A profecia de Yehuda: o Golem (publicado originalmente em 31/7/2021)
Em 29 de outubro do ano passado foi comemorado o centenário de lançamento de um dos filmes mais conhecidos do Expressionismo Alemão: ‘O Golem: Como Veio ao Mundo’.
Dirigido por Paul Wegener e Carl Boeser, é baseado no livro de 1915 de Gustav Meyrink. Na história, em meados do século 19 uma comunidade judaica de Praga, Tchecoslováquia, é ameaçada por um decreto do imperador, que manda-a sair de suas casas e obriga-a a partir. Na tentativa de salvar o seu povo da desgraça, o rabino Loew dá a vida ao Golem, criatura antropomórfica do folclore judaico feita por mãos humanas a partir do barro.
A lenda tem raízes no Talmude e está presente em tratados de filósofos judeus da Idade Média. Entretanto, o Golem conhecido fora dos círculos religiosos foi o personagem gigantesco que teria sido criado em Praga pelo rabino cabalista Yehuda Löw (1525-1609) para defender a comunidade judaica de ataques antissemitas. O rabino lhe dava vida ao inserir na boca um papel com a palavra hebraica ‘emet’ (verdade).
Mas o Golem, mais tarde, teria se voltado contra o criador. Há aqueles que elucubram que a manifestação deste ser incomum foi uma antevisão do que viria a ser o nazismo na Alemanha, com a morte de milhões de judeus nas décadas de 1930 e 40. Na fita, o próprio Wegener encarna o Golem, com seus trejeitos de Frankenstein misturados ao robô de ‘Metrópolis’ (1927).
Foi a terceira versão do longa – as outras duas, de 1915 e 1918, hoje estão perdidas e ambas também foram dirigidas por Wegener. É sempre bom lembrar que o Expressionismo germânico começou após o desfecho da Primeira Guerra (1914-18), com o país totalmente destruído pelas hostes inimigas e com a sensação de desesperança impregnada nos poros daquele povo.
‘O Golem’ se sobressai naquelas características típicas das obras desta fase: cenários sombrios e tortos, personagens macabros e que se deixam corromper, e um ar de comiseração que trai os que desejam ser bons. Todavia, o filme não chega perto do espetacular ‘O Gabinete do Doutor Caligari’ (1920), referência até hoje quando falamos, por exemplo, sobre plot twist. Duração: 79 minutos. Cotação: bom.