Típico enredo (publicado originalmente em 10/7/2021)
Quem é fã do Mestre do Suspense, sir Alfred Hitchcock, sabe sobre o seu fanatismo acerca de enredos que dão a entender que determinado personagem se mostra culpado à primeira vista e, no desfecho do filme, descobrimos ser ele apenas um mero ingrediente de sabor duvidoso do script.
Sabe ainda ser o cineasta um obcecado por suas figuras femininas e em transportar enredos de livros às telonas. Em ‘Suspeita’ (1941) temos um pouco de tudo isso.
É baseado nas páginas de ‘Antes do Fato’, de Anthony Berkeley, tem a atriz Joan Fontaine como protagonista (na época, na flor dos 23 anos) e uma trama que permeia essa mesa farta de reviravoltas: Johnny Aysgarth (Cary Grant) é um charmoso playboy, inveterado jogador que vive pedindo dinheiro emprestado.
Ele casa com a tímida Lina McLaidlaw (Joan), rica herdeira. Após a lua-de-mel, ela começa a desconfiar do caráter do marido, quando o parceiro e amigo de Johnny, Beacky (Nigel Bruce), é morto misteriosamente.
Ela suspeita de Johnny e teme que possa ser a próxima vítima. Alma Reville, esposa de Hitchcock, foi uma das autoras do roteiro, ao lado de Samson Raphaelson e Joan Harrison. Alfred havia se mudado aos EUA em 1939 e amealhado sucessos de bilheteria rodados lá, como ‘Rebecca’ (que ganhou o Oscar de melhor filme) e ‘Correspondente Estrangeiro’. ‘Suspeita’ tem história inglesa e o diretor expõe seu lado mais cortante.
A química do casal Cary-Joan é notada desde a primeira cena da fita, no vagão de trem, quando Johnny aplica o primeiro de seus pequenos golpes em Lina. A participação especial de Nigel incrementa o longa-metragem e faz com que o espectador pense algo e depois repense.
Na festa do Oscar de 1942, Joan levou a estatueta – a única a ganhar por um filme de Hitchcock. Outro chamariz ao bom enlace é o uso de poucos coadjuvantes (há uns 3 ou 4 apenas) e a trilha sonora impactante (também indicada ao Oscar, como o filme em si).
‘Suspeita’ é o pontapé inicial na parceria do diretor com Grant, cujo ponto alto, para mim, se dá em ‘Intriga Internacional’ (1959). Duração: 100 minutos. Cotação: bom.