O eterno coadjuvante (publicado originalmente em 12/11/2022)
Um ano atrás escrevi neste espaço sobre os 50 anos do fim do programa ‘Família Trapo’, da TV Record (1967-1971). Depois, em 26 de novembro, um de seus integrantes atingiria, se estivesse vivo, o centenário: o ator Otelo Zeloni. A data quase me passou em branco e corrijo este lapso na coluna de hoje.
Sem dúvida, sua carreira foi marcada pelos incríveis papéis ‘menores’ que desempenhou. Chegou ao Brasil em 1947, após servir na Segunda Guerra. Combateu por alguns anos e sofreu 2 acidentes. Fugiu do front em 1943 na garupa de uma moto e migrou à América do Sul.
Por aqui, passou a negociar filmes italianos e, desta forma, conheceu pessoas da área do cinema. Com forte sotaque italiano, que jamais admitiu tirar, iniciou a trajetória artística como rádio-ator. Com o timbre de voz que pendia ao humorismo, não demorou a passar ao teatro de revista.
Aos 29 anos foi escalado ao primeiro filme, onde fez apenas uma ponta como um candidato ao emprego: ‘Suzana e o Presidente’ (1951), dirigido pelo compatriota Ruggero Jaccobbi, cujo script se baseou em ‘La Segretaria per tutti’, longa-metragem do país da bota da década de 1930.
O personagem de maior destaque foi Pepino, da ‘Família Trapo’, porém o ‘eterno coadjuvante’ tem outras marcas relevantes. Por exemplo: ‘Forno e Fogão’, atração televisiva de culinária (1971), foi a pioneira a contar com a apresentação de um homem. Na sétima arte, esteve em títulos importantes, como ‘São Paulo S.A.’ (1965), ‘Cala a Boca Etelvina’ (1958) e ‘Beto Rockfeller’ (1970).
Zeloni morreu em 29 de dezembro de 1973, um mês após completar 52 anos. Era o protagonista da novela ‘O Conde Zebra’, da Tupi, na pele de Vitório. Durante as gravações, sentiu-se mal. Ao ir ao médico foi diagnosticado com tumor cerebral em estágio avançado.
Pouco tempo depois de seu desaparecimento, a emissora optou por interromper a trama e cancelá-la. No mesmo 1973 estrelou também ‘Tio Maravilha’, seriado da Tupi escrito por Carlos Alberto de Nóbrega, com Walter D’Ávila e Suzana Vieira (que estava afastada da Rede Globo nesta época) no elenco. Restam, infelizmente, raros registros televisivos de Zeloni, um ator ímpar.