Rua do Lavradio, 98 (publicado orginalmente em 3/7/2021)
O endereço do título é o de um dos maiores jornais que este país conheceu: a Tribuna da Imprensa (T.I.), fundada em 1949 por Carlos Lacerda.
A partir de 1962 (até 2008) seguiu sob Hélio Fernandes, irmão de Millôr. Hélio, que chegou ao centenário em 11/1/2021 (há quem diga que foi em 17/10/2020) morreu em 10 de março, vigiado pelos seguidores do Facebook, rede social que adentrou há 3 anos.
Sou repetitivo, mas bato na mesma tecla: o (a) jornalista novato (a) não sabe quem foi Hélio, que acarinhou a informação durante 82 anos de carreira.
O jornalista Mário Rezende lançou, na comemoração dos 100 anos, o documentário 'Confinado', que narra as prisões (ou confinamentos?) de Hélio na década de 1960, uma delas em Pirassununga, terra natal de Rezende. Está na íntegra no youtube.
O ponto de partida é a inspiradora foto onde estão abraçados Hélio e os filhos. O retrato, de Alberto Jacob (Jornal do Brasil), é de 1969, no Aeroporto Santos Dumont (RJ). Hélio retornava após período preso em Campo Grande (MS).
'Seu pai estava preso porque falava coisas que os outros não queriam ouvir', lembra a filha Ana Carolina a frase dita por parentes. O filme trata também da trajetória de Hélio que, em maio de 2019, no alto dos 98 anos, vibrava ao revelar exercer a profissão há oito décadas, desde 1939! 'Passei a vida escrevendo. Só fui jornalista.'
Enfrentou o governo João Goulart (1961-64) - foi preso em 1963 por publicar carta do ministro da Guerra atacando Lacerda. Apoiou 64, mas depois se voltou contra. A Tribuna era audaciosa.
O futuro, após o endurecimento do regime, era fácil de prever: perseguição, prisão e censura no governo Castello Branco (1967-69). 'Um dia me encontrei com Jarbas Passarinho, que deu a ideia de eu ser preso em Noronha. Disse que era seguro: eu não correria risco de ser morto porque lá era longe para chuchu. O STF votou pela soltura, mas Castello ordenou para me manter na cadeia, mesmo sem condenação jurídica'.
Nos tempos idos, jornalistas eram presos a mando do presidente e o STF tentava soltar. Duração: 30 minutos. Cotação: ótimo.