Doutrinador (publicado originalmente em 4/6/2022)
O filme ‘O Doutrinador’ (2018, na íntegra no youtube – também virou seriado) é inspirado nos quadrinhos homônimos do desenhista Luciano Cunha, lançados a partir de 2013. A premissa é a mesma: decepcionado com a corrupção que apodrece o poder no Brasil, um militar arregaça as mangas e resolve, por sua conta, extirpar esta espécie de pessoa do país.
E o começo, claro, se dá pelos políticos graúdos entocados em Brasília, principalmente. A ideia de Cunha foi burilada entre 2007 e 2008, colocada de lado depois, e retomada em março de 2013. Ainda não tinha a vestimenta oficial e os nomes dos políticos assassinados eram reais, vejam vocês.
Após 3 meses, nas manifestações de junho, o gibi foi lançado e o sucesso, instantâneo: Cunha, ex-esquerdista (votou no Lula de 1989 a 2002) que hoje se define como autor conservador, criara o anti-herói propício. Na fita, dirigida por Fábio Mendonça e Gustavo Bonafé, depois de se desiludir com a carreira policial (eles prendem, a justiça solta) e ver a filha morrer por bala perdida,
Miguel, agente da federal, bola um ambicioso plano: matar, um por um, os símbolos da corrupção verde-e-amarela. Para não ser identificado, usa máscara de gás. Suas ‘atividades’ despertam a fúria nos homens públicos, como o desonesto deputado Antero Gomes e sua trupe, e satisfação no povo sem esperança.
Tudo isso perto da eleição presidencial. Tanto o longa como os gibis são produtos da chamada ‘nova direita’, emergida exatamente nas chamadas ‘Jornadas de Junho’. Cunha, ex-funcionário de Ziraldo, é crasso exemplo do covarde e vil ‘cancelamento’ por que passam estes artistas que aderem ao campo destro (aliás, nome de mais uma criatura idealizada pelo desenhista – as histórias têm 2 volumes).
Quando Lula foi solto, em 2019, o desenhista postou nas redes sociais o cartum do Doutrinador esmurrando-o. As HQ’s já faziam sucesso, inclusive internacional. A militância vermelha não o perdoou. A característica pusilânime dessa gente é não citar o cancelado, para ver se, dessa forma, ‘caia no esquecimento’. O filme seria lançado bem no meio dos turnos presidenciais de 2018, mas a produtora adiou a estreia duas vezes. Duração: 108 minutos. Cotação: bom.