‘Elvis’: chamariz de comoção (publicado originalmente em 3/9/2022)
Destas últimas cinebiografias lançadas, sem dúvida a caracterização que mais se aproxima da realidade, no conjunto aparência-gestual-tom de voz, é a do ator Austin Butler como Elvis Presley (1935-1977) no filme homônimo lançado mês passado e ainda em cartaz. Butler, que fez uma ponta em ‘Era uma vez em... Hollywood’ (2019) encarnou o Rei do Rock de tal forma que, arrisco afirmar, deixou, por exemplo, Rami Malek (Freddy Mercury – ‘Bohemy Rhapsody’, 2018) no chinelo.
Isso dá a noção do fulgurante trabalho do intérprete da fita dirigida por Baz Luhrmann (‘Moulin Rouge’, 2001). De cara, o script pode assustar um pouco por sua veia caótica e ‘fora de ordem’, mesclando sequências do presente e passado em artes que, de vez em quando, parecem mais com gibis do que qualquer outra coisa.
Porém, ao avanço dos minutos, o espectador entra na engrenagem e se entrega ao longa-metragem de corpo e alma, tal é a comoção causada pelas canções, o ranço misturado com raiva que há com o empresário do protagonista, Coronel Parker (atuação – mais uma, para variar – impecável de Tom Hanks, maquiado para parecer bem mais gordo), ou com a degradação vertiginosa do intérprete de ‘Tutti Frutti’, causada, principalmente, pela ganância de Parker.
‘Elvis’ cobre a carreira desde as primeiras apresentações, meados dos anos 50, até o declínio e a fase derradeira, na década de 70. Baz envolve o público com pílulas de exagero, ao exibir a loucura das ‘macacas de auditório’, que deliravam com o rapaz de 20 anos que requebrava ‘fora dos padrões’, inspirado por canções religiosas dos templos dos negros dos EUA, no Mississipi.
A tentativa de censura ao rebolado, exigida pelos ‘pais de família’, e o apelido ‘Elvis, a Pélvis’, por conta disso, permeiam a parte central, onde o cantor, meio que sem saber como reagir, respondeu enfrentando moralistas e impondo seu sucesso. Destaca-se ainda o bom trabalho da direção de arte e figurino. Entretanto, o filme erra ao dar o fio da meada à narração de Parker, que o tempo todo tenta se justificar e se desculpar pelos eventuais erros cometidos, mas, praticamente, fica com saldo zero. Duração: 159 minutos. Cotação: bom.