITUALIDADE DE SAILOR MOON

Miguel Carqueija

 

A conhecida personagem de Naoko Takeushi é, no universo dos super-heróis, algo realmente diferente, e desde que surgiu, em 1991, uma verdadeira novidade. Até então os super-heróis e as super-heroínas eram figuras em geral superficiais ou, quando possuíam alguma densidade, era a nível social, como na célebre novela gráfica “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller.

Existe uma clara tendência materialista, ou pelo menos neutra, nesse tipo de história. Quanto ao materialismo, combinado com o culto à violência, tem o seu supra-sumo nos horrorosos “Watchmen”, de Alan Moore.

 

Sejamos francos: quem já viu um super-herói ou uma super-heroína - com exceção de Sailor Moon - nessa atitude?

 

A personagem japonesa Usagi Tsukino (ou Serena Tsukino, como ficou conhecida nos Estados Unidos, México e Brasil, ou Bunny Tsukino na Itália) tem um diferencial muito forte em relação aos super-heróis norte-americanos e diversos japoneses. Quando surgiu o primeiro seriado de televisão, nos anos 90, chamou muita atenção não só pelo aspecto infantil e cômico da história, mas porque a heroína chorava, tinha medo e tomava atitudes algo bobas e possuía fraquezas que a tornavam muito vulnerável diante de perigos e inimigos.

Por isso muita gente achou que ela era uma heroína pueril, bobinha, chorona e medrosa.

Ora, a série original de tv vai se tornando densa à proporção que o enredo se desenvolve e segredos vão sendo revelados. E com o surgimento gradativo das demais “sailors” e as revelações sobre o passado no Reino Lunar e o futuro na Tóquio de Cristal.

 

As asas de anjo na transformação mais avançada.

 

Além disso a heroína vai ganhando experiência, maturidade e coragem e se tornando mais poderosa, até se tornar evidente o seu aspecto messiânico.

No mangá há mais densidade e no seriado da década de 10, “Sailor Moon Crystal”, bem como no recente épico duplo “Sailor Moon Eternal”, o mangá é seguido mais de perto, pois na série original há muita diferença.

Em todo o caso a substância de Sailor Moon é realmente notável: predestinada, espiritualizada, dona de uma bondade e suavidade incríveis e a capacidade de alegrar as pessoas. Também existe a extraordinária ligação entre Sailor Moon e sua filha vinda do futuro, Chibiusa. O romance entre Usagi e Mamoru Chiba (Tuxedo Mask) é exemplar.

Sailor Moon é, praticamente, uma exorcista. Ela combate espíritos malignos e seres humanos com eles compactuados e também purifica pessoas possuídas. Seu bordão é: “Sou uma guerreira que luta pelo Amor e pela Justiça!”

Assim, colocando o amor na frente e agindo de acordo (ela é movida pelo amor) Usagi é diferente dos super-heróis DC e Marvel: Liga da Justiça, Vingadores, X-Men, Watchmen, ou heróis japoneses tipo Cavaleiros do Zodíaco, tudo isso é culto à violência e teratologia, e cada vez mais também de cinismo e amoralidade.

Por certo, ainda é possível encontrar histórias desses super-heróis que dá para assistir, como uma mini-série em animação do Capitão Marvel, dos anos 80. É inocente, mas é tão ruim que chega a divertir, entretanto não tem o significado profundo de Sailor Moon.

Li em algum lugar que “Sailor Moon tem uma vida no Céu e outra na Terra”.

Em diversas ocasiões fica evidente que ela é protegida por forças espirituais poderosas bem como a existência de vida após a morte é claramente afirmada. Deus, religião e oração estão presentes. O símbolo da Cruz também aparece em algumas ocasiões. Naoko Takeushi exerceu a função de sacerdotisa xintoísta e as cinco "sailors" se reúnem habitualmente num templo dessa religião. Todavia, também são frequentes os símbolos cristãos.

Um estudo em profundidade da espiritualidade da Princesa da Lua Branca e Guerreira do Amor e da Justiça é algo que, um dia, alguém deveria fazer.

 

Rio de Janeiro, 3 e 4 de abril de 2023.

 

Sailor Moon conversa com o espírito de sua mãe, a Rainha Serenity do extinto Reino Lunar.

 

A partir da terceira fase da saga, Sailor Moon torna-se a portadora do Santo Graal.