COM CERTEZA O MELHOR FILME POLICIAL!!!
O melhor filme policial de todos os tempos: O Profissional. O auge das carreiras de Jean Reno e Natalie Portman
Análise completa de um filme atemporal e clássico absoluto do cinema policial, de ação e drama
Não há o que discutir. O Profissional (Léon, originalmente) é um dos mais impactantes filmes já feitos até hoje. Luc Besson construiu uma trama tensa, sem meios-termos e regada à violência, porém com uma mensagem de fundo extremamente bela. É impossível ficar indiferente aos personagens principais desse filme, principalmente Léon, Mathilda e Stansfield, o trio que movimenta a narrativa e prende o espectador à poltrona.
Usando de um tema interessante (e já utilizado no cinema) onde o indivíduo que vive sob um rígido código de regras passa a mudar por conta de um amor, o diretor conseguiu dar credibilidade ao envolvimento emocional de um assassino profissional com uma órfã.
Destinos.
O filme, como já dito, não possui um tema inédito. Entretanto, a abordagem desse tema, o elenco e a ausência de barreiras reforçam a história, fazendo com que os espectadores não só acreditem no que se passa, mas também adquiram uma empatia com os personagens.
Inicialmente temos um homem sombrio, um pistoleiro no sentido mais rígido da palavra. Ele vive sob um estrito código de honra e sem um futuro, já que cada dia pode ser o seu último. Ele também não mantém qualquer tipo de contato afetivo com outra pessoa. Por intermédio do isolamento e da solidão, Léon consegue sobreviver.
Em contrapartida temos Mathilda, uma menina de treze anos que vive uma existência indigna. Seu pai é um traficante, a madrasta uma aparente prostituta e a irmã mais velha a despreza. A única pessoa capaz de minimizar este ambiente horrível é o irmão mais novo dela, um menino de apenas 4 anos.
Mesmo vivendo em realidades tão diferentes, Léon e Mathilda irão se encontrar e nunca mais nada será como antes.
Violência e sexualidade.
Não espere, em suma, um filme de ação corriqueiro. ‘O Profissional’ leva às últimas instâncias a dosagem de violência. Nada é gratuito.
O enredo usa de violência contra crianças por ser essa mesma violência a mola precursora para o encontro entre Léon e Mathilda. Mortes ocorrem em níveis assustadores, fato que não implica em dizer que há violência gratuita.
O diretor e o roteirista querem comprovar que o assassino profissional está infinitamente acima da média daquilo que chamamos de ‘matadores’ e, para isso, valem-se do recurso das cenas de tiroteio (evidenciando a perícia de Léon diante da incredulidade dos policiais).
Na verdade, os destinos de Léon, Mathilda e Stansfield estão entrelaçados de forma indissociável.
Eles interagem de modo que nenhum deles será o mesmo após seus destinos se cruzarem.
Também podem surgir críticas quanto ao apelo de uma criança com armas e vivendo sob a tutela de um matador. Ora, isso teria até algum fundamento diante de um contexto diferente, entretanto Mathilda passou por um trauma fortíssimo que lhe despertou o desejo de vingança e morte, ao passo que ela entrou na vida de Léon como algo que ele nunca teve: uma pessoa para amar.
Há algo de sexual entre a menina e o assassino? Sim, mas isso é fruto da mente infantil da garota. Ela adquiriu amor por seu protetor (algo muito similar à Síndrome de Estocolmo) que, gradualmente, torna-se um amor quase de pai para filha. Eles são párias em um mundo complexo. Eles são o complemento um do outro, e isso gera amor.
Inversão de papéis.
Outro ponto marcante deste filme é a inversão de papéis. Costumeiramente temos o policial perseguindo e neutralizando o assassino, algo que é mostrado de forma bem diferente, pois Léon – ainda que matador – tem muito mais consciência moral e respeito pela vida do que os próprios policiais (representados por Stansfield e sua equipe).
A aparência impecável do personagem de Gary Oldman não é suficiente para esconder a podridão de suas atitudes. Já Léon tem o visual de um homem sem raízes e amores, algo que beira o desleixo e o descaso consigo mesmo, mas ele é um homem de princípios inquebrantáveis.
Overactor.
O termo ‘overactor’ refere-se aquele intérprete cuja atuação ganha destaque em função do exagero. Não que isso seja ruim na maioria dos casos, deixo claro.
Em ‘O Profissional’, o destaque ficou por conta de Gary Oldman na pele de Stansfield. Seu personagem é um amante da hierarquia (não permite que o contrariem, principalmente subordinados), violento, homicida e viciado em um medicamento que o deixa dopado quase que instantaneamente. Sua performance ganhou vulto e tem um de seus pontos altos na cena em que convoca todos os policiais com o singular grito: – Everrryonnnne!
Gary também valeu-se de maneirismos para mostrar os efeitos da droga ao ser ingerida, contorcendo-se e gerando ruídos. A interpretação desse personagem levou-o a ser considerado um dos maiores vilões da história do cinema.
A simplicidade de Léon.
Jean Reno também aplicou brilhantemente sua interpretação para criar Léon. Seu matador é um homem calmo, de aparência simples, por vezes desleixada, capaz de matar com a frieza de quem abate um porco para se alimentar. Jean e Luc Besson conseguiram mostrar a simplicidade do personagem através da serenidade, da disciplina e do distanciamento de uma vida familiar concreta. Somente Tony (Danny Aiello) era algo próximo a um familiar para o assassino, fato que muda radicalmente com a entrada de Mathilda em sua vida.
A face quase inalterada de Léon, mesmo diante da pior situação, é a marca registrada de seu personagem durante todo o filme, há variação do semblante apenas em algumas ocasiões extremas.
Mathilda.
Provavelmente muitas atrizes passaram pelos testes ou foram cogitadas para o papel de Mathilda, mas é muito difícil imaginar este filme sem o talento da jovem Natalie Portman. Hoje é simples falar de seu talento, após tantos sucessos e o Oscar, fatos que não pesavam a seu favor na época das filmagens, além da pouca experiência.
Natalie trouxe para sua personagem um encanto que oscila entre a infantilidade, a insanidade e o fetiche. Sua Mathilda tem múltiplas faces, mesmo mantendo uma certa inocência. Mesmo diante da morte, ela se mostra indiferente, algo muito próximo à loucura.
É fácil vermos várias meninas nessa mesma personagem e, honestamente, é muito mais fácil acreditar em cada uma delas. Mathilda é menina, filha, mulher, apaixonada, brincalhona, louca, assassina e muito mais. Cada aparição sua pode revelar uma outra faceta, algo que a torna cada vez mais cativante.
Ela é a responsável por trazer Léon ao universo familiar novamente. Mas nada é gratuito…
A Planta.
O que aparenta ser apenas um item pertencente a um homem com uma rotina solitária revela-se muito mais importante. A planta é o vínculo entre Léon e sua própria humanidade, algo que o preocupa e o ocupa. É nela que o matador encontra uma fuga para suas próprias perturbações.
Há um simbolismo muito bem empregado no filme que ganha um vulto maior no final.
Avaliação final.
Pouco há para se dizer além do que já foi dito acima. ‘O Profissional’ é um marco do cinema por inúmeras questões e merece ser visto na versão estendida, a aprovada por Luc Besson, por incluir passagens que dão maior consistência à trama, além de reforçarem o impacto das atuações de cada um dos personagens.
Recomendo – sem o menor temor – para que assistam a essa obra-prima franco-estadunidense do cinema.
Dados Técnicos:
Título original: Léon
Ano de produção: 1994
Direção: Luc Besson
Produção: França/EUA
Roteiro: Luc Besson e Patrice Ledoux
O Profissional no IMDb: Léon, the professional