Exilado em si mesmo (publicado originalmente em 20/8/2022)
Agora em setembro um dos filmes mais encantadores e carismáticos do cinema completa 29 anos: ‘Feitiço do Tempo’. A história nasceu cult e clássica. Acompanha as 24 horas do dia 2 de fevereiro do repórter Phil Connors (Bill Murray), sujeito sarcástico e temperamental, responsável pela meteorologia de uma TV.
É enviado à Punxsutawney (Pensilvânia) para cobrir o ‘Dia da Marmota’, onde o bicho ‘prevê’ se o inverno durará mais ou menos semanas. Só que ele, não sabemos o motivo, fica preso numa ‘armadilha do tempo’ que o faz reviver o 2 de fevereiro milhares de vezes, num looping infinito e infernal.
Phil acorda sempre ao som de ‘I Got You Babe’, da Cher, com o mesmo pijama e cobertor. A experiência, à primeira vista, surge como oportunidade de aprontar poucas e boas, como desobedecer a polícia e bancar o cafajeste com mulheres. Aos poucos, a ‘rotina’ se torna insuportável.
Ele começa a testar o destino e, por exemplo, comete suicídio centenas de vezes dos mais diferentes jeitos. E nada. Ao despertar, é 2 de fevereiro de novo. ‘Feitiço do Tempo’ envolve discussões sobre filosofia, religião, comportamento e vida, não no sentido piegas. É uma espécie de autoexílio forçado, de onde só se pode sair pela redenção.
Quantas boas ações são necessárias para Phil se livrar do ‘vício’ da repetição, a vivência contínua do igual presente? A fita, dirigida por Harold Ramis (protagonista e diretor de ‘Os Caça-Fantasmas’, 1984) e roteirizada por Danny Rubin (levou nem uma semana para aprontar a história), tem improvisos, como as cenas do mendigo que morre mil vezes.
Murray, ator de muitos recursos, deu o tom da comicidade. Andie McDowell, na pele de Rita, produtora apaixonada por Phil, é o termômetro da trama. É por ela que o repórter inicia a transformação que o levará ao desfecho desse carrossel sem fim.
Durante as filmagens Murray, que enfrentava divórcio problemático e por isso se atrasava constantemente, e Ramis deixaram de se falar. Era o fim da parceria em 6 longas-metragens, desde os anos 80. Tom Hanks e Michael Keaton, convidados a interpretar Phil, recusaram. Coisa do destino. Duração: 103 minutos. Cotação: ótimo.