A espiritualidade de Walt Disney

A obra de Walt Disney está perpassada de espiritualidade, embora não seja confessional. Lembro por exemplo de uma passagem do grande clássico "Cinderela" (1950) quando a protagonista, vendo destruído pela inveja de suas irmãs de criação seu sonho de ir ao baile do Príncipe, entra em desespero e diz que perdeu a fé. Então surge a Fada Madrinha e explica que não, ela não perdeu a fé, ou não poderia ver a fada.

Em "Vinte mil léguas submarinas" (1954) o Capitão Nemo, agonizando no Nautilus e vendo que seus segredos científicos seriam perdidos para a humanidade, observa que um dia eles serão redescobertos, "na hora de Deus".

Em "Mary Poppins" é deslumbrante a sequência da Catedral de São Paulo, tendo no áudio uma canção que se refere aos santos e apóstolos.

Conta-se que certa vez Walt precisava filmar ao ar livre na cidade mas chovia e isso não fazia parte do roteiro. Mas ao chegarem ao local a chuva cessou, o céu abriu e a filmagem foi rapidamente efetuada. Quando terminaram e guardaram o equipamento o céu fechou e a chuva recomeçou. Um dos auxiliares de WD, espantado, comentou:

-Puxa vida, Walt. Você tem bons contatos lá em cima!

Resposta do Mago da Tela:

- Quando a gente está fazendo o bem as coisas acabam dando mais ou menos certo.

Julie Andrews, em depoimento gravado décadas após a morte de Walt Disney, declarou (cito de memória, mas está num extra do DVD de "Mary Poppins"):

- Nós sabíamos quando Walt chegava ao estúdio, mesmo que não o víssemos, porque o ar mudava.

Que grau de força espiritual teria quem por sua presença mudava a atmosfera?

Não por mero acaso Walt Disney foi durante décadas o grande baluarte da decência em Hollywood e as famílias, inclusive no Brasil, levavam suas crianças para assistir os filmes de Disney, por saber que eram sadios, artísticos e divertidos, aliás o humor disneyano era ótimo.

Walt Disney criou, penso eu, o conceito do cinema que era para crianças sim, mas não só para crianças, ou seja, o filme para a família ou para todas as idades.