A grande confusão (publicado originalmente em 11/12/2021)
O clássico noir 'Chinatown' (1975), na cabeça do roteirista Robert Towne, seria o capítulo 1 da trilogia de Gittes (Jack Nicholson). Vendeu a ideia ao xará Evans, produtor do original, que acatou: Towne redigiria, dirigiria e faria uma ponta na tal continuação. Os problemas iniciaram logo.
O faz-tudo tinha talento zero à interpretação. Os desentendimentos se multiplicaram. Evans, sem alternativa, demitiu Towne do projeto, que foi engavetado. Nicholson observava os fatos à distância. Em meados da década de 198O sugeriu a outro produtor, Dino de Laurentis, financiar o longa (talvez prevendo o dinheirão que receberia por 'Batman' - 1989: cerca de US$ 6O milhões!).
Towne retornou, mas sem dizer palavra a Evans. Brigados, o começo da filmagem se deu sem o script finalizado, o que atrasou o cronograma. Nicholson, na direção e de novo na pele de Gittes, ficou perdido no set. Assim foi o parto a fórceps de 'A Chave do Enigma', lançado em agosto de 199O.
Na trama, passada 11 anos após o envolvimento do detetive com Evelyn Mulwray (Faye Dunaway - quem leu a biografia do ator conhece os sopapos trocados por ambos nos bastidores de 'Chinatown'), 1948, Gittes é veterano de guerra, está rico e é bem-sucedido. Pega o caso de Berman (Harvey Keitel), que suspeita da traição da esposa. O que o investigador não sabe é que por trás estão espúrias tramoias que têm o petróleo como pano de fundo.
'A Chave do Enigma' tenta ter ingredientes do antecessor, porém, por mais que se esforce, passa longe. Como era de se supor, o roteiro caótico estorvou a produção. Nicholson provou que como diretor é excepcional ator: fincou a mão na história e deixou o elenco engessado, obrigado a 'somente atuar', como robôs que só cumprem obrigação.
O trauma foi tanto que nunca mais exerceu a função. Desta fita até 'Marta Ataca!' (1996) o ator participou de fiascos como 'Cão de Guarda' (1992), 'Lobo' (1994), 'Acerto Final' e 'Sangue e Vinho' (ambos de 1995), com exceção, claro, de 'Questão de Honra' (1992). Voltou ao topo com 'Melhor é Impossível' (1997), levantando a estatueta de melhor ator. Duração: 138 minutos. Cotação: regular.