As palavras de Joan Didion (publicado em 6/8/2022)
Jamais tinha ouvido falar na escritora-jornalista Joan Didion até meses atrás, quando da sua morte, em dezembro, aos 87, por consequências do Parkinson. Nas repercussões, alguém indicou o documentário sobre sua trajetória, ‘The Center Will Not Hold’ (2017 – sem tradução ao português), da Netflix. Interessado no que li sobre a história de vida dela, corri para ver.
Desejo que você assista também, principalmente se amar jornalismo e literatura. Joan pertenceu à classe dos grandes profissionais das letras da década de 1960, no movimento chamado de ‘Novo Jornalismo’ / ‘Jornalismo Literário’, bobagem temática que inventaram porque havia gente que escrevia muitíssimo bem. Ela, ufa, nunca ligou às denominações e batucava textos sob olhar aguçado de analista do cotidiano. O filme é dirigido pelo sobrinho Griffin Dune.
Narra passagens de Joan com o marido, o escritor John Dunne, e a filha adotiva Quintana. Há somente 2 livros dela traduzidos no Brasil, destacados pela alta carga emocional e densidade amorosa, onde o conteúdo é, em ambos, o luto: ‘O Ano do Pensamento Mágico’ (2005) trata da morte do esposo, 5 dias após o Natal de 2003, por infarto – Joan demorou 3 meses para realizar o sepultamento porque, neste ínterim, Quintana estava na UTI com problemas respiratórios –; ‘Noites Azuis’ (2011) aborda exatamente o falecimento da filha, em 2005, aos 39.
O filme se concentra em captar memórias afetivas da protagonista. “John era muito mal-humorado. Ficava irritado por nada”, diz. “Temos de nos movimentar conforme as ondas. São elas que nos levam ao caminho certo, nos guiam. Não dá para segurar seus impulsos.”
Casos famosos que cobriu, como a entrevista com uma participante da seita de Charles Mason, revelam a Joan arguta e perspicaz, mergulhada na contracultura típica da época, onde o lema ‘paz e amor’ estava em voga, ladeado por drogas, sexo e rock.
Na verdade, ela fala não somente do desaparecimento de John e Quintana, mas paralelamente dos locais por onde andou, como Califórnia e Nova Iorque. De aparência frágil, supermagra (chegou a pesar inacreditáveis 34 quilos!), também se deu bem como roteirista de cinema, nos anos 70-80, e autora teatral. Duração: 96 minutos. Cotação: ótimo.