Jabor, o reinventor (publicado originalmente em 5/11/2022)
Cineasta, jornalista, cronista. Autor, diretor, roteirista. Consagrado, derrubado, falido. Fiel à Sétima Arte, aos jornais, à televisão. Escrevo esta coluna tardia em homenagem a um sujeito que conseguiu se reinventar algumas vezes e sempre com relevância.
Arnaldo Jabor, que morreu em fevereiro, aos 81 anos (faria 82 em 12/12), foi amigo de todos do Cinema Novo: Glauber, Paulo Saraceni, Nelson Pereira dos Santos, Diegues, Zelito Viana, Joaquim Pedro de Andrade, Hirszman. A sua participação veio só na chamada ‘Terceira Fase’ do movimento, 1968-72, com o filme ‘Pindorama’, de 1970. A ribalta lhe veio pouco depois, ao adaptar duas obras-primas de Nelson Rodrigues: ‘Toda a Nudez Será Castigada’ (1972) e ‘O Casamento’ (1975).
O próprio Nelson reconheceu Jabor como seu melhor representante nas telonas, o que, claro, não era pouco. No período 1978-86 realizou outros 3 longas de fôlego: ‘Tudo Bem’, ‘Eu te Amo’ e ‘Eu Sei que Vou te Amar’, com temas que giravam em torno de crises conjugais, discussões pseudofilosóficas, com o apartamento como cenário.
Fernanda Torres levou o troféu de melhor atriz em Cannes pelo último. Aí veio a ‘Era Collor’. Produções cinematográficas à míngua, fim da Embrafilme, economia em frangalhos. Jabor trocou de roupa: jogou a cadeira de diretor fora e pegou o computador.
Para conseguir grana, virou cronista. ‘Folha de S.Paulo’ e ‘O Globo’ deram-lhe abrigo. Escrevia, comparava, expunha, xingava. Mais estradas se descortinaram: rádios e TV Globo, onde, de certa forma, substituiu, sem querer substituir, Paulo Francis nas madrugadas com seus comentários ácidos no ‘Jornal da Globo’.
Virou escritor – no intervalo de 21 anos, 1993-2014, publicou 8 livros, também sobre assuntos variados, mas nem tanto: política, cinema, cotidiano. Voltou a comandar um set de filmagem em 2010 e lançou ‘A Suprema Felicidade’, que passa raspando por sua trajetória.
Detonado pela crítica, largou, então, de vez, o ramo das películas. Não se conformava com a hipocrisia da política tupiniquim e nem com a morte prematura de Glauber, aos 39 anos em 1981. ‘Glauber era um homem sem claquete’, dizia. Jabor também, na medida do possível. Cumpriu a tarefa por mais tempo que Glauber e pôs graça à seriedade caricata do país.